Carta 3

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Querida Dani.

Já está quase acabando a minha semana aqui. Amanhã eu vou embora. Eu só vi o índio naquele dia, depois ele ficou trabalhando com o irmão.

Os vizinhos também iriam embora no mesmo dia que minha família, então decidiram fazer churrasco.

Eu estava lendo um livro que tinha levado pra lá, “O Vendedor de armas” do Hugh Laurie, quando o Jamerson se sentou do meu lado e deu um beijo no meu ombro. Eu dei um tapa nele.

- Seu louco. Meus pais estão por perto.

- Qual o problema amor?

- Amor? A gente tá namorando e eu não tô sabendo?

- Só posso te chamar de amor se estivermos namorando?

- É claro? 

- Mas eu te amo. Então tenho que te chamar de amor.

Eu não sabia o que fazer, ou o que falar. Ele disse que me amava, amiga. Eu queria muito que você estivesse aqui de verdade. Viva. Pra eu chegar em casa e poder correr e te contar como foram minhas férias longe de você. E você me contar como foram as suas. Eu sinto, muito, a sua falta.

- Huum.. Você me ama.

- É! – ele mordeu o lábio num sorriso.

Eu não sabia o que falar, o que responder. Quando eu pensei em algo, minha mãe me chamou.

- Ana, vem aqui me ajudar.

- Tô indo. Já volto. – falei pra ele.

Eu ajudei minha mãe o mais rápido possível. Mas quando eu voltei, ele não estava mais lá.

- Você viu o Jamerson? – eu perguntei pro menino que estava lá.

- Quem é Jamerson?

- O neném.

- Aaaah sim. Ele foi embora.

- Aaah sim. Obrigada.

Eu tive que esperar o churrasco terminar. Ajudei a limpar e arrumar as coisas.

O amigo do meu pai estava lá com os filhos dele. E enquanto o eu limpava as coisas, Artur – filho do amigo do meu pai – ficou sem fazer nada. Tá! Dizer que ele não fez nada é mentira, porque ele fez sim, e muito: encheu meu saco. Nossa, mas que menino chato. Ele não percebia que, se eu pudesse, daria um tiro na testa dele? Porque, Jesus, eu já tinha esgotado meu estoque de patadas com ele.

Já eram dez da noite quando eu terminei de tomar banho, e um minuto sequer eu parei de pensar nele. Me arrumei, fiz um coque, coloquei o óculos e o moletom, estava fazendo muito frio, e fui na casa dele. Eu disse para os meus pais que ia sair com algumas amigas. Que íamos na praça depois da ponte.

Pra chegar na casa dele tinha que passar um corredor, um beco, não sei. Cheguei em frente o portão dele e chamei três vezes, na quarta o rapaz idêntico ao índio me atendeu, a única diferença eram os olhos, os do índio eram mais claros, pareciam e vidro. Impenetráveis.

- Oi...O Jamerson mora aqui?

- Sim. Você é a..?

- Ana. – eu disse abruptamente – Ana. Ana Vitória.
- A menina que mexeu com o coração do meu irmão.

- Quê?

- Vou lá chamar ele.

- Tá, obrigada.

Cartas que nunca enviei Onde histórias criam vida. Descubra agora