Cartas para Wendy

Capítulo 2

Leo:

      Chegamos à universidade e eu segui um caminho diferente do deles. Pela primeira vez em vários anos, nós três estamos estudando separados.

   Não vou mentir, isso me deixa completamente nervoso. Procurei achar algo fixo ao qual me agarrar. Meu horário.

   Segundo meu horário, minha primeira aula começava em menos de 20 minutos.

   Tentei não entrar em pânico. Fiz e refiz meu exercício mental (e, em parte, físico) de filtrar principalmente os sons que recebo e me preparar para entrar em um lugar com muita gente até que eu ficasse calmo.

   Me perdi umas três vezes no longo e, aparentemente, interminável caminho até a sala, mas consegui chegar a tempo. Esbarrei em uma garota de cabelo castanho, liso - que mais parecia ter sido lambido por uma vaca - e longo, com maquiagem (que só pelo cheiro eu sei que está exagerada) e um grupinho relativamente grande de meninas e meninos. A garota quase engoliu o chiclete, que ela mastigava feito um camelo.

   Eu sabia disso sem nem mesmo ter que olhar para o rosto dela.

   Tive a (in)felicidade de descobrir que ela é da minha sala, pelo menos nessa aula. Pude prever tudo: a garota popular e seus amiguinhos praticando bullying com o “garoto estranho que não fala com ninguém”. Tudo de novo, só que, dessa vez, sem ninguém para me ajudar. Eu estava sozinho, de novo.

   Acalme-se, Leonard. Não vai acontecer. Isso foi só sua insegurança falando.

   Conforme os anos foram passando, minha insegurança ficou cada vez mais forte, manipuladora, inteligente e falante. Se fosse uma pessoa, estaria orgulhoso dela.

                                                                                 ***

   Samantha Byrne... o nome me causou um leve déjàvu.

   Por um instante, fiquei com medo de ser a menina do corredor ou uma de suas amigas (será que ouvi algum nome?Não, não ouvi.), até que o professor disse:

   - Infelizmente, a Senhorita Byrne não está presente, mas não se preocupe, ela deve vir à próxima aula, quando explicarei o trabalho.

   Eu sou o único ser humano que acha o primeiro dia de aula essencial?

 

                                                                                 ***

   Encontrei Matt e Scott na universidade e nós fomos para casa conversando sobre nossas aulas, eles fazem uma das aulas separados. Só uma.

   Contei sobre minhas aulas e a tal da Alexia, que tem uma voz de taquara rachada e não cala a boca, se mete nos assuntos dos outros e começa a gritar e fazer uma zona, como se tivesse muita intimidade com as pessoas. Ela é muito escandalosa, daquele tipo que gosta de ser notada e quer isso a qualquer custo. Essa garota me fez quebrar dois lápis e já está fazendo meus tiques voltarem.

   As amigas não ficam muito atrás, também gostam de aparecer, mas fazem isso de um modo menos irritante.

 

                                                                                 ***