05 de dezembro de 2014.

678 87 28
                                    

05 de dezembro de 2014.

Querido senhor L.

Faltam três meses para meu aniversário de 35 anos. Sei que estou adiantada na minha carta, mas não resisti ao impulso de escrever depois de vê-lo no supermercado. Você passou por mim, virou-se para me olhar e não me reconheceu. Não o culpo pela gafe. Estou muito diferente da garota sem graça que você conheceu.

Depois de minha última carta, muita coisa aconteceu. Lembra-se do James? Então, acabei de ficar noiva de James, senhor L. Sim, James me pediu em casamento, com direito a anel de brilhante e tudo mais. Marcamos a data do casamento para maio do próximo ano. Faz três anos que moramos juntos. Vamos continuar a morar em Londres e nosso casamento acontecerá lá também. A família de James é maior que a minha, por isso, ficará mais fácil meus parentes viajarem para a Inglaterra. O nosso noivado foi aqui. Mamãe fez questão de organizar uma festa de arromba para comemorar a notícia. Assim, James e eu embarcamos para o Brasil em uma viagem de 15 dias. James não pode ausentar-se por muito tempo de Londres. Ele é pediatra e você deve entender dessas coisas, afinal é pai de duas crianças, pelo o que descobri com a vizinha fofoqueira da minha mãe.

Senhor L., fiquei chocada com o olhar de desejo que você jogou para cima de mim. Que coisa feia! Sua esposa estava ao seu lado e notou sua indelicadeza. Senti pena dela, pois não queria estar no lugar da pobre coitada. Quando cheguei em casa, fui até o altar de santos da minha mãe e agradeci à Nossa Senhora por ter tirado você do meu caminho. Estou feliz com James. É um bom homem. Em todos os sentidos, se é que me entende. A vizinha fofoqueira também me falou que você mantém relações extraconjugais com suas funcionárias. Que vergonha, senhor L. Definitivamente, não aguentaria estar no lugar de sua esposa.

O acaso do nosso encontro no supermercado foi importante para mim, senhor L. Refleti sobre várias coisas, sabe. Você foi e sempre será meu amor platônico, um amor puramente idealizado e que me acompanhou por longos 20 anos, mais da metade de toda minha vida. Porém, chegou a hora de despedir-me de você, senhor L. Agradeço imensamente pela sua companhia e por não ter correspondido a este amor. Talvez, se você tivesse me dado uma chance, eu não seria a mulher que me tornei. E eu, absolutamente, amo a mulher que me tornei.

Adeus, para sempre, senhorita S.

Cartas que nunca enviei Onde histórias criam vida. Descubra agora