Querida Dani.
Eu só vi o “neném” duas vezes essa semana. Uma foi quando eu fui com os meus pais à praia e a outra vez quando saí com ele para a cachoeira que ficava à 30 minutos andando. Eu tinha falado para os meus pais que reencontrei umas amigas de infância e que iria sair com elas. De certa forma não era mentira. Eu reencontrei umas meninas que eu brincava quando era criança, elas me convidaram para ir a cachoeira e eu convidei o índio. Eu achei neném um apelido muito feinho, então eu dei um outro apelido pra ele, índio. Um índio lindo, forte, maravilhoso.
Meu índio!
Sabe?! Beijar ele era bom. Ficar com ele era bom. Não precisava nem de beijo. A conversa com ele era boa. Ele falava certo!! Tem noção?! Não falava “pra nós ir alí”. E, ainda por cima, ele gostava de ler, era bem informado, inteligente, me fazia rir, e muito. Eu amava a companhia dele. E, nos dias que não nos víamos, ficava pesado. As horas passavam lentamente. As piadas que meu pai contava pareciam estar piores em casa dia desses que eu não o via.
Meus pais tinham amigos por lá. Então sempre tinha um almoço, ou uma festa na casa de algum amigo.
Faltavam só 4 dias para eu ir embora. Meu pai foi convidado para visitar um amigo dele, que morava num condomínio. Tive que, infelizmente, ir e aturar o filho sem graça do amigo do meu pai. Uó. Meu irmão gostou dele, minha irmã se apaixonou. Senti pena da minha irmã, mas isso fez com que ele me esquecesse. Então aproveitei para dar uma volta na praia.
Eu me abaixei para pegar uma concha. Eu olhei pro chão e achei algo muito esquisito : uma sombra no chão, mas não era a minha, era de uma outra , especificamente um homem alto e forte. A pessoa falou comigo.
- Nunca parei pra reparar, mas a vista daqui é muito bonita, hein.
Não precisei nem olhar, pois eu reconheci a voz: era do meu índio. Levantei e virei para ele. Ele estava com a mão no queixo fazendo uma cara de sério enquanto me olhava de cima à baixo.
- Nossa, tão imbecil. Engraçado como você é idiota sem fazer esforço. – eu tentei falar o mais séria possível, tentei não demostrar a falta que ele me fazia, mas meu sorriso de orelha à orelha não deixou.
- Senti sua falta.
Eu congelei. Eu queria dizer que também senti a falta dele. Mas não consegui. Por mais que eu sentisse isso, eu achava muito louco isso tudo está acontecendo. Eu.. Não é fácil falar, mas eu acho que estou apaixonada por ele. Eu gostava de cada minuto que passava com ele. Quando não nos víamos, era insuportável. Eu gostava do jeito dele. Eu admirava cada coisa que ele fazia, coisas que se outras pessoas fizessem, eu iria odiar, já iria querer mudar aquilo na pessoa. É, eu estou apaixonada. Poderia dizer que o amava, mas aí sim seria loucura de mais.
Mas como eu sou uma pessoa que nem estrago esses momentos...
- Hum... Não estou surpresa. É algo natural a pessoas sentirem minha falta. Não podem ficar 1 minuto longe de mim, que já não conseguem respirar.
Estraguei o momento, porque seu sorriso tinha murchado um pouco.
- Depois o convencido sou eu. Ótimo.
- Aprendi a ser assim com você.
- Hahahahahaha. Tá bom. Vou fingir que acredito em você.
- Tá. Mas o que você tá fazendo aqui?
- Ah! Eu tô trabalhando na obra de um pousada. Na verdade estou só fazendo a entrega de algumas coisas. Estou ajudando meu irmão, porque um funcionário não pode vim, e ele pediu minha ajuda. E também, é um dinheiro a mais.
- Sim, entendi.
- E você? O que você tá fazendo aqui?
- Um amigo do meu pai convidou a gente para vim aqui hoje. Lá estava chato, então eu resolvi andar pela praia. Eu queria até dar um mergulho, mas eu tô sozinha. Tenho medo que alguém pegue as minhas coisas. – eu reparei nele, e vi que ele estava usando calça jeans e uma blusa pólo, vestia o uniforme do trabalho do irmão. – Vem cá. Você não tá com calor com essa roupa não?
- É verdade. – ele disse e começou a tirar a blusa, o tênis e a calça e ficou só de sunga.
- Por que você tá fazendo isso?
- Como você disse, tá calor. E outra, agora você tem uma companhia, não tem porquê não dar um mergulho.
Olhei para o mar, o olhei pra ele. Eu tinha que implicar com ele.
- Quem disse que qualquer companhia servia? Não, obrigada. Pode dar você um mergulho, eu fico aqui, olhando as suas coisas.
- Nada disso. – ele disse e depois me colocou em seu ombro como se eu fosse um saco se batatas. – E também, ninguém vai pegar nossas coisas. E... Eu não sou qualquer companhia, sou a melhor. - Eu tinha que concordar com ele.
Ele foi andando em direção ao mar, quando eu lembrei que estava de shorts e no short estava meu celular e dinheiro.
- Para.
- Não.
- Não, sério. Para. Estou com o celular e dinheiro no bolso do short. Deixa eu pelo menos tirar o short?
- Tá. – ele disse me colocando no chão.
Eu tirei o short e ele ficou me olhando. Tipo, não era uma olhada qualquer, era aquela olhada. Tanto que eu senti meu corpo ficar quente de tanta vergonha que eu senti. Então eu joguei o short na cara dele.- Presta atenção. – eu ri com o pulo que ele deu.
- Ooou. Que foi, cara?
- Leva meu short lá.
- Por que eu? O short é seu.
- Você que inventou isso. Então, você leva.
Ele levou meu short correndo e voltou correndo. E me colocou no ombro dele, de novo.- Ei ei ei. – dei uns soquinhos nas costas dele. – Pra quê isso? Eu vou mergulhar com você. Não precisa me levar a força. Pode me soltar.
- Não, obrigado. Prefiro assim. – e colocou a mão na minha bunda.
- Safado. Me solta. – ele começou a rir e não me soltou. Entramos no mar e eu fiquei um bom tempo até ele me soltar e a água bater a cima do meu peito.
Nos beijamos. E beijamos, e beijamos e beijamos. Ficamos bastante tempo juntos até o irmão dele chegar e dizer que estava na hora de ir. Nos despedimos, ele foi embora e eu fiquei mais um tempo no mar. Já estava escurecendo então eu decidi sair.
Ana Vitória.
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Cartas que nunca enviei
Short StoryCARTAS QUE NUNCA ENVIEI reúne sete escritoras talentosas de diferentes gerações que por meio de contos, mostram que em uma unica carta ou até mesmo várias, podem haver grandes sentimentos sendo eles secretos ou não que expressam toda subejtividade d...