Duas semanas se passou e pude sair do hospital. Aquele lugar era horrível, principalmente a comida que além de já ser ruim me obrigaram a comer dizendo que a recuperação seria mais rápida.
Tomo meu remédio. Me receitaram vários, para dores, anemia e até depressão além de algumas vitaminas. Até eu não sei como não entrei em depressão depois de tudo o que aconteceu.
Me olho no espelho, estou com olheiras terríveis por falta de sono. Eu não consigo dormir. Sempre que fecho os olhos vejo tudo de novo, tenho pesadelos todas as noites, tenho medo de dormir. É como se eles fizessem parte do meu respirar, não consigo dormir sem que eles me visitem.
-Vamos Maia- meu pai diz do lado de fora do meu quarto.
Nos mudamos de casa para ficar mais perto do lugar onde Zara faz tratamento, sempre tentamos ir ver e agora que meu pai está um pouco mais fora do trabalho sempre vemos o exercício mais importante: quando ela tenta andar sozinha mas com a ajuda das barras, claro.
Saio do meu quarto e entro no carro, a viagem é rápida e chegamos.
Sentamos em uma cadeira e olho para Zara, ela me olha de volta e dá um sorriso confiante. Ela se levanta e tenta andar, por um momento chego a acreditar que ela vai conseguir mas não consegue.
A mesma esperança de sempre é também, a mesma decepção.
Como de costume, depois dos exercícios meu pai vai embora e eu fico com Zara. Vamos até a lanchonete do lugar, ela pede um lanche e eu um suco de laranja.
-Não voltou a comer?- Zara me pergunta preocupada, se antes eu achava que ela era mais responsável que eu, agora acho que ela é minha mãe e eu um bebezinho.
Zara amadureceu muito depois do que aconteceu, parece que mudou a forma como a qual ela via o mundo.
-Não- repondo- mas estou tomando os remédios.
Vários dos remédios são vitaminas, não matam a fome mas eu não vou morrer de anemia ou desnutrição, além do mais eu não sinto mais fome.
-Se está tomando os remédios, por que está com uma aparência tão feia?
-Só me vesti mal, tá legal?- ela me olha com um olhar que diz que não era sobre essa aparência que estava falando- não estou nos meus melhores dias.
-Desde que saiu daquele lugar está assim- ela continua desconfiada- pensei que ficaria feliz em sair de lá e voltar pra casa, mas não, Maia por que não me conta tudo o que aconteceu lá?
Antes que eu desse mais alguma desculpa o garçom aparece com o lanche e o suco. Eu sempre dou uma desculpa qualquer quando alguém me pergunta sobre o cativeiro, isso é algo que nunca contei para ninguém, nem pra Zara, nem pro meu pai e nem pra psicóloga que estão me forçando a ir, talvez eu contasse pra minha mãe mas ela não esta mais aqui.
-Escutou o que eu disse?- Zara diz me tirando das alucinações.
-Não, desculpa, o que foi?
-O Paulo- ela me olha com um olhar safado.
-An? O que?- pergunto, não estou entendendo nada.
-O garçom sua idiota.
-O quê que tem ele?- pergunto e tomo um pouco do suco.
-Parece que ele gosta de você, não para de ohar pra cá, por que você não dá uma chance pra ele?
Me engasgo com o suco e cuspo tudo, depois começo a tossir.
-Maia, você esta bem?
-Estou- falo depois de me recuperar- você tem problema?
-Não, olha lá- ela olha para o balcão- ele é muito lindo.
Olho pra ele, ele está distraído atendendo um homem que tem uma filha de 5 anos que se trata aqui. O tal garçom, Paulo, é realmente lindo. Ele tem os cabelos pretos num corte que deixa eles para cima num topete bagunçado, tem a pele branca, olhos castanhos e usa aparelho, ele é alto e me arrisco a dizer que ele é "gostosinho".
-Se você acha isso tudo- digo me virando- por que você não fica com ele?
-Ele nunca vai gostar de uma garota como eu- ela fala triste- presa numa cadeira de rodas para sempre.
Consigo ficar mais triste ainda. Zara era aquele tipo de garota que sabia do poder que tinha, os garotos desejávam ela e ela ficava com quem queria. Agora não se ama mais por causa da cadeira de rodas e só de pensar que a culpa foi minha me sinto muito mal já que também não posso fazer nada pra ajudar.
-Não diga isso, você vai se recuperar, vai voltar a andar e ser como antes.
-Então, vai dar uma chance pra ele?
-Não- é minha resposta final.
**
Um mês se passou. O homem que ajuda Zara a parabeniza pelo bom desempenho nos exercícios e a motiva dizendo que está melhorando a cada dia que passa e que vai voltar a andar logo.Eu queria ter o mesmo otimismo que ele, já que não consigo ver melhora alguma em nenhum sentido, tanto na vida de Zara quanto na minha.
Eu preciso fazer alguma coisa pra mudar a minha vida, preciso entrar em alguma faculdade mas isso só vai ser possível ano que vem e meu pai não me deixa trabalhar. Além de que Zara parou de falar comigo e isso não está ajudando.
-Zara- a chamo- quando vai voltar a falar comigo?
-Quando der uma chance pro Paulo ou me falar tudo o que aconteceu naquele lugar.
Decido parar de lutar. A minha vida não tem sido nada boa, mas agora quando fecho os olhos não vejo mas a cena de Guilherme morto na minha frente com um tiro na cabeça, quando durmo os pesadelos não são tão ruins quanto antes e voltei a comer, não como antes mas voltei.
-Está bem- digo me rendendo- vou dar uma chance pro tal Paulo.
Ninguém sabe ou precisa saber o que aconteceu, então preciso passar pra eles a imagem da antiga Maia, aquela garota confiante que dava uma chance para caras gatinhos.
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Apaixonada Pelo Meu Sequestrador (#Wattys2016)
RomanceCom a morte repentina da mãe a vida de Maia começa a mudar mas esse não é o principal problema. Filha de um grande executivo, Maia é sequestrada e mantida em cárcere até o pagamento do resgate. Com o tempo, Maia conhece um dos sequestradores e sem p...