Querida Dani.
Minha menstruação estava atrasada há dois meses. Eu passei mal, então tive que fazer um exame de sangue para saber o estava acontecendo. Talvez o atraso da menstruação tivesse a ver com o meu desmaio e os enjôos que vinha tendo.
Uma hora e meio depois que eu cheguei lá, o médico veio com os exames. O médico não tinha expressão. Ficava difícil saber e era algo bom o ruim.
- Bom, Ana. O que você teve não foi nada grave. Mas, você vem comendo pouco?
- Sim, eu não sou muito de comer. Mas eu sempre nunca fui de comer muito. O que isso tem a ver?
- Bom, você deveria está comendo por dois.
- Quê? Mas eu sou uma só.
- Sim. Mas você está grávida.
Sorte que minha mãe não estava comigo. Eu fui com minha avó, pois estava na casa dela. Eu não sabia o que fazer, amiga. Conversei com minha avó. Contei tudo para ela. E, como sempre me ajudando, disse que podia contar com ela, mas eu teria que contar para o índio que ele era o pai.
Aproveitei que meu pai iria voltar lá, e fui junto com ele. Ele estaca colocando a casa da minha avó pra vender, e estava construindo uma casa no condomínio do amigo dele. Minha avó foi junto.
Enquanto meu pai estava no condomínio com o amigo dele, minha avó disse que queria dar um passeio comigo. Nós fomos na casa dele.
Chegamos lá, eu saí logo do carro. Chamei. Sua mãe me atendeu. Ela era bonita, mas parecia triste, como se parte dela fosse arrancada.
- Oi. Tudo bem?
- Sim.
- Eu me chamo Ana. Sou amiga do seu filho. Ele está em casa?
- Sim. Vou lá chamar ele.
Ela entrou, e depois voltou com o irmão. Eu fiquei sem entender nada.
- Oi – comprimentei o irmão dele. – Eu não sei, mas acho que ouve um mal entendido. Eu preciso falar com seu filho. O Jamerson.
Eles dois se olharam. A mãe começou a chorar, colocou a mão na boca e saiu correndo pra dentro.
- O que tá acontecendo aqui? Eu não estou entendendo nada.
- O Jamerson morreu.
Perdi o ar. Eu não conseguia acreditar. Depois eu não me lembro mais do que aconteceu. Eu acordei na cama de um hospital, com minha avó e o irmão do índio ao meu lado. Demorou um tempo até eu lembrar o que aconteceu. Quando lembrei, eu estava em prantos.
- Me diz que isso é mentira.
- Ele morreu num acidente de trabalho. O pé dele ficou preso na corda, e ele foi puxado. Caiu de 50 metros.
Eu não queria mais ouvir. Minha avó pediu para que ele saísse do quarto e me deixasse sozinha com ela. Ele fez o que minha avó pediu, mas antes ele pediu pra falar comigo.
- Meu irmão te amava. Não sei o que aconteceu com vocês dois, e o que te trouxe até aqui, mas independente do que seja... ele morreu te amando.
Naquela hora eu só pensei que foi algo péssimo pra se dizer pra alguém num momento desses. Mas depois eu pensei, e.. O que ele disse pra mim, fez eu amar mais a lembrança boa que eu levei dele.
Ana Vitória
- Isso foi nove meses antes de eu nascer.
- Daniela??Eu desci correndo e fui para cozinha, onde meus pais estavam.
- Mãe? – eu disse com as cartas na mão e com os olhos cheios de lágrimas.
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Cartas que nunca enviei
Short StoryCARTAS QUE NUNCA ENVIEI reúne sete escritoras talentosas de diferentes gerações que por meio de contos, mostram que em uma unica carta ou até mesmo várias, podem haver grandes sentimentos sendo eles secretos ou não que expressam toda subejtividade d...