Amy não sabia lidar com pessoas chorando, mas ela preferia que Arthur estivesse chorando. Nesses 5 dias que se seguiram desde o falecimento de Trevor, ele não falara absolutamente nada. Nem uma única palavra.
Foi Ray quem deu a notícia.
Quinze minutos se passaram desde que ela dissera a Arthur o que vira: Trevor estava pálido, muito pálido, seu queixo estava vermelho. Ela vira Kate apoiada nos braços de Fred quando os médicos entraram no quarto com o desfibrilador. Ela não queria ver aquele processo, e entrou no quarto novamente; Ela disse a Arthur que ainda havia esperança, mas ele não disse nada.
Quando Ray entrou, os olhos azuis cheios de lágrimas. Amy soube o que acontecera, e não queria falar para Arthur, não queria precisar dar uma notícia tão ruim. Ela deu um olhar suplicante para o ruivo, que assentiu.
-Arthur... - ele disse - Sinto muito.
Ela viu os ombros dele ficarem tensos, ele fechou os olhos e, lentamente, assentiu.
Amy não sabia o que pensar. Quando o pai dela faleceu, ela gritou e se debateu. Ela se lembrava do mundo caindo ao seu redor.
Talvez Arthur sentisse a mesma coisa, mas ela não conseguia ler suas emoções.
Faziam cinco dias. Cinco longos dias. Arthur já havia saído do hospital e voltara para seu apartamento, Amy, Will e Ray se voluntariaram para ficar com ele, já que Kate e Fred decidiram que era muito doloroso ir para casa naquele momento, onde as coisas de Trevor ainda estavam por todo canto. Eles levaram o avô de Arthur com eles para passar uma semana em outra cidade. Eles haviam perguntado se Arthur gostaria de ir com eles. Ele apenas balançou a cabeça negativamente.
Durante esses dias, Amy, Will e Ray faziam companhia a Arthur, davam os remédios que ele precisava tomar para que os machucados melhorassem.
Nenhuma palavra saíra da boca do namorado.
Naquela noite, Will e Ray saíram para comprar comida em algum lugar. Eles também estavam tremendamente abalados. Nos primeiros dias, ela encontrou Will soluçando.
Enfim, alguns minutos após eles saírem, Amy estava na sala de estar, assistindo a um filme antigo que encontrara entre as coisas de Arthur, quando ouviu uma porta se abrir, e passos.
Era Arthur, ele ainda estava de pijama, e caminhou até o sofá onde Amy estava sentada, e se acomodou ao lado dela. Ela não disse nada, porque não sabia o que dizer.
-Que filme está assistindo? - ele perguntou, era a primeira vez que Amy o ouvia falar
-Pacto de Sangue - ela respondeu - dirigido pelo Billy Wilder.
-Já ouvi falar - Arthur respondeu - Foi um dos pioneiros nos filmes noir.
Ela sorriu, um pouco. Sempre se impressionava com as coisas que Arthur sabia sobre cinema. Mesmo quando ele a ensinava.
-Foi, sim.
-Está gostando?
-Sim, muito.
-Que bom - ele suspirou ao seu lado, e ela encarou sua face. Seus olhos estavam descobertos pelos óculos, estavam vermelhos, mas era da insônia que ele estava tendo.
-Como está se sentindo? - ela perguntou, após alguns minutos.
Ele abaixou a cabeça.
-Honestamente, sinto um conjunto de coisas. Sinto culpa, e raiva, e tristeza, e saudade.
-Culpa?
-Eu sou - era - um irmão mais velho. Eu deveria ir primeiro, não deveria? Não é justo. - ele se virou para ela, e seus olhos estavam molhados - Ele tinha um propósito, sabe? Queria salvar pessoas, realizar milagres. Ele merecia viver muito mais do que eu. Sinto culpa por eu estar aqui e ele não.
-Você não tem culpa de nada. - Amy disse, e acariciou a bochecha dele - Se está aqui, é porque você ainda tem muita coisa para fazer e viver, e se ele se foi, é porque ele já deixou a marca que ele precisava deixar.
-Ainda não é justo. Eu... Eu sinto tanto a falta dele, e todas as noites, eu espero a porta do meu quarto abrir e ouvir a voz dele me chamando para jogar alguma coisa, como ele fazia poucos anos atrás. E, ao mesmo tempo, tenho medo de que ele apareça, porque ele merecia estar aqui, e não eu.
-Pare de dizer isso. - ela sussurrou - Não é verdade.
Ele levantou a cabeça, e, pela primeira vez, os olhos dele olharam diretamente nos dela. E, mesmo sabendo que ele não tinha noção disso, seu coração acelerou.
-Eu tembém sinto raiva, raiva da pessoa que fez isso com meu irmãozinho, e eu sinto uma vontade de me vingar, mas eu sei que ele não iria querer que fizesse isso.
-Não há nada de errado com isso.
-Eu só queria que ele estivesse aqui. - e as lágrimas começaram a descer por sua face. E Amy o abraçou com força. A dor da perda é a pior dor que pode ser sentida. Você sente um vazio que sabe que jamais será preenchido. É como seu uma peça de um quebra-cabeça fosse perdida. Você poderia até tentar encaixar outra peça para substituir, mas nunca seria igual ou perfeito como era antes.
-Eu sei, eu sei. - ela o consolou, acariciando os cabelos dele, enquanto sentia sua respiração trêmula. - Não posso dizer que vai passar, porque não vai. Mas com o tempo, você se acostuma.
-Como pode saber disso?
-Porque eu já passei por isso. O meu pai... Ele morreu quando eu era mais nova, e eu fui morar com minha tia e Giny. Nos primeiros meses, eu não conseguia conversar direito com ninguém, porque tudo parecia lembrar ao meu pai. Uma hora específica, uma piada, uma história... Eu pensei que meu mundo tinha acabado.
"Mas eu tive esperança, de que um dia tudo ia melhorar e que eu ia realizar o meu sonho e que eu iria ser feliz, como meu pai queria que eu fosse. Aprendi a me virar sozinha. E, honestamente, nunca pensei que eu fosse conhecer alguém por quem eu fosse me preocupar, e me divertir, e amar tanto quanto meu pai. Até conhecer você, Arthur, Eu só quero que saiba que não está sozinho e que eu sempre vou estar aqui. Mesmo quando você quiser me afastar."
Então, ele a beijou como nunca tinha a beijado antes, e ela percebeu que aquela era a primeira vez que faziam isso desde que ele voltara. Foi um beijo faminto e carinhoso, e Amy se sentiu como se estivesse em outro mundo, um mundo sem maldade, sem assassinos desconhecidos e pessoas que se foram. Um mundo onde só existia ela e Arthur, e nada mais.
E quando ela se desfez desse mundo, e voltou para a realidade, sentiu um peso em seu coração.
-Obrigado. - ele disse, suas testas estavam coladas - Por tudo.
Ela assentiu e beijou a testa dele.
-Você não está sozinho.
-Agora eu sei disso.
§
Amy adormeceu no final do filme.
Sua cabeça estava no peito dele, e Arthur ouvia as últimas falas de Neff para Keyes. Ele podia sentir a respiração calma de Amy contra si, e isso o deixava mais calmo.
Então, ele ouviu seu telefone tocar.
Arthur não tinha certeza, mas devia ser tarde da noite.
Com cuidado, ele se levantou e acomodou Amy no sofá de uma maneira que parecia se rconfortável, e andou em direção ao som. Ao encontrar o aparelho, atendeu a ligação.
-É Arthur Harrinson?
-Sim... - respondeu, desconfiado - Quem fala?
-Meu nome é Louisa Brandon. - a voz respondeu - E precisamos conversar.
FELIZ DIA DOS PAIS, PESSOAL <3 Eu sei que eu disse que postaria sexta, mas minha prima me chamou para a casa dela e eu acampei lá por uns dias, sem pc. MAS CHEGUEI :)) Espero que tenham gostado. Não esqueçam de deixar um comentário e até a próxima semana <3
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Ele não é tão Cego Assim
RomanceArthur Harrinson não nasceu cego. Ele havia visto as cores, a face de seu irmão, sua mãe e seu pai, era um menino saudável, ninguém nunca pensou que algum dia o menino fosse estar em um carro, logo na hora que um caminhão em alta velocidade perde o...