Ele escutou a voz de sua mãe do outro lado da linha, baixa e rouca, até mesmo embargada, perguntando como estava, se estava se alimentando direito, se estava seguro... Arthur disse o que ela precisava ouvir, e não o que era real. Mentir para ela foi difícil, mais do que imaginava. Arthur nunca mentia para a mãe. Nunca. A sensação de culpa e traição que sentia ainda lhe era incomum, mas continuava dizendo a si mesmo que estava fazendo a coisa certa.
-Fique bem, querido - ela disse - estaremos de volta em cinco dias
-Você também, mãe. - respondeu, tocando os objetos espalhados pela escrivaninha.
-Eu te amo. - Arthur sorriu.
-Eu também. - e ela desligou.
Arthur colocou o celular na mesa, passou as mãos no rosto, sentando-se em sua cama logo depois, quase não conseguia se lembrar de quando sua vida não era uma completa bagunça.
-Tem certeza que consegue fazer isso? - Will perguntou, depois de alguns segundos. Eles estavam conversando sobre o plano praticamente suicida que Louisa havia lhes apresentado antes da ligação.
-Pela terceira vez, Will. Sim. - ele respondeu
-Só estou preocupado. Se alguma coisa acontecer com você, eu não sei o que faria.
-Nada vai acontecer - Arthur garantiu, incerto das próprias palavras - Nós vamos prender aquele desgraçado.
-Tomara. - disse Will, baixinho.
-Quando vamos fazer isso mesmo? - Arthur perguntou.
-O mais cedo possível, talvez sexta, de acordo com o que ela disse.
-Sexta é em dois dias. - A ansiedade de Arthur voltou rapidamente, o medo de tudo dar errado veio junto. Não sabia o que Ray queria, Não sabia por que ele estava fazendo o que estava fazendo, tinha medo que, se morresse, o primo começasse a atormentar seus pais, Will, ou até mesmo Amy.
Não podia deixar que nada acontecesse com nenhum deles.
Então, ele escutou o barulho da chave destravando a porta principal.
-Ray? - Will perguntou, imaginando se era o ruivo quem estaria chegando.
-Acha mesmo que dei a chave à ele? É Amy.
-Ah. - e foi tudo o que disse.
-Meninos? Cheguei. - ouviu a voz dela, e se levantou, saindo do quarto, e colocando um sorriso na própria face.
-Oi, Amy. - ele disse, e sentiu os braços dela o envolverem, ele retribuiu o abraço e beijou o topo de sua cabeça, ela cheirava a camomila e morangos.
-Oi - ela respondeu, e desenterrou a cabeça do ombro dele. - Oi Will.
-Tudo bem? - Will cumprimentou-a e Arthur ouviu os passos dele se aproximando.
-Sim, e com você?
-Ótimo - passaram-se alguns segundos de silêncio - Noossa, olha a hora! Eu tenho que ir ao dentista. Bom dia para vocês.
Arthur riu, Will sempre falava que tinha dentista quando queria sair de algum lugar.
-Bom dia, Will. - se despediu do amigo.
Depois que ele fechou a porta, Arthur e Amy se acomodaram no sofá. Ele deitou sobre o colo dela, e Amy brincava com seus cabelos.
-Então, como foi na casa da sua amiga? - ele perguntou.
-Bem, na medida do possível. Só saí de lá quando a convenci de ir à polícia.
-Ir à polícia? Por que?
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Ele não é tão Cego Assim
RomanceArthur Harrinson não nasceu cego. Ele havia visto as cores, a face de seu irmão, sua mãe e seu pai, era um menino saudável, ninguém nunca pensou que algum dia o menino fosse estar em um carro, logo na hora que um caminhão em alta velocidade perde o...