SAM
Decidimos fazer um piquinique para eu me distrair. Estava tudo bem até que ele chegou. Como se encarar o final de semana não fosse difícil o suficiente. Mas eu precisava de um ponto final.
Pamella não entendeu nada quando olhou para trás e viu Ryan caminhando na nossa direção. Pedi para irmos embora e todos perceberam o motivo pelo qual eu tenho estado para baixo. Quando ele estava perto o suficiente, dei alguns passos a frente, deixando Pamella, Matt, Scott e Leo para trás.
Ryan percebeu que eu já sabia de tudo quando ele se aproximou e eu o impedi de me beijar, mas, ainda assim, falou:
- O que aconteceu, minha princesa?
- Não me chama mais assim. Eu não uma princesa, muito menos sua. Você sabe muito bem o que aconteceu. Ou já esqueceu? Eu descobri, Ryan.
Ele fez uma pausa.
- Sam, me desculpe. Foi um momento de fraqueza, eu juro. Não vai acontecer de novo. – quando ele percebeu que eu iria me afastar, segurou minha mão, se ajoelhou e fez a cara de anjo que sempre me fazia perdoá-lo, que me fazia esquecer de tudo e me perder em seus olhos, mas isso não iria acontecer de novo - Me dá mais uma chance? Eu te imploro.
- Depois de ter me feito andar de um lado pro outro, confusa por ter acreditado em você e depois acontecer isso? Depois de você aparecer hoje como se nada tivesse acontecido? Depois de eu ter chorado todas as lágrimas que eu podia? Depois de eu me sentir a pessoa mais idiota do mundo por sua culpa? Não, obrigada.
Ele continuou implorando, dizendo exatamente as coisas que eu sempre gostei de ouvir e me lembrando das músicas que costumávamos cantar, as flores, as risadas, os planos, os sonhos, as danças na chuva e me fazendo perceber como é estranho ver que tudo aquilo se foi, me fazendo sentir um aperto no coração ao ver tudo aquilo indo embora. Senti até uma vontade de agarrar todos aqueles momentos e nunca mais soltar nenhum deles.
Mas ele os soltou por mim. E colocou uma parede de vidro entre mim e eles. Posso vê-los, mas jamais poderei tocá-los de novo.
Quando terminamos pela primeira vez, isso seria tudo o que eu poderia querer: Ryan de joelhos, querendo voltar, se lembrando das coisas boas, com os olhos brilhantes. Eu achava que ele era um príncipe, mas agora não o aceitaria de volta nem se ele estivesse correndo atrás de mim montado em um cavalo branco. Já não consigo nem olhá-lo do mesmo jeito, sem sentir que algo está errado. Não existe mais “felizes para sempre”. Nunca existiu, pelo simples motivo de vida real não ser conto de fadas.
O mundo é muito maior que Holmes Chapel e muito maior que Londres. Eu não tenho que aceitar o que só vai me deixar mal. Eu vou achar alguém que me trate bem. Ou até mesmo ficar melhor sozinha.
- Sam...
- Ela te perguntou alguma coisa. – eu disse, me recompondo, antes que eu começasse a chorar. Puta que pariu, né, Samantha! Se chorar por esse filho da puta, vai dormir no chão da sala!, ameacei mentalmente a mim mesma - Você disse sim. O que ela te perguntou?
- Foi um momento de fraqueza, Sam. Eu já falei. Eu não pensei direito. Eu bebi um pouco demais na noite anterior, tava de ressaca e aquela garota tava me irritando. Não vai acontecer de novo.
Então eu soube a pergunta feita. Ele teve escolha.
- Eu sei que não vai. Porque eu já terminei com você. Espero que tenha valido a pena. – falei, e parti ao encontro dos meus amigos, tentando não deixar na cara tudo o que eu sentia.
- Sam, é claro que não valeu a pena! – ele falou enquanto me seguia e pegava de leve no meu ombro.
- Solta meu braço!
Ele continuou insistindo e, então, o inesperado aconteceu:
- Ela já te falou pra soltar, deixa a garota em paz! – Leo falou, com uma voz firme, que passava força. Sua atitude surpreendeu a todos nós e fez Ryan largar do meu braço e se aproximar de Leo, que continuou com a expressão imutável.
- Olha só, o mudinho esquisito sabe falar.
Esse era um lado completamente diferente de quem eu conhecia como Ryan; sua expressão agora era completamente diferente da de vulnerabilidade, que demonstrou há menos de um minuto.
- Eu evoluí. Você deveria tentar algum dia. – falou Leo, mantendo o mesmo tom de voz.
Esse comentário não agradou nem um pouco ao Ryan.
- Será que o “homem” aí prefere levar uma surra na frente dos amiguinhos ou quer mandar pelo menos as garotas para casa?
Matt e Scott se aproximaram de Leo, que fez sinal para que eles recuassem.
- Se você acha que me bater vai resolver o fato de você ter sido um completo idiota e recusado pela Sam depois desse teatro todo, isso só prova seu grau de idiotice. – depois que Leo disse isso, Ryan lhe deu um soco.
Ficamos todos imóveis. Leo não pareceu sentir nada e mandou Matt e Scott levarem Pamella e eu para casa. Eles queriam levar Leo para casa também – ou pelo menos ficar e ajudar –, mas ele insistiu que ficaria bem e que passaria lá depois.
Quando chegou, Matt e Scott haviam descido para comprar esparadrapo. Seu rosto tinha alguns cortes pequenos, que sangravam, e uma pequena marca roxa perto do canto exterior do seu olho direito. Tentei ficar calma, achei que fosse ser pior.
Depois de Leo ter lavado o rosto no banheiro, coloquei-o sentado na mesa e Pamella trouxe o kit de primeiros socorros. Combinamos que eu faria o curativo enquanto ela ligaria para Matt e Scott para dar as notícias. Ela foi para o quarto.
- Eu devo ser a pior amiga do mundo. Desculpe. – falei enquanto separava o que iria usar para limpar os cortes.
- Você não teve culpa. – ele respondeu, enquanto eu molhava o algodão – E acho que ele não vai mais te incomodar.
- Você sabe que não precisava ter feito isso, né? – falei enquanto limpava um dos pequenos cortes. Ele reclamou que ardia – Desculpe.
- Tudo bem. – ele fez uma pausa e riu.
- O que foi?
- Isso me lembra de quando a gente era criança. Só que normalmente você estava ao meu lado, chorando. – nós dois rimos.
- E inconformada porque eu achava que você não sentia nada. – completei. Fiz uma pausa e assumi um tom sério – Dói?
Ele deu de ombros. Algumas pequenas reclamações depois – só quando alguma coisa ardia –, ele disse:
- Sabe, essa minha briga com o Ryan... não quero que você se culpe. Não foi só por sua causa. Tem uma coisa sobre o Ryan que eu nunca te contei.
- O quê?
- Você lembra de quando eu sofria bullying? – condordei e ele continuou – Ryan era o pior. Ele era o que mais implicava comigo. E só fazia isso quando você não estava por perto. Quando você estava, deixava isso pros amigos. Lembra quando você ficou doente e não pode ir à aula e eu voltei com machucados? Ele tinha me batido naquele dia. Não te contei nada antes porque, quando a gente voltou a se falar, ele era seu namorado e isso já é muito antigo. Eu estava tentando descobrir se ele tinha mudado.
Fiquei sem chão. Eu não sabia o que dizer. Isso explica o clima estranho quando eu falava sobre um na frente do outro ou quando eles se encontravam. Era tudo mentira. O Ryan que eu conhecia era um personagem. E ainda tinha mais: o final de semana com a Lauren, que costumava estar sempre com a gente, que sempre me pergunta sobre ele, que tem foto de nós três em tudo quanto é canto e que, com certeza, me fará lembrar de tudo.
- Tudo bem. – respondi com o pouco de voz que consegui reunir – Eu acho que ele não vai mais ser um problema. Obrigada. Por tudo.

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Cartas para Wendy
Romance"Pessoas são como flores: não as escolhemos pelo que as torna forte, mas pelo que as torna frágeis. Assim como as pétalas das flores caem, nossas fraquezas também somem, mas isso deixa nosso núcleo exposto demais e, este precisa ser protegido por n...