SAM
Pamella escolheu para mim (me forçou a usar) um vestido azul marinho com umas flores coloridas pequenininhas e um short para colocar por baixo, um lenço marrom com detalhes em um amarelo quase dourado, um cardigã amarelo, uma bota marrom rasteira e uma bolsa de couro pequena.
Prendi meu cabelo com uma presilha de flores marfins em um meio rabo de cavalo.
Meu celular tocou. Ryan.
Olhei pra Pamella, que quase atendeu o telefone por mim.
Avisei que já estava descendo.
- Boa sorte! Espero que ele não seja burro o suficiente para deixar você escapar de novo.
Quando abri a porta do prédio, ele estava me esperando com seu All Star preto, uma bermuda cargo verde-musgo, camisa cinza escura e alguns cachos do cabelo loiro e não muito curto caindo sobre a testa, enquanto seus olhos azuis olhavam ansiosamente para a porta.
Ryan provavelmente não é a pessoa com quem vou passar o resto dos meus dias, mas eu não me importaria se fosse. O que eu sinto por ele é o mais próximo que já cheguei de amar algum garoto. E, por enquanto, isso é o suficiente para alguém que foge dos sentimentos, como eu. Talvez a gente consiga fazer as coisas funcionarem do jeito que são, sem que eu precise me permitir sentir coisas das quais fujo.
- Sam, você está... - ele tentou falar quando me viu, depois limpou a garganta e soltou um riso nervoso.
- Atrasada. Eu sei. Minha assistente é meio lerda...
- Eu ia dizer linda. – ele finalmente conseguiu terminar. – Mas se você prefere atrasada... também serve.
Nós dois rimos e eu agradeci.
- Então, onde a gente vai? – perguntei.
- Ser turista por um dia.
Pedalamos até o Bing Ben e a London Eye. Paramos para comer alguma coisa por ali e depois retomamos nosso tour.
Talvez não se trate de saber que a pessoa vai ficar para sempre na sua vida. Talvez seja só aquele momento em que você perde a respiração porque o jeito que o outro passa as mãos pelo cabelo te tira o ar. Ou quando vocês fazem bigodes com a batata frita, competindo para ver quem consegue sustentar a batata por mais tempo, sem as mãos. Talvez tudo se trate de perder o equilíbrio com a risada do outro e de querer que o tempo congele quando a pessoa te abraça e beija sua cabeça. Talvez a magia esteja no jeito como meu nome soa bonito e a piada mais idiota do mundo soa engraçada naquela voz.
Talvez com o tempo eu venha a ama-lo.
Talvez a verdade de tudo esteja escondida em guardar todas essas possibilidades por medo de estragar qualquer coisa.
Às vezes as coisas acontecem assim: em um momento vocês estão juntos e conseguem ser totalmente abertos um com o outro e, no momento seguinte, você tem que esconder um bilhão de coisas da outra pessoa e fazer de conta que está ótimo desta forma. Porque perder essa pessoa é inimaginável.
Compramos lembrancinhas, tiramos muitas fotos, caminhamos, bicicletamos pela cidade e fizemos um sotaque indiano fajuto na hora de pedir alguma informação a alguém, mesmo já sabendo a maior parte das coisas perguntadas. Nossa última parada foi o palácio.
- Lamento informar, mas essa é a última parada do nosso tour. - ele falou, tentando imitar um guia turístico.
- De turista pra guia turístico em tão pouco tempo. Como esses jovens crescem e aprendem rápido hoje em dia.
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Cartas para Wendy
Romance"Pessoas são como flores: não as escolhemos pelo que as torna forte, mas pelo que as torna frágeis. Assim como as pétalas das flores caem, nossas fraquezas também somem, mas isso deixa nosso núcleo exposto demais e, este precisa ser protegido por n...