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Eu não sei quanto tempo se passou depois que D entrou aqui me pedindo ajuda, mas ele não voltou, ninguém voltou. De tempo em tempo uma portinha se abre e por ela passa um prato com uma comida horrível.

Quero ir embora daqui, e logo, quero chegar em casa e abraçar meu pai, quero chorar com ele a morte da minha mãe e de Zara.

Meu pai. Ele deve estar muito ruim. Primeiro a esposa morre, depois uma filha é sequestrada e a outra é morta. Eu sinto sua dor, eu também sofro.

Só hoje, só por hoje eu queria ser como uma flor de plástico: não sentir falta de nada, não sentir falta de água, de ar, de sol ou de café, mas também não morrer.

Sou tirada dos meus devaneios por barulhos de tiros. Alguém bate na porta.

—Coloca a venda!— uma voz grita, é o D.

Coloco a venda correndo e ele entra. Ele se joga do meu lado na cama e me abraça.

—Vai ficar tudo bem— ele diz apressado —só fica calma, vai ficar tudo bem.

Mas eu nem sei o que está acontecendo.

Consigo sentir o cheiro dele. Se não me engano é um Malbec. Me lembro de Esron, no aniversário dele eu dei para ele um Malbec. Ele nunca usou, sempre disse que não gostava do cheiro.

Já Ágata deu pra ele um Boss que ele amou e nunca parou de usar. Penso no quanto fui trouxa, como eu nunca percebi a traição deles se tudo estava debaixo do meu nariz?

Você não repara que seu namorado e sua melhor amiga são amigos demais, pois amizade entre eles é o tipo de coisa que você quer que exista.

O mundo seria melhor e mais feliz se todos os namorados/noivos/maridos gostassem das amigas das namoradas/noivas/esposas, mas como perceber quando essa amizade passa a ter um significado maior?

Me desperto dos meus pensamentos quando os tiros ficam mais altos e D me aperta mais.

Sinto vontade de chorar mas me seguro, minhas mãos tremem e coloco dentro do bolso da blusa pra disfarçar.

—O que está acontecendo?— pergunto e não consigo evitar as lágrimas.

—Estão tentando matar a gente— ele fala, reparo que esta desesperado —eu não posso morrer Maia, ela precisa de mim.

—Você não vai morrer, D, você vai voltar pra ela.

Acho que é impressão minha, mas parece que ouvi ele chorar.

Quem deve ser ela? Acho que deve ser a pessoa por quem eles estão fazendo isso.

Não sei o quanto tempo passou mas os tiros acabaram.

—O que será que aconteceu?— pergunto.

—Vou lá ver— ele diz, mas ainda está com a mão no meu braço e mesmo sem poder ver ele eu o puxo para um abraço.

—Toma cuidado— digo baixinho.

—Eu vou- ele fala no meu ouvido e fico arrepiada.

Escuto a porta sendo aberta e fechada. Estou sozinha outra vez.

Escuto vários barulhos pela casa, parece que alguém está derrubando tudo porta a fora. Me encolho em um canto da cama e não paro de temer por D.

A porta é aberta, uma onda de medo enorme toma conta de mim.

—Vem vadia— um grita.

Meu cabelo é puxado com força e grito, sinto um tapa em meu rosto.

—Alô— escuto uma voz que claramente sai de um celular.

—Já te explicamos onde deve deixar o dinheiro seu velho babaca— uma voz masculina e muito estressada fala de dentro do quarto —você vai entregar logo ou quer uma parte da sua querida filha?

O aperto no meu cabelo fica mais forte, tento segurar as lágrimas mas não consigo.

—Eu vou te dar o dinheiro, só preciso de mais tempo— meu pai fala.

—Pai— grito aos choros.

—Você tem mais 24 horas- então ele encerra a ligação e me joga no chão.

—Manda o moleque cortar um dedo dela— um diz, acho que esse moleque é D.

—Isso não é demais?— outra voz pergunta.

—Não me importa, isso vai ser uma lição pra ele, só quer ficar protegendo essa vadia, ele tem que aprender que estamos sequestrando ela, não hospedando— a voz vai ficando mais baixa até a porta ser fechada e eu não consigo escutar mais nada.

**
Cansada eu acabo dormindo de venda mesmo, não parava de pensar no que o homem disse sobre D cortar um dos meus dedos e mandar para o meu pai.

—Ei— escuto uma voz —Maia, acorda— dedos tocam meu ombro e me balançam enquanto a voz continua me chamando.

—Oi— falo e me mexo para sentar.

—Você está bem?— D me pergunta.

D!

—D— digo desesperada —D, eles vieram aqui, disseram coisas horríveis.

—É, eu sei— ele diz.

Ele não fala mais nada, fico preocupada, quero saber se ele vai ter coragem de me cortar.

—D— o chamo baixinho —D.

—Oi— escuto sua voz muito perto do meu rosto e me sinto queimar.

—D, você vai fazer o que eles pediram?

—Eu não sei— ele fala, sua respiração fica mais acelerada e sinto ela no meu rosto.

—D, eu não quero mais sentir dor— digo com voz de choro —estou cansada de sofrer— uma lágrima escapa dos meus olhos.

—Eu também estou sofrendo com tudo isso— ele diz, sinto sua mão apertar a minha e o escuto chorar baixinho.

—Então por que não faz parar?

—Você sabe que eu não posso- ele aperta a minha mão mais ainda, seu hálito tem cheiro de menta.

—Então— falo após um tempo —o que você vai fazer?

Ele me beija.

Fico surpresa, enquanto uma de suas mãos aperta a minha, a outra ele coloca na minha nuca. Acho que beijar o meu sequestrador era uma coisa que eu nunca pensaria na minha vida.

Ele para o beijo e encosta a testa dele na minha.

—D— tento falar.

—Shhh— ele me interrompe —eu vou dar um jeito nisso —então se levanta e sai.

Apaixonada Pelo Meu Sequestrador (#Wattys2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora