SAM:
- O que aconteceu com Matt? – perguntei.
- Ele quis ficar dormindo.
Pamella e Scott corriam na areia e Leo e eu estávamos sentados numa toalha. Ele olhava fixamente pro mar.
- É um dos meus passatempos favoritos. – ele falou e se virou para mim – Vir à praia no inverno. É calmo... relaxante. Eu gosto de lembrar que às vezes o silêncio é bom.
- “O silêncio é o texto mais fácil de ser lido errado”. Ou algo do tipo, não lembro direito. Acho que é do Igor Cury.
Ele ainda tinha uma parte daquele garotinho vulnerável de Holmes Chapel dentro de si.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- Acho que nós dois somos bons cupidos. – falei, apontando para Pamella e Scott.
Ele sorriu, concordando, e perguntou:
- Quem é a próxima vítima?
- Que tal você? – respondi. – Minha próxima meta é achar uma namorada pra você.
- Boa sorte com isso. Vai ser mais fácil conseguir alguém pro Matt.
- Por quê? Você nunca se apaixonou? Meio impossível, não?
- É complicado. – ele disse e eu o encarei. Essa resposta não era suficiente – Já me apaixonei 1,75 vezes, aproximadamente.
- 1, 75?
- Como eu disse, complicado.
- Eu gosto de histórias complicadas, elas costumam ser as melhores. Me conte mais sobre essa “,75”.
- Não.
- Só o nome! – apesar da minha insistência, sua resposta foi a mesma - Por quê?
- Eu não falo sobre ela. Pra absolutamente ninguém. Pra ser honesto, dá para contar nos dedos das mãos as pessoas que sabem sobre ela. Mas os que sabem só sabem isso.
- Por que “,75” ?
- Eu gosto desse número. Acho que é o mais apropriado pra definir isso. Gosto de decimais que terminam com 5, mas acho “,5” muito clichê e pequeno. “,75” é um tanto distante do “,9”; é maior que a metade, mas é longe do fim. E eu não gosto de números muito redondos, tipo 8 e 6.
- Fim?
- Um número inteiro é mais simples, mais fácil de deixar pra lá, mais banalizado, mais normal. O conceito dos decimais é bem mais complexo. “[...] exite uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. [...] Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão”. Todos os inteiros marcam fins de infinitos.
- Então o que você está dizendo é que você ainda gosta dela? – eu fiquei mais perdida que cego em tiroteio. E, sim, chocada por ele citar A Culpa É das Estrelas.
- Não vou responder.
- Por que não?
- Porque eu não sei a resposta. Como eu já disse, decimais são complicados demais. Você só sabe se vai continuar como decimal ou se vai virar um inteiro se arriscar. Eu não arrisquei.
- Por que não?
Ele ignorou e perguntou o por quê de não procurarmos alguém para mim.
- Acho que você já sabe o motivo. – minha voz ficou mais triste.
- Já faz quase um mês.
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Cartas para Wendy
Romance"Pessoas são como flores: não as escolhemos pelo que as torna forte, mas pelo que as torna frágeis. Assim como as pétalas das flores caem, nossas fraquezas também somem, mas isso deixa nosso núcleo exposto demais e, este precisa ser protegido por n...