Capítulo 21

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   Sam:

   - Esse eu fiz pra uma campanha contra o racismo que a Alison promoveu. Foi a primeira da ONG. Não foi muito longe, mas ela gostou do resultado. Eu fiz antes de entrar pro curso de desenho, por isso que não é muito elaborado.

   O desenho em questão consistia em várias linhas na vertical, formando tiras, e uma na metade da folha, na horizontal. As de cima estavam sem cor, e as de baixo cada uma com uma cor diferente.

   - Tem uma legenda atrás. Ela pediu pra escrever uma frase que ajudasse a entender, porque, segundo ela, "a arte é igual às atitudes das pessoas; difícil de entender se não souber o contexto".

   - Isso é verdade.

   Viro a folha. A legenda é: Ignorando a cor, é tudo igual.

   - Todas as listras têm exatamente o mesmo tamanho. - ele explica - As de cima não foram pintadas pra mostrar que são iguais; as de baixo foram pintadas cada uma de uma cor pra mostrar que é só isso que faz com que elas pareçam diferentes. Gosto de ver as pessoas assim; iguais, mas que parecem diferentes por causa de coisas bobas.

   - É uma representação impressionante. – não consigo deixar de lembrar que o Leo tem um problema em pronunciar palavras como “impressionante” e “literalmente”; é engraçado e fofo ao mesmo tempo, pra mim. Ele não gosta de não conseguir pronunciá-las corretamente – Simples, mas cheia de mensagem. Parabéns.

   - Obrigado.

   Continuamos examinando o conteúdo da caixinha de plástico parcialmente cheia.

   - São incríveis. – falo, enquanto espalho mais folhas pelo chão do quarto, tomando cuidado para não deixar nenhuma entrar debaixo da cama, para vê-las melhor – Por que os dragões e outros monstros não são coloridos?

   - Os desenhos são uma forma de eu me expressar. Quando desenho monstros e coisas do tipo, é porque eu me sinto ameaçado, e isso é meio “preto e branco” pra mim, se é que essa explicação faz sentido.

   - Faz, sim. Por que a maioria deles são dragões?

   - Acho que virou tipo uma metáfora. É enorme, ameaçador, amedrontador, forte e sombrio, mas eu consigo lutar contra. – ele vira para o chão e murmura “se eu tiver ajuda”, de uma forma que eu quase não entendi.

   - Todo mundo precisa de ajuda. Ninguém consegue matar um dragão sozinho. – falo. Ele concorda, enquanto espalha mais desenhos no chão – Você tem algum favorito?

   - Alguns. – sorri - Quer ver?

   Faço que sim com a cabeça e ele começa a procurar. Enquanto isso, vejo outros, aleatoriamente escolhidos, conforme Leo espalha as folhas. Alguns são abstratos e confesso que não os entendo, mesmo quando recebo uma explicação.

   Escolho um de uma rosa em uma mesinha, com o que eu julgo ser um espelho atrás. Nada mais está pintado, só a rosa bem vermelha.

   - Ah, você achou um deles.

   - O que esse representa?

   - Minha mãe, basicamente. Ela seria a rosa.

   - É lindo. Ela deve ter adorado.

   - Ela não sabe o que significa. Era um trabalho de artes da escola. A proposta era desenhar alguma coisa do cotidiano que é despercebida e/ou menosprezada por algumas pessoas, mas que você achasse muito importante, só que de uma forma diferente do que ela é. Na verdade, não é só minha mãe, mas ela foi a inspiração inicial.

Cartas para WendyOnde histórias criam vida. Descubra agora