Sam:
Minha cama afunda e volta ao normal, afunda e volta ao normal, afunda e volta ao normal. Já estou começando a ficar tonta e passar mal quando começo a recobrar a consciência.
- É manhã de domingo! É manhã de domingo!
- É Natal? – perguntei, ainda grogue.
- Não.
- Então pra quê tanta felicidade?
Pamella riu.
- Não sei. Anda logo, eu quero ir ao museu de cera, à tarde.
Já faz algum tempo desde a última vez em que nós duas fizemos algum programa legal juntas e sem mais ninguém.
Mesmo estando animada, estou também morta de sono.
Quando viu que eu não estava com vontade de levantar, ela voltou a pular na cama, dessa vez com mais força e repetindo ainda mais entusiasmada que É manhã de domingo! É manhã de domingo!.
Se fosse outra pessoa, eu já estaria cheia de raiva, mas essa é a garota que assinou um papel para oficializar nosso laço de fraternidade.
***
Eu nunca imaginei que algum dia me divertiria fazendo faxina. Para ser honesta, sempre odiei, mas então eu me deparo com situação de Pamella manuseando o esfregão de forma dramática ao som de um dos CDs de rock que surrupiei do meu pai antes de me mudar. Ela não sabe a letra de nenhum verso de nenhuma das músicas, mas interpreta teatralmente cada uma delas, jogando a ponta do esfregão para frente, junto com sua cabeça e seu cabelo preso. Eu sempre digo que algum dia o cérebro dessa garota ainda desliza para fora da cabeça.
Em dado momento, ela sempre me puxa e me envolve nas suas interpretações, o que acaba sendo minha deixa para assumir meu lado rockstar reprimido.
Ela faz o solo de guitarra enquanto eu limpo a bancada da cozinha. Eu canto o mais alto que o horário permite e Pamella faz uma embolação mais ou menos no ritmo da música, fingindo cantar também, enquanto aspira o carpete e sobe no sofá, fazendo uma pose de vitória.
Nós sempre acabamos ficando no mesmo cômodo durante a faxina – no máximo em algum que esteja ligado por uma porta, mantida aberta -, para que nenhuma das duas desanime. É assim que eu e Pamella funcionamos: sendo idiotas, mas juntas; uma reforçado e apoiando a mongolice da outra, tornando aquilo tudo um exercício de liberdade e diversão que não existiria se estivéssemos separadas.
Não existe outra pessoa no mundo que possa me fazer agir dessa forma em uma manhã de domingo, durante a faxina. Na verdade, não existe outra pessoa no mundo que possa me fazer agir assim em dia ou horário nenhum.
***
Depois da faxina, nós duas nos jogamos no carpete da sala, molhadas de suor, fedorentas e ofegantes, mas ainda assim rindo descontroladamente.
Eu ainda tinha um pano na minha mão e comecei a bater nela. Pamella começou a fazer um barulho de porco asfixiado e eu quase me engasguei de tanto rir.
- Róóóóóóinc. – ela fazia, ao mesmo tempo parecendo desesperada por ar, com os olhos esbugalhados, e arranhando a garganta.
- Para!
- RÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÍNC!
Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas sei que quero que isso nunca acabe.
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Cartas para Wendy
Romansa"Pessoas são como flores: não as escolhemos pelo que as torna forte, mas pelo que as torna frágeis. Assim como as pétalas das flores caem, nossas fraquezas também somem, mas isso deixa nosso núcleo exposto demais e, este precisa ser protegido por n...