Capítulo 6

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        SAM 

   Pamella escolheu para mim (me forçou a usar) um vestido azul marinho com umas flores coloridas pequenininhas e um short para colocar por baixo, um lenço marrom com detalhes em um amarelo quase dourado, um cardigã amarelo, uma bota marrom rasteira e uma bolsa de couro pequena.

   Prendi meu cabelo com uma presilha de flores marfins em um meio rabo de cavalo.

   Meu celular tocou. Ryan.

   Olhei pra Pamella, que quase atendeu o telefone por mim.

   Avisei que já estava descendo.

   - Boa sorte! Espero que ele não seja burro o suficiente para deixar você escapar de novo.

   Quando abri a porta do prédio, ele estava me esperando com seu All Star preto, uma bermuda cargo verde-musgo, camisa cinza escura e alguns cachos do cabelo loiro e não muito curto caindo sobre a testa, enquanto seus olhos azuis olhavam ansiosamente para a porta.

   Ryan provavelmente não é a pessoa com quem vou passar o resto dos meus dias, mas eu não me importaria se fosse. O que eu sinto por ele é o mais próximo que já cheguei de amar algum garoto. E, por enquanto, isso é o suficiente para alguém que foge dos sentimentos, como eu. Talvez a gente consiga fazer as coisas funcionarem do jeito que são, sem que eu precise me permitir sentir coisas das quais fujo.

   - Sam, você está... - ele tentou falar quando me viu, depois limpou a garganta e soltou um riso nervoso.

   - Atrasada. Eu sei. Minha assistente é meio lerda...

   - Eu ia dizer linda. – ele finalmente conseguiu terminar. – Mas se você prefere atrasada... também serve.

   Nós dois rimos e eu agradeci.

   - Então, onde a gente vai? – perguntei.

   - Ser turista por um dia.

   Pedalamos até o Bing Ben e a London Eye. Paramos para comer alguma coisa por ali e depois retomamos nosso tour.

   Talvez não se trate de saber que a pessoa vai ficar para sempre na sua vida. Talvez seja só aquele momento em que você perde a respiração porque o jeito que o outro passa as mãos pelo cabelo te tira o ar. Ou quando vocês fazem bigodes com a batata frita, competindo para ver quem consegue sustentar a batata por mais tempo, sem as mãos. Talvez tudo se trate de perder o equilíbrio com a risada do outro e de querer que o tempo congele quando a pessoa te abraça e beija sua cabeça. Talvez a magia esteja no jeito como meu nome soa bonito e a piada mais idiota do mundo soa engraçada naquela voz.

   Talvez com o tempo eu venha a ama-lo.

   Talvez a verdade de tudo esteja escondida em guardar todas essas possibilidades por medo de estragar qualquer coisa.

   Às vezes as coisas acontecem assim: em um momento vocês estão juntos e conseguem ser totalmente abertos um com o outro e, no momento seguinte, você tem que esconder um bilhão de coisas da outra pessoa e fazer de conta que está ótimo desta forma. Porque perder essa pessoa é inimaginável.

   Compramos lembrancinhas, tiramos muitas fotos, caminhamos, bicicletamos pela cidade e fizemos um sotaque indiano fajuto na hora de pedir alguma informação a alguém, mesmo já sabendo a maior parte das coisas perguntadas. Nossa última parada foi o palácio.

   - Lamento informar, mas essa é a última parada do nosso tour. - ele falou, tentando imitar um guia turístico.

   - De turista pra guia turístico em tão pouco tempo. Como esses jovens crescem e aprendem rápido hoje em dia.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora