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Sinto o cheiro da grama fresca ao meu redor.

Isso me dá uma sensação de paz que a muito tempo não tenho, respiro fundo e esqueço todos os meus problemas, sinto que essa é a vida que eu sempre quis ter.

Paulo teve a ideia de me trazer ao parque e chamou Zara também e eu achei bem legal da parte dele.

Paulo colocou uma toalha sobre o chão e eu me deitei, já ele se sentou do meu lado com as pernas cruzadas e Zara ficou do outro lado em sua cadeira. Eu evito olhar muito pra situação dela, é meio agonizante.

Zara e Paulo conversam animadamente como se fossem super amigos já eu só olho pro céu. Vejo uma nuvem que se parece com uma tartaruga, acho engraçado já que os últimos dois dias se passaram muito devagar.

-Vai querer do que Maia?- Paulo me pergunta me tirando dos meus pensamentos.

-O que?- pergunto sem entender nada.

-Vai querer que sabor de sorvete?

-Limão- digo, ele se levanta e sai.

-O que está acontecendo com você?- Zara me pergunta.

-Nada- minto, na verdade esta acontecendo muita coisa comigo.

-Eu sei que está mentindo- ela continua- você não é mais você, só vive dentro do quarto, quando não esta escutando músicas tristes está chorando, não come, não dorme, não sorri, mal fala, e todo mundo sabe que você não gosta de sorvete de limão.

Tiro os óculos escuros que estou usando por causa das olheiras enormes que tenho e a encaro.

-Só estou cansada, Zara, é isso- falo e vejo Paulo que se aproxima, na mesma hora coloco os óculos de novo.

Depois da visita de Guilherme eu não dormi mais, isso já faz três dias. Fiquei muito confusa e na hora menti, falei que não o amava sendo que queria pular em cima dele e beija-lo como se não houvesse amanhã.

Vejo Esron e Ágata andarem de mãos dadas ao longe. Definitivamente eles se merecem. Eu queria que fosse diferente, queria que Esron tivesse namorado a Ágata e que nós ainda fôssemos amigos. Não que eu goste de ser amiga de pessoas como a Ágata que rouba o namorado da melhor amiga mas eu nunca saberia que ela é assim se eu não tivesse visto. Eu me acho muito boba e idiota.

Um carro para e alguém chama Paulo.

-É a minha mãe- ele diz- eu vou lá.

-Vai me dizer a verdade agora?- Zara insiste assim que Paulo sai.

-Tá bem- falo cansado dessa história- eu me apaixonei pelo meu sequestrador, tá legal? Amo um cara que nunca vi, amo Guilherme, o garoto que participou do assassinato da mamãe e morreu pra me salvar, amo ele e ele apareceu na porta de casa anteontem me pedindo desculpas e eu sou uma completa imbecil já que falei que não amo ele, e sabe o que é pior? Eu nunca mais vou ter outra oportunidade pra dizer isso porque ele se foi e eu não sei onde procurar, eu não tenho um número pra ligar, ou uma casa onde bater palmas entendeu?

Pessoas olham pra mim de boca aberta assim como Zara, Paulo também me olha, acho que falei alto demais.

Saio correndo pra casa enquanto choro. Quantas vezes é preciso ser forte e enfrentar aquilo que  nunca imaginamos passar? Quando é aceitável se resignar e parar de lutar?

Corro e tento atravessar a rua, ouço uma buzina e me viro, a última coisa que vejo são faróis.

***
Abro os olhos e me deparo com o teto branco do hospital, por que quando se fala em hospital é tudo branco? Paredes, roupas e até as pessoas mas eu acho que essa última é só o racismo ou preconceito.

Me viro e vejo Zara na cadeira de rodas me observando, me sinto estranha.

-Oi- digo quase sem voz.

-Esta tudo bem?- Zara me pergunta.

Olho para eu mesma, minha perna direta esta com a coxa enfaixada, já a esquerda esta com varios ralados e alguns curativos. Meus braços estão ralados e sinto dor nas juntas dos meus dedos pois estão ralados também. E estou tomando soro na veia.

-O que ouve, Zara?

-Você foi atropelada por um carro, mas está bem, tirando os machados- ela fala.

Assim que abro a boca pra fazer outra pergunta um médico entra no quarto.

-Que bom que acordou, senhorita Benneti- o doutor fala- está se sentindo bem?

-Estou- digo.

-Então, tenho boas e más notícias- ele fala e começo a ficar angustiada- a boa é que o bebê está bem, e a ruim é que tera que continuar aqui para mais alguns exames já que você esta com um sério caso de desnutrição e me parece que não anda dormindo direito e isso pode afetar a criança.

Bebê? Que bebê?

Zara olha pra mim assustada.

-Bebê?- Zara pergunta pro médico- como assim doutor?

-Fizemos exames de sangue em Maia e eles mostram que ela está grávida de três meses, vocês não sabiam?

Zara olha pra mim de novo.

Como eu sou burra. Se passaram três meses desde que sai do cativeiro e depois disso minha menstruação não veio, como não percebi? Como?

O doutor sai.

-Maia- Zara chama a minha atenção que no momento esta em outro planeta- de quem é esse filho? É do tal sequestrador? Ele abusou sexualmente de você?

-Não pode ser- falo pra eu mesma.

-Maia- Zara fala mais alto- é de quem?

-É dele, Zara- começo a chorar- aconteceu e agora estou grávida- choro mais ainda- meu Deus, nãooo!!

-Se acalma, Maia, isso não vai fazer te fazer bem.

Uma enfermeira entra.

-Senhorita Beneti?- ela pergunta, eu e Zara olhamos pra ela- tem uma visita pra você- ela diz olhando pra mim, confirmo com a cabeça.

Ela sai e alguém entra.

Não acredito no que vejo. O que ele veio fazer aqui?

-Oi Maia- ele diz.

Apaixonada Pelo Meu Sequestrador (#Wattys2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora