22. BENJAMIN

21.2K 2.2K 341
                                    

Meus olhos estavam atentos à pintura da parede. Tratava-se de um quadro abstrato, com poucas cores neutras. Voltei minha atenção à porta assim que Drª. Elena entrou. A mulher de cabelos grisalhos ocupou a poltrona à minha frente e sorriu. Ela posicionou seu caderno de anotações sobre o colo e me encarou.

— Como vai, Benjamin?

— Bem, obrigado.

Tentei relaxar, apoiando as mãos espalmadas sobre as coxas.

— Então, como andam as coisas com a sua esposa?

— Fala como se não a conhecesse — sorri.

— É meu trabalho agir dessa forma.

Era minha terceira sessão de terapia. A primeira foi no início da semana. Kat também começou e esperava que isso a ajudasse a superar todos os seus traumas. Sobre Katherine, ainda estávamos tentando lidar com as coisas que aconteceram em Paris. Trocamos pouquíssimas palavras ao longo da semana e não poderia negar que sentia sua falta.

— Ainda estamos mais afastados do que eu gostaria.

— Você sente falta de estarem próximos?

— Muito — suspirei.

— Já experimentou dizer o que sente?

— Sendo bem sincero, sim. Mas tenho medo que isso possa afastá-la ainda mais.

Continuamos falando sobre Katherine por mais alguns minutos, entretanto, não demorou a que entrássemos no tópico do jardim e como aquele lugar me afeta. A verdade é que o jardim ainda é uma lembrança dolorosa porque era o meu lugar favorito e o de mamãe também. Foi o principal lugar onde eu orei e pedi por sua cura, eu implorei e chorei muitas vezes pedindo que Deus não a levasse. E Ele levou.

Então, aquele jardim não lembra apenas a mãe que eu perdi, mas o Deus que não me ouviu. É claro que a questão espiritual tornou-se muito mais fácil depois de Katherine. Ela foi a solução que eu pedi ao Céu e reconheço o quando Deus caprichou nisso. Não poderia ser melhor! Agora, consigo começar a compreender que Deus possui formas de agir diferente daquilo que geralmente queremos.

— Tem alguma coisa que você deseje fazer no jardim?

Parei e pensei. Não tinha nada que eu realmente gostaria de fazer lá, pois ainda doía.

— Vou reformular: se você precisasse levar alguém ao jardim, quem levaria? — Drª. Elena questionou.

Não houve hesitação em minha resposta:

— Katherine.

Ela esboçou um sorriso tímido e assentiu, anotando algumas coisas em seu caderno.

— E o que faria com ela no jardim? Você disse na primeira sessão que logo após o casamento de vocês, sua esposa demonstrou interesse em cuidar do jardim.

— Não sei... Eu pedi que ela ficasse longe do jardim e ela respeitou isso — suspirei.

— Um sonho, talvez? — a mulher instigou.

Respirei fundo e pensei. Qual seria meu sonho naquele jardim? Vê-lo florescer melhoraria a decoração da casa, mas não poderia definir isso como um sonho.

— Tem uma coisa.

— Quer compartilhar?

— Eu casaria de novo no jardim. Com a Katherine. Do jeito que ela descreveu como perfeito — sorri ao lembrar-me do dia do nosso casamento, enquanto dançávamos uma música do Ed Sheeran.

Primeiro Amor • Livro 1 | Série Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora