Capítulo 9

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            SAM:

   - O que aconteceu com Matt? – perguntei.

   - Ele quis ficar dormindo.

   Pamella e Scott corriam na areia e Leo e eu estávamos sentados numa toalha. Ele olhava fixamente pro mar.

   - É um dos meus passatempos favoritos. – ele falou e se virou para mim – Vir à praia no inverno. É calmo... relaxante. Eu gosto de lembrar que às vezes o silêncio é bom.

   - “O silêncio é o texto mais fácil de ser lido errado”. Ou algo do tipo, não lembro direito. Acho que é do Igor Cury.

   Ele ainda tinha uma parte daquele garotinho vulnerável de Holmes Chapel dentro de si.

   Ficamos em silêncio por um tempo.

   - Acho que nós dois somos bons cupidos. – falei, apontando para Pamella e Scott.

   Ele sorriu, concordando, e perguntou:

   - Quem é a próxima vítima?

   - Que tal você? – respondi. – Minha próxima meta é achar uma namorada pra você.

   - Boa sorte com isso. Vai ser mais fácil conseguir alguém pro Matt.

   - Por quê? Você nunca se apaixonou? Meio impossível, não?

   - É complicado. – ele disse e eu o encarei. Essa resposta não era suficiente – Já me apaixonei 1,75 vezes, aproximadamente.

   - 1, 75?

   - Como eu disse, complicado.

   - Eu gosto de histórias complicadas, elas costumam ser as melhores. Me conte mais sobre essa “,75”.

   - Não.

   - Só o nome! – apesar da minha insistência, sua resposta foi a mesma - Por quê?

   - Eu não falo sobre ela. Pra absolutamente ninguém. Pra ser honesto, dá para contar nos dedos das mãos as pessoas que sabem sobre ela. Mas os que sabem só sabem isso.

   - Por que “,75” ?

   - Eu gosto desse número. Acho que é o mais apropriado pra definir isso. Gosto de decimais que terminam com 5, mas acho “,5” muito clichê e pequeno. “,75” é um tanto distante do “,9”; é maior que a metade, mas é longe do fim. E eu não gosto de números muito redondos, tipo 8 e 6.

   - Fim?

   - Um número inteiro é mais simples, mais fácil de deixar pra lá, mais banalizado, mais normal. O conceito dos decimais é bem mais complexo. “[...] exite uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. [...] Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão”. Todos os inteiros marcam fins de infinitos.

   - Então o que você está dizendo é que você ainda gosta dela? – eu fiquei mais perdida que cego em tiroteio. E, sim, chocada por ele citar A Culpa É das Estrelas.

   - Não vou responder.

   - Por que não?

   - Porque eu não sei a resposta. Como eu já disse, decimais são complicados demais. Você só sabe se vai continuar como decimal ou se vai virar um inteiro se arriscar. Eu não arrisquei.

   - Por que não?

   Ele ignorou e perguntou o por quê de não procurarmos alguém para mim.

   - Acho que você já sabe o motivo. – minha voz ficou mais triste.

   - Já faz quase um mês.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora