Amy sentia-se desconfortável com o silêncio da sala onde estava. A fisioterapeuta fazia diversos exercícios com suas pernas, e a ansiedade da jovem apenas aumentava, pois ainda não conseguia sentir nada.
A mulher, notando o nervosismo da garota, deu um sorriso simpático:
-Não se preocupe, querida. – Disse – Logo estará andando novamente, mas precisa ser paciente, essas coisas levam tempo. Com Otimismo, em um ano já estará novinha em folha.
-Obrigada. – Amy respondeu, logo olhando para a janela que dava para o corredor, onde Arthur estava sentado, os fones nos ouvidos, esperando que a sessão terminasse. Tia Nancy também estava lá, o rosto transmitindo a impaciência, enquanto folheava uma revista velha.
-É seu namorado? – a fisioterapeuta – Penny – perguntou.
Amy assentiu.
-Sim.
A profissional olhou para a bengala de Arthur, que ele segurava, e para a cadeira de rodas a qual Amy estava presa – temporariamente, ela pensou – e voltou a encarar a paciente, os olhos divertidos.
-Casal incomum, vocês dois. – Amy sorriu.
-Assim eles dizem.
Ela passou mais vinte minutos lá dentro, tentando suprimir a frustração que sentia e manter a esperança de que aquilo era passageiro. Mas o E se... sempre voltava, E se os médicos estivessem errados, e se ela nunca mais sentisse as pernas?
E ela não contava para ninguém, pois não acreditava que pudessem entender.
§
Ela saiu da sala sendo empurrada por Penny, e sua tia levantou-se subitamente, batendo a revista no ombro de Arthur com força. Ele se sobressaltou e tirou os fones, franzindo as sobrancelhas na direção da mulher. Amy riu, e ele virou a cabeça na direção dela, sorrindo logo em seguida.
-Como foi a sessão? – ele perguntou.
-Boa, acho. – ela respondeu, vendo que Penny a encarava discretamente – Principalmente quando se tem uma profissional como a Penny, aqui.
A fisioterapeuta sorriu, orgulhosa. E se dirigiu à Tia Nancy:
-Não esqueça de dar a ela a medicação prescrita, e sugiro que tente fazer os seguintes exercícios com ela – a fisioterapeuta estendeu um papel para a tia, que começou a ler, assentindo. E Penny, então, se dirigiu à Amy, com o sorriso simpático – Nos vemos quinta-feira?
-Claro. – E ela foi embora.
Nancy guardou o papel na bolsa e começou a empurrar Amy para fora da clínica. Arthur estava logo atrás, e Amy viu quando uma funcionária se ofereceu para guiá-lo até a saída. Por se oferecer, ela quis dizer que a moça começara a segurar o braço dele e puxá-lo, sem o mínimo consentimento de Arthur.
Amy sentiu raiva. Ou eram ciúmes? A garota era linda! Alta, morena, magra, com cabelos longos e lisos que terminavam em cachos. Seu sorriso era brilhante, e usava uma roupa que Amy nunca ousaria experimentar.
Sua tia, reparando no desconforto da sobrinha, sussurrou em seu ouvido:
-Sorte a sua que ele é cego.
Amy não tinha certeza se a mais velha havia dito aquilo para acalmá-la, ou para desprezá-la.
A funcionária só soltara o braço do namorado de Amy quando chegaram no carro de Nancy. E Amy ficou aliviada quando ela fora embora.
-Muito bem. – Nancy disse, abrindo a porta do banco do passageiro – Arthur, ajude-me a pôr Amy no banco.
Ele assentiu e se dirigiu até elas, tocando o carro para ter noção de espaço, depois, a segurou pelos braços enquanto a tia puxava pelas pernas, e, logo em seguida, Amy estava acomodada.
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Ele não é tão Cego Assim
RomansaArthur Harrinson não nasceu cego. Ele havia visto as cores, a face de seu irmão, sua mãe e seu pai, era um menino saudável, ninguém nunca pensou que algum dia o menino fosse estar em um carro, logo na hora que um caminhão em alta velocidade perde o...