-Há...Há algo muito errado com Trevor. - Ele ouviu a voz de Will, alerta. Sua cabeça começou a doer mais do que já estava. O que havia de errado com seu irmãozinho?
-O que?! - Arthur ouviu sua mãe perguntar.
-Rápido! - foi a última coisa que ouviu o amigo falar. Ele ouviu passos e a porta se fechando. Mas sentiu um aperto na mão.
Amy.
-O que...?
-Não sei - ela respondeu - Mas fique calmo, vai ficar tudo bem.
Arthur sentiu o coração bater forte. Depois de tudo o que passaram... Pensamentos perturbadores passaram por sua cabeça. Trevor estava bem, tinha que estar.
-Arthur. - Amy falou, a voz firme. - Acalme-se
-Não consigo, eu não consigo. O que está acontecendo? - Suspirou, mas percebeu que sua respiração estava trêmula.
-Eu não sei, mas posso checar, se quiser.
Ele assentiu, e sentiu a mão dela deixar a sua. A ansiedade o envolveu por completo, Arthur não tinha a menor ideia do que poderia estar acontecendo, não conseguia ouvir nada que poderia estar acontecendo no corredor, não havia como sair da cama, e mesmo que houvesse, ele não saberia se guiar.
Não poderia dizer quantos minutos se passaram até que ouviu a porta se abrir novamente.
-O que aconteceu? - perguntou, a voz trêmula.
-Arthur...Algo deu errado na cirurgia. - ela respondeu, e ele sentiu sua mão ser apertada novamente.
-Na cirurgia? Mas ele apenas quebrou o braço! - ele falou, desesperado. Não era a primeira vez que Trevor quebrava o braço, Arthur lembrava-se bem das duas vezes em que ele e os pais trouxeram o caçula as pressas para ter o braço engessado, e que não passaram mais de dois dias no hospital. Tudo sempre fora muito tranquilo.
-Eu não sei como te dizer, mas... O que eu vi, era... Tinha muito sangue. - ela falou lentamente. A mente de Arthur parou de funcionar ao ouvir aquelas palavras. Sangue?
Ele escutou as máquinas que mediam seu pulso apitarem, seus batimentos acelerados, a mente girando. Ele ouviu seu próprio nome, mas estava tão longe... Memórias encheram sua mente, de sua infância, de quando Trevor nasceu e ele morreu de ciúmes do novo bebê, de quando os quatro saíam de casa em manhãs quentes, pouco após o acidente, procurando atividades para animar Arthur. Lembrou-se do irmão o ajudando e admitindo que a pessoa que mais confiava no mundo inteiro era Arthur.
Estava tão ocupado com as memórias que nem percebeu quando o mundo se calou à sua volta.
§
Trevor abriu os olhos e percebeu que se encontrava em um quarto de hospital. Se lembrou de tudo o que se passara nos últimos dias e tudo fez sentido, tentou mexer o braço que havia machucado e notou que estava engessado. Olhando ao redor, notou a bolsa de sua mãe na pequena cama que havia perto da porta. Sentiu-se aliviado, seus pais estavam ali. E seu irmão finalmente estava recebendo os cuidados apropriados.
Sentindo um peso ser retirado de suas costas, Trevor se permitiu relaxar, e viu a porta se abrir. Uma pessoa passou pela porta, o rosto coberto por uma máscara e uma toca, como um dentista. Mas esse indivíduo não usava um uniforme hospitalar. Trajava uma jaqueta bege com uma blusa xadrez por baixo e jeans ordinários. As mãos estavam enluvadas, e na mão esquerda segurava uma seringa com um líquido transparente.
-Olá, Trevor - ele escutou a voz masculina.
-Quem é você? - foi o que Trevor tentou falar, mas sua voz não passou de um sussurro.
-Bem, não vejo motivos para continuar me escondendo, já que você não vai poder contar a ninguém mesmo.
Trevor franziu as sobrancelhas. Do que ele estava falando?
Sua pergunta foi respondida quando o homem colocou a seringa em sua veia e inseriu a substância em seu organismo. Seus movimentos eram rápidos e a mente de Trevor ainda estava em repouso. Veneno. O jovem arregalou os olhos, e sua respiração acelerou. O homem desligou os aparelhos que monitoravam os batimentos e riu.
-A qualquer momento agora - disse o envenenador, e Trevor sentiu seu peito doer, em seguida, um gosto metálico em sua boca. Sangue.
-Nos vemos em outra vida, Trevo de folhas. - e ele tirou a máscara. E o mundo de Trevor parou. Como ele poderia fazer isso com ele?
Trevor tossiu e sangue escorreu pelo seu queixo, quando percebeu, o homem não estava mais lá.
A última coisa que ouviu foi o barulho da porta se abrindo.
Dizem que, quando você morre, você vê toda a sua vida passar por seus olhos. Mas não foi isso que Trevor viu.
Tudo era branco e silencioso. E havia uma escada que levava até uma porta.
Ele sabia que, se subisse as escadas e abrisse aquela porta, não poderia voltar. Olhou em volta, mas não encontrou nada. Para que voltar? ele ouviu a própria consciência Você ia ter uma vida difícil mesmo.
Trevor sabia que ouvir essa voz iria provar que era um covarde e que estava apenas indo pelo caminho mais fácil. Mas ele também tinha o direito de desistir, não tinha? Ele era humano como todos os outros. Afastou os pensamentos de vergonha e de derrota, e pisou no primeiro degrau.
Sua música favorita começou a tocar.
Segundo degrau. O cenário mudou.
Agora, ele estava numa colina, e lá no topo, estava o chalé onde ele e sua família costumavam passar os verões.
Subiu mais um pouco, e ouviu uma risada.
Animado, começou a correr pela colina e abriu a porta do chalé.
Todos estavam lá, sua família, seus amigos. Seus pais estavam mais radiantes do que nunca, Seu irmão não usava os típicos óculos escuros, e Trevor não fora capaz de encontrar a bengala dele. Seus olhos brilhavam, e não pareciam perdidos. O mais novo sorriu.
Will estava lá também, estendendo a mão para ele.
-Bem vindo, Trevor. Bem vindo ao seu paraíso.
§
Ele ouviu o grito. O grito feminino e estridente, o grito quebrado que ele esperava. O grito que uma mãe emite quando perde um filho.
Os médicos tentaram reanimar o jovem ensanguentado, haviam pessoas apreensivas no corredor. Orando pelo menino que teria uma vida pela frente, orando para que ele pudesse ter essa vida.
Por dez minutos, ele viu os médicos aumentarem a voltagem de um aparelho, sem sucesso. Até que desistiram.
-Hora da morte:18:43.
Ele sorriu, e saiu das sombras, as lágrimas propositais ameaçando sair dos olhos.
Boa noite, Trevo de folhas.
Boa. Noite.
<3 BOM FIM DE SEMANA PARA VOCÊS. Não esqueçam de deixar seu comentário <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ele não é tão Cego Assim
RomanceArthur Harrinson não nasceu cego. Ele havia visto as cores, a face de seu irmão, sua mãe e seu pai, era um menino saudável, ninguém nunca pensou que algum dia o menino fosse estar em um carro, logo na hora que um caminhão em alta velocidade perde o...