Leo:
As coisas melhoraram muito para mim, em todos os aspectos, desde que vim pro Derbyshire, mesmo com a perda que tive.
Estudar em Londres é um sonho que eu tenho desde pequeno e agora já estou prestes a realizar. Todos na minha família, inclusive eu, estão muito orgulhosos.
É certo que sempre fui muito inteligente e interessado em estudar certas coisas, mas, mesmo assim, às vezes eu ainda tenho dificuldades em me concentrar, mesmo que não seja nada fora do meu controle.
Minha família e as famílias dos meus dois melhores amigos decidiram dar uma festa de despedida na nossa casa. É uma casa espaçosa e com um quintal bem grande.
- Leo, não esquece isso!! – minha irmãzinha de quase oito anos veio correndo e me entregou um porta-retrato com uma foto nossa. A foto foi tirada no dia em que seu primeiro dente de leite caiu, ela estava com o rosto todo lambuzado do "sorvete de chocolate" da mamãe, com um sorriso de orelha em orelha, tão grande que chegava a franzir o nariz, e eu não conseguia parar de rir. É minha foto preferida com a minha irmãzinha.
- Vou botar em um lugar bem especial. Obrigado, Maddie.
- De nada! Vou sentir saudades. – Maddie me abraçou bem forte. Eu sabia que seus olhinhos estavam se enchendo de lágrimas.
- Também vou sentir sua falta. - soltei o abraço e dei um beijo em sua bochecha – A gente vai se visitar, ok?
Ela concordou com a cabeça. Geralmente eu que faço isso. Ela é mais falante do que eu. E mais adepta a mudanças.
Me despedi dos outros e entrei no carro, onde estamos eu, Matt e Scott.
A gente se conheceu com uns 10 anos, quando vim morar em Derby e nós três fomos estudar na mesma escola. Todos sofríamos bullying em nossas antigas escolas, então ficamos um pouco deslocados no começo das aulas e começamos a nos enturmar uns com os outros. Eles tiveram mais facilidade e eu fiquei feliz por me aceitarem. Mesmo que eu tenha demorado um pouco a me sentir confortável, eles não desistiram de mim e têm sido ótimos amigos desde então.
Essa dificuldade em me relacionar com os outros não era só por causa do bullying - na verdade, eu nem tinha muita noção de que sofria bullying na época -. Concordo que isso não ajudou em nada - Como eu iria ser amigo de crianças de quem eu não gostava e que não gostavam de mim?- . Eu já tinha uma certa dificuldade em começar e manter uma conversa, preferia ficar sozinho às vezes, só conversava com algumas pessoas e, em algumas épocas, me preocupava demais com o que elas iriam pensar. Mal falava com a professora da escola. Não que eu desgostasse dela, simplesmente não achava nada interessante para falar. E, bom, não gostava dela, também. Fora da minha família, só tinha uma única amiga, que era também minha vizinha, antes de vir para Derby. Ela era legal. A gente dizia que ia se casar um dia, mas acho que isso ficou complicado agora, já que não mantemos mais contato.
Demorei bastante até mesmo para olhar nos olhos das pessoas ao conversar com elas. Até hoje, prefiro só fazer isso com algumas pessoas, para ser honesto. É cansativo.
Na oitava série, Matt e Scott me convenceram a entrar no time de futebol, já que nós três adoramos e eu estou envolvido com esse esporte desde sempre. Foi uma boa maneira de conhecer gente nova - apesar de não gostar de quase ninguém -, aprender a filtrar melhor as informações que recebo, me comunicar melhor com as pessoas e fazer novas amizades, mas sem pressão, afinal, os amigos antigos ainda estavam lá para apoiar uns aos outros. E, de qualquer forma, eu estava ali mais pelo esporte do que pelos desconhecidos.
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Cartas para Wendy
Romance"Pessoas são como flores: não as escolhemos pelo que as torna forte, mas pelo que as torna frágeis. Assim como as pétalas das flores caem, nossas fraquezas também somem, mas isso deixa nosso núcleo exposto demais e, este precisa ser protegido por n...