10 de março de 2005

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10 de março de 2005

Querido senhor L,

Mais cinco anos se passaram. Meu aniversário foi dia 04 e, agora, sou uma mulher de 25 anos. Finalmente, o tão planejado futuro chegou. Estou com as malas prontas, rumo à capital. Lembra-se do estágio que mencionei na última carta, senhor L.? Eu consegui a vaga e fui promovida à repórter. Trabalharei na filial da emissora, na capital. Meus pais estão orgulhosos de mim.

Já não me acho tão desengonçada. Minha aparência melhorou muito. Resolvi clarear os cabelos. A consultora de estilo da emissora sugeriu luzes para meu cabelo, para iluminar meu rosto e dar mais presença nas tomadas externas. Passei a fazer as unhas, semanalmente, e me vestir melhor. Tudo em nome da minha carreira de jornalista de televisão. Nunca me imaginei trabalhando na televisão. Provavelmente, você me veja no jornal do meio-dia, sou repórter lá e, em algumas ocasiões, substituo a âncora.

Falaram-me que você também se formou e que está trabalhando como administrador na empresa da família. Do fundo do coração, senhor L., desejo a você sucesso. Uma de minhas antigas amigas esteve na minha festa de despedida e contou-me que você está namorando. Fiquei irritada e decepcionada quando ela me falou. De qualquer maneira, um dia teria que acontecer, não é!

No momento, não estou namorando. Meu último relacionamento foi um fiasco, senhor L. Ele era muito ciumento e possessivo, além de muito machista. Passávamos mais tempo brigando do que namorando, devo dizer. Mesmo assim, ficamos juntos por quinze meses, mais pelo sexo do que por outra coisa. Confesso que o cara era muito bom de cama, além de lindo de morrer.

Não fique chocado, senhor L.! Não sou mais uma menininha de 15 anos. Já não tenho mais problemas com meu corpo. Posso não ser um avião, acho que é assim que os homens chamam as mulheres gostosas, mas também não sou de jogar fora. Algo me diz que você ainda vai arrepender-se de não ter me dado uma oportunidade. Com certeza, poderia fazê-lo feliz.

As expectativas para minha carreira são ótimas, senhor L. Diferentemente de você que se acomodou na nossa cidadezinha, eu pretendo ganhar o mundo e tornar-me uma renomada correspondente internacional. Enquanto, você estiver se casando, tendo filhos, com direito a um cachorro, senhor L., eu estarei viajando ao redor do mundo, conhecendo lugares e pessoas incríveis. Na verdade, sei que estou exagerando. Mas, uma mulher precisa sonhar não é mesmo? E, se é para sonhar, então, que seja grande. Por outro lado, sempre fui muito realista e sei que será necessária muita dedicação e empenho para atingir meus objetivos. Aliás, sou muito pé no chão para todas as coisas, exceto quando se trata de você, senhor L. 25 anos e aqui estou eu! Escrevendo mais uma carta para você, o que significa que continuo a sonhar com o impossível. É mais fácil tornar-me âncora do Jornal Nacional do que você me convidar para um encontro. Agradeço a Deus, por conseguir fazer piada com isso, pois já houve o tempo em que chorava mais do que cano furado. Deviam ser os hormônios de adolescente.

Meu táxi acabou de chegar, senhor L.! Preciso partir. Mando notícias, em breve.

De sempre sua, senhorita S.

Cartas que nunca enviei Onde histórias criam vida. Descubra agora