Carta 1

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Minha irmã  e eu estávamos limpando o sótão, ou tentando limpar. Eu olhava todas as caixas pra ver o que podia ser jogado fora, e o que podia continuar lá. Aquilo que não prestava mais era colocado num saco, e a Júlia colocava o saco lá em baixo.

Eu já tinha tirado coisas pro lixo de mais de 20 caixas. Só faltava uma, e eu nunca tinha visto ela no sótão, ela ficava bem escondida num buraco que tinha atrás das outras. Ela era muito bonita, na forma de um baú, tinha flores desenhadas nela em aquarela. Era muito linda. Ela não tinha cadeado. Então, eu, que nem sou curiosa, abri a caixa – também, essa caixa estava pedindo pra ser aberta, sem cadeado. Dentro dela tinha três cartas destinadas a mesma pessoa: Daniela. Mas não tinha endereço.

- Júlia?? Corre aqui. Olha o que eu achei.

- Que foi?

- Eu achei essas cartas aqui. – disse levantando as cartas como se fossem um troféu.

- São de quem?

- Olha... A letra é da mãe, mas estão endereçadas para Daniela.

- Pra você?

- Hahahah. Não. Olha bem. – disse, colocando as cartas e indicando o chão na minha frente pra ela sentar. E ela fez isso. – Elas estão um pouco amarelinhas e rasgadinhas nas pontas. São antigas. E outra, elas são 9 meses antes deu nascer. Então não foram para mim.

- Você tá esperando o quê pra abrir?? – Júlia disse me encarando com aqueles olhos grandes que só uma  crianças de 9 anos tem.

  Assim como eu, ela estava curiosa pra saber o que diziam as cartas. Então, eu abri.

Querida Dani.

Como foi suas férias de verão? A minha foi chata no primeiro dia.. Tá, no meio no primeiro dia. Mas depois se tornou a melhor férias de todas. Imagino que você queira saber o porquê. Então, vamos lá.

Fui forçada a viajar com os meus pais para a antiga casa de praia da minha avó.

Eu, sinceramente, não sei porquê minha avó ainda não vendeu aquela casa. Se ela está morando em outra, e num lugar melhor.
Mas voltando ao que interessa: como minhas férias se tornou a melhor.

- Mãe, nada a ver me forçar a ir com vocês. Deixa eu ficar com meu tio?! Lá eu não conheço ninguém. Não falo com ninguém.

- Porque você quer. Filha, quando você era pequena, quando íamos pra lá, você não queria voltar pra cá.

- Quando eu ERA PEQUENA. Falou certo. Agora eu tenho 17 anos, faço 18 semana que vem. Por favor, mãe.

- Minha filha, eu já disse. Seu pai trabalhou nas férias do ano passado e na do ano retrasado, também E agora que conseguiu essas férias, ele quer aproveitar com a família. E eu, nem você, vamos tirar o direito dele disso.

- Tá, mãe.

Depois disso eu fui falar com o Lucas que eu não consegui fazer com que minha mãe me deixasse ficar. E ele terminou comigo.

Sabe! Eu fico pensando porque eu chorei naquele dia. Porque eu não fiquei cem por cento surpresa com o que ele fez, já que eu me iludia com o que a gente tinha. O que a gente tinha? Se ele, desde o início, sempre foi assim. Se nunca quis me assumir. Mesmo depois deu ter perdido minha virgindade com ele. Eu chorei porque eu me iludi. Eu, mesmo sabendo no que eu estava me metendo, preferi continuar. Não foi ele quem me largou, fui  eu mesma. Sozinha.

No dia seguinte, da minha tentativa de fazer com que minha mãe me deixasse ficar aqui, nós viajamos. Minha mãe iria depois do trabalho, então fomos só meu pai, meu irmão, minha irmã e eu.

Cartas que nunca enviei Onde histórias criam vida. Descubra agora