Capítulo 16

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  Sam:

  Minha cama afunda e volta ao normal, afunda e volta ao normal, afunda e volta ao normal. Já estou começando a ficar tonta e passar mal quando começo a recobrar a consciência.

   - É manhã de domingo! É manhã de domingo!

   - É Natal? – perguntei, ainda grogue.

   - Não.

   - Então pra quê tanta felicidade?

   Pamella riu.

   - Não sei. Anda logo, eu quero ir ao museu de cera, à tarde.

   Já faz algum tempo desde a última vez em que nós duas fizemos algum programa legal juntas e sem mais ninguém.

   Mesmo estando animada, estou também morta de sono.

   Quando viu que eu não estava com vontade de levantar, ela voltou a pular na cama, dessa vez com mais força e repetindo ainda mais entusiasmada que É manhã de domingo! É manhã de domingo!.

   Se fosse outra pessoa, eu já estaria cheia de raiva, mas essa é a garota que assinou um papel para oficializar nosso laço de fraternidade.

                                                           ***

   Eu nunca imaginei que algum dia me divertiria fazendo faxina. Para ser honesta, sempre odiei, mas então eu me deparo com situação de Pamella manuseando o esfregão de forma dramática ao som de um dos CDs de rock que surrupiei do meu pai antes de me mudar. Ela não sabe a letra de nenhum verso de nenhuma das músicas, mas interpreta teatralmente cada uma delas, jogando a ponta do esfregão para frente, junto com sua cabeça e seu cabelo preso. Eu sempre digo que algum dia o cérebro dessa garota ainda desliza para fora da cabeça.

   Em dado momento, ela sempre me puxa e me envolve nas suas interpretações, o que acaba sendo minha deixa para assumir meu lado rockstar reprimido.

   Ela faz o solo de guitarra enquanto eu limpo a bancada da cozinha. Eu canto o mais alto que o horário permite e Pamella faz uma embolação mais ou menos no ritmo da música, fingindo cantar também, enquanto aspira o carpete e sobe no sofá, fazendo uma pose de vitória.

   Nós sempre acabamos ficando no mesmo cômodo durante a faxina – no máximo em algum que esteja ligado por uma porta, mantida aberta -, para que nenhuma das duas desanime. É assim que eu e Pamella funcionamos: sendo idiotas, mas juntas; uma reforçado e apoiando a mongolice da outra, tornando aquilo tudo um exercício de liberdade e diversão que não existiria se estivéssemos separadas.

   Não existe outra pessoa no mundo que possa me fazer agir dessa forma em uma manhã de domingo, durante a faxina. Na verdade, não existe outra pessoa no mundo que possa me fazer agir assim em dia ou horário nenhum.

                                                           ***

   Depois da faxina, nós duas nos jogamos no carpete da sala, molhadas de suor, fedorentas e ofegantes, mas ainda assim rindo descontroladamente.

   Eu ainda tinha um pano na minha mão e comecei a bater nela. Pamella começou a fazer um barulho de porco asfixiado e eu quase me engasguei de tanto rir.

   - Róóóóóóinc. – ela fazia, ao mesmo tempo parecendo desesperada por ar, com os olhos esbugalhados, e arranhando a garganta.

   - Para!

   - RÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÍNC!

   Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas sei que quero que isso nunca acabe.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora