Capítulo 13

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     Sam:

   - Posso guardar a folha para mim?

   - Escrevi para você, não foi? – ele riu e me entregou.

   Guardei a folha no bolso do meu pijama e nós dois nos deitamos lado a lado sobre a toalha de piquenique estendida no chão do terraço. Peguei sua mão enquanto ele falava os nomes das constelações.

   - Não acredito que você ainda lembra.

   - Toda sexta-feira eu fico acordado até mais tarde e fico olhando pela janela, observando as estrelas e repetindo os nomes mentalmente. Foi o que me manteve calmo depois que saí de Holmes Chapel. Eu falei que estrelas eram legais.

   - O que você faz quando não dá para ver as estrelas?

   - Aí eu só fico olhando pela janela. Desenhando, talvez. Ou só pensando, mesmo. – ele fez uma pausa como se tivesse percebido algo – Desculpe, falei a palavra.

   - Tudo bem. – aperto sua mão e sorrio para ele. Gosto de sua reação quando eu sorrio; ele parece a ponto de me apertar e encher de beijos quando me vê sorrindo.

   - Qual a sua história com as estrelas? – Leo perguntou, olhando para mim depois de uma pausa. Fiquei confusa – Sabe, chega um certo ponto em que todo mundo tem uma história com estrelas. Qual a sua?

   - E se a minha for a de hoje?

   - Você tem quase duas décadas de vida e está tentando desviar a minha pergunta, com certeza tem outra. – ele estava certo.

   Coloquei de lado a bolsa térmica onde estava a comida que a gente trouxe – inutilmente, aliás; nenhum de nós dois come tarde assim – e me aconcheguei em Leo, que me abraçou, depois de um pequeno susto. Tê-lo tão perto depois de estarmos tão longe, sentir seu calor em meio ao frio, sentí-lo me abraçando depois de vê-lo escapando como areia entre os dedos era indescritível. Era como estar protegida de qualquer coisa, com a certeza de estar longe de um de seus maiores medos, que tinha se tornado realidade pouco tempo antes. Mas aquilo não importava mais.

   - Na verdade, tem uma. – falei quase que com um sussuro olhando para minha mão que acariciava seu peito e sua mão acariciando a minha – Quando eu tinha uns nove anos, quase dez, minha única avó morreu de câncer. Eu tenho várias fotografias dela, mas não me lembro direito da voz, nem do cheiro, sabe?, dessas coisas. Ela ia fazer aniversário em duas semanas e me lembro de estar animada, querendo dar uma festa. Eu tinha certeza de que ela ia sobreviver; mas eu não sabia o que era câncer. Quando minha mãe falou que ela estava doente, eu achei que fosse uma gripe ou alguma coisa simples. Eu não entendia por que ninguém mais estava animado pro aniversário dela. Cheguei a perguntar aos meus pais se ninguém mais gostava da minha avó, porque só eu queria fazer uma festa e comemorar.

   “Eu lembro que, nas últimas semanas, ela chorava bastante, me pedia muitos abraços e parecia prestar mais atenção no que eu dizia. O próprio olhar dela estava diferente, como se ela estivesse tirando fotografias, tentando guardar cada detalhe, não sei, prestando mais atenção. Eu achava que ela também estava pensando que só eu ainda gostava dela, por causa do aniversário e tal.

   “Sempre que eu via essa avó eu entregava um desenho a ela. – me aconcheguei mais nele – Ela gostava muito de estrelas, principalmente das que eu desenhava, mesmo sendo tortas e nada realistas. Foi ela que me ensinou a letra de “Brilha, Brilha, Estrelinha”. – lembrar disso me fez sorrir por um instante - Tudo o que sobrou foram as estrelas e as imagens dela cada dia mais magra e fraca.”

   Leo continuou acariciando meu ombro com uma das mãos e passou a mão que estava em cima da minha pela minha cintura, me abraçando mais apertado e me trazendo mais para perto dele. Nossa conversa seguiu no mesmo tom de quase-sussurros.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora