Capítulo 11

76 3 0
                                    

   SAM

   Faz alguns dias desde a festa, e Leonard continua agindo como se nada tivesse acontecido. Eu sabia que ele viria estudar aqui hoje, como faz todas as terças.

   Pamella arranjou uma desculpa qualquer para sair, e fiquei feliz por isso. Mesmo comigo desviando do assunto o tempo todo, ela percebeu justamente o que eu precisava: conversar com Leo. Sozinha. Mas ele continuou agindo como se nada tivesse acontecido, fazendo seus desenhos e suas anotações sobre a matéria e simplesmente ignorando o fato de ter me interrompido com um beijo enquanto eu falava e depois saído sem dizer uma única palavra.

   Eu já começava a me sentir idiota.  E a me sentir ainda mais idiota por me sentir idiota. Que tipo de pessoa julga os próprios sentimentos?

   - Isso já tá me irritando. – falei e ele me olhou de relance, assustado, já que estávamos em silêncio e eu falei isso “do nada” – Você não acha que a gente tem uma coisa muito importante para conversar?

   - Ahm... não sei, mas, julgando pelo seu tom de voz, eu vou chutar talvez. – ele respondeu, sem largar o lápis ou olhar para mim de verdade – Sobre o que você quer conversar?

   Isso é sério? Essa resposta foi bem pior que um “Não, porque aquilo foi um erro, eu não devia ter te beijado e me arrependo por ter feito isso. Eu estava torcendo para você ter esquecido, simplesmente pelo pouco caso que ele demonstrou. Era como se nada tivesse acontecido. Foi algo do tipo “Ah, então você sentiu alguma coisa? Foda-se!”.

   - Nada. – falei, não sabendo se estava magoada ou com raiva – Esquece.

   Não conseguia focar em mais nada. Terminamos de estudar mais cedo.

   Fiquei encolhida no sofá, abraçada com uma coberta e me perguntando o motivo de ter sido diferente para ele. Talvez eu estivesse certa e sua ex-namorada fosse a tal 0,75. Talvez aquele “incidente” depois da festa tenha sido efeito do ponche – ele tomou ponche? – ou alguma outra coisa boba. Talvez uma aposta. Talvez eu realmente não signifique nada.

   Talvez. Talvez. Talvez.

   Vivi e revivi na minha mente Leo falando isso. Inúmeras vezes.

   - Por que essa cara? – a voz de Pamella me trouxe de volta à realidade – Sam, você tá chorando?

   - Não é nada demais. Eu e o Leo terminamos mais cedo e acabei vendo um filme triste.

   Não tinha percebido que uma lágrima tinha escorrido. Saí do sofá, lavei o rosto e me deitei.

   Ótimo, agora estou me sentindo a pessoa mais dramática do mundo.

   - Só porque você não quer ter uma melhor amiga por perto, você não pode me impedir de ser uma. – Pamella falou depois de se sentar na cama e colocar minha cabeça no seu colo, enquanto me fazia cafuné. Era justamente algo que eu precisava – E a desculpa do filme é a coisa mais velha que existe.

                                                                 ***

   - Samantha, você comeu merda?  Achei que ele fosse, tipo, a última pessoa do mundo que você quisesse ver.

   A boa e velha Pamella, nunca exagerando.

   - Ei, ei, ei. Vai com calma. Eu só preciso me distrair um pouco. E, querendo ou não, ele vai ser sempre parte da minha vida. Daqui a trinta anos, se meus filhos me perguntarem quem foi meu primeiro namorado, ele vai continuar sendo a resposta. E nós dois passamos por muitas coisas juntos pra jogar tudo fora, sabe?

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora