Capítulo 8

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  SAM

   Decidimos fazer um piquinique para eu me distrair. Estava tudo bem até que ele chegou. Como se encarar o final de semana não fosse difícil o suficiente. Mas eu precisava de um ponto final.

   Pamella não entendeu nada quando olhou para trás e viu Ryan caminhando na nossa direção. Pedi para irmos embora e todos perceberam o motivo pelo qual eu tenho estado para baixo. Quando ele estava perto o suficiente, dei alguns passos a frente, deixando Pamella, Matt, Scott e Leo para trás.

   Ryan percebeu que eu já sabia de tudo quando ele se aproximou e eu o impedi de me beijar, mas, ainda assim, falou:

   - O que aconteceu, minha princesa?

   - Não me chama mais assim. Eu não uma princesa, muito menos sua. Você sabe muito bem o que aconteceu. Ou já esqueceu? Eu descobri, Ryan.

   Ele fez uma pausa.

   - Sam, me desculpe. Foi um momento de fraqueza, eu juro. Não vai acontecer de novo. – quando ele percebeu que eu iria me afastar, segurou minha mão, se ajoelhou e fez a cara de anjo que sempre me fazia perdoá-lo, que me fazia esquecer de tudo e me perder em seus olhos, mas isso não iria acontecer de novo - Me dá mais uma chance? Eu te imploro.

   - Depois de ter me feito andar de um lado pro outro, confusa por ter acreditado em você e depois acontecer isso? Depois de você aparecer hoje como se nada tivesse acontecido? Depois de eu ter chorado todas as lágrimas que eu podia? Depois de eu me sentir a pessoa mais idiota do mundo por sua culpa? Não, obrigada.

   Ele continuou implorando, dizendo exatamente as coisas que eu sempre gostei de ouvir e me lembrando das músicas que costumávamos cantar, as flores, as risadas, os planos, os sonhos, as danças na chuva e me fazendo perceber como é estranho ver que tudo aquilo se foi, me fazendo sentir um aperto no coração ao ver tudo aquilo indo embora. Senti até uma vontade de agarrar todos aqueles momentos e nunca mais soltar nenhum deles.

   Mas ele os soltou por mim. E colocou uma parede de vidro entre mim e eles. Posso vê-los, mas jamais poderei tocá-los de novo.

   Quando terminamos pela primeira vez, isso seria tudo o que eu poderia querer: Ryan de joelhos, querendo voltar, se lembrando das coisas boas, com os olhos brilhantes. Eu achava que ele era um príncipe, mas agora não o aceitaria de volta nem se ele estivesse correndo atrás de mim montado em um cavalo branco. Já não consigo nem olhá-lo do mesmo jeito, sem sentir que algo está errado. Não existe mais “felizes para sempre”. Nunca existiu, pelo simples motivo de vida real não ser conto de fadas.

   O mundo é muito maior que Holmes Chapel e muito maior que Londres. Eu não tenho que aceitar o que só vai me deixar mal. Eu vou achar alguém que me trate bem. Ou até mesmo ficar melhor sozinha.

   - Sam...

   - Ela te perguntou alguma coisa. – eu disse, me recompondo, antes que eu começasse a chorar. Puta que pariu, né, Samantha! Se chorar por esse filho da puta, vai dormir no chão da sala!, ameacei mentalmente a mim mesma - Você disse sim. O que ela te perguntou?

   - Foi um momento de fraqueza, Sam. Eu já falei. Eu não pensei direito. Eu bebi um pouco demais na noite anterior, tava de ressaca e aquela garota tava me irritando. Não vai acontecer de novo.

   Então eu soube a pergunta feita. Ele teve escolha.

   - Eu sei que não vai. Porque eu já terminei com você. Espero que tenha valido a pena. – falei, e parti ao encontro dos meus amigos, tentando não deixar na cara tudo o que eu sentia.

   - Sam, é claro que não valeu a pena! – ele falou enquanto me seguia e pegava de leve no meu ombro.

   - Solta meu braço!

   Ele continuou insistindo e, então, o inesperado aconteceu:

   - Ela já te falou pra soltar, deixa a garota em paz! – Leo falou, com uma voz firme, que passava força. Sua atitude surpreendeu a todos nós e fez Ryan largar do meu braço e se aproximar de Leo, que continuou com a expressão imutável.

   - Olha só, o mudinho esquisito sabe falar.

   Esse era um lado completamente diferente de quem eu conhecia como Ryan; sua expressão agora era completamente diferente da de vulnerabilidade, que demonstrou há menos de um minuto.

   - Eu evoluí. Você deveria tentar algum dia. – falou Leo, mantendo o mesmo tom de voz.

   Esse comentário não agradou nem um pouco ao Ryan.

   - Será que o “homem” aí prefere levar uma surra na frente dos amiguinhos ou quer mandar pelo menos as garotas para casa?

   Matt e Scott se aproximaram de Leo, que fez sinal para que eles recuassem.

   - Se você acha que me bater vai resolver o fato de você ter sido um completo idiota e recusado pela Sam depois desse teatro todo, isso só prova seu grau de idiotice. – depois que Leo disse isso, Ryan lhe deu um soco.

   Ficamos todos imóveis. Leo não pareceu sentir nada e mandou Matt e Scott levarem Pamella e eu para casa. Eles queriam levar Leo para casa também – ou pelo menos ficar e ajudar –, mas ele insistiu que ficaria bem e que passaria lá depois.

   Quando chegou, Matt e Scott haviam descido para comprar esparadrapo. Seu rosto tinha alguns cortes pequenos, que sangravam, e uma pequena marca roxa perto do canto exterior do seu olho direito. Tentei ficar calma, achei que fosse ser pior.

   Depois de Leo ter lavado o rosto no banheiro, coloquei-o sentado na mesa e Pamella trouxe o kit de primeiros socorros. Combinamos que eu faria o curativo enquanto ela ligaria para Matt e Scott para dar as notícias. Ela foi para o quarto.

   - Eu devo ser a pior amiga do mundo. Desculpe. – falei enquanto separava o que iria usar para limpar os cortes.

   - Você não teve culpa. – ele respondeu, enquanto eu molhava o algodão – E acho que ele não vai mais te incomodar.

   - Você sabe que não precisava ter feito isso, né? – falei enquanto limpava um dos pequenos cortes. Ele reclamou que ardia – Desculpe.

   - Tudo bem. – ele fez uma pausa e riu.

   - O que foi?

   - Isso me lembra de quando a gente era criança. Só que normalmente você estava ao meu lado, chorando. – nós dois rimos.

   - E inconformada porque eu achava que você não sentia nada. – completei. Fiz uma pausa e assumi um tom sério – Dói?

   Ele deu de ombros. Algumas pequenas reclamações depois – só quando alguma coisa ardia –, ele disse:

   - Sabe, essa minha briga com o Ryan... não quero que você se culpe. Não foi só por sua causa. Tem uma coisa sobre o Ryan que eu nunca te contei.

   - O quê?

   - Você lembra de quando eu sofria bullying? – condordei e ele continuou – Ryan era o pior. Ele era o que mais implicava comigo. E só fazia isso quando você não estava por perto. Quando você estava, deixava isso pros amigos. Lembra quando você ficou doente e não pode ir à aula e eu voltei com machucados? Ele tinha me batido naquele dia. Não te contei nada antes porque, quando a gente voltou a se falar, ele era seu namorado e isso já é muito antigo. Eu estava tentando descobrir se ele tinha mudado.

   Fiquei sem chão. Eu não sabia o que dizer. Isso explica o clima estranho quando eu falava sobre um na frente do outro ou quando eles se encontravam. Era tudo mentira. O Ryan que eu conhecia era um personagem. E ainda tinha mais: o final de semana com a Lauren, que costumava estar sempre com a gente, que sempre me pergunta sobre ele, que tem foto de nós três em tudo quanto é canto e que, com certeza, me fará lembrar de tudo.

   - Tudo bem. – respondi com o pouco de voz que consegui reunir – Eu acho que ele não vai mais ser um problema. Obrigada. Por tudo.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora