Capítulo 3: Penina

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_ Michael, acorde! Hoje você vai trabalhar na vinha de Jacó – falou Rute com firmeza enquanto o sacudia levemente.

Eram quase 6 horas da manhã, quando Michael pôs-se a caminhar rumo à vinha de Jacó. Era necessário transpor os muros da cidade e descer o monte para chegar ao destino. A vinha era toda cercada por muros que mantinham os animais do lado de fora. Rute tinha um acordo com Jacó de que o trabalho de Michael renderia várias porções de uvas secas que eram consumidas pela família geralmente no inverno.

Havia cerca de 10 pessoas no local que estavam recebendo instruções do administrador. Enquanto ele falava, sorvia um grande gole de suco de uva que tirou de um pequeno jarro. Michael não prestou atenção àquilo que o administrador dizia, pois não tirava os olhos de uma adolescente de cabelos negros, magra, olhos amendoados castanho-esverdeados, nariz estreito e levemente adunco, pele morena clara e com cerca de 1,70.

Quando o administrador terminou de dar as instruções e foi inspecionar a vinha, a bela estranha esvaziou o jarro de suco e bebeu sofregamente.

No instante seguinte, o administrador desistiu da inspeção e voltou antes do início dos trabalhos. Virou o jarro e surpreendeu-se que estava vazio.

_ Quem bebeu o meu suco? Perguntou mirando severamente no pequeno grupo.

Michael ao ver que a bela estranha enrubescera as faces, gritou sem hesitação: _ Fui eu quem bebeu o suco.

_ Porque você admitiu o que fez, não vou expulsá-lo, mas a sua diária ficará reduzida à metade.

Michael não conseguiu esboçar qualquer reação, apenas olhou de soslaio para a bela estranha que lhe respondeu com um discreto sorriso de agradecimento. Michael ficou aliviado com a brandura da punição, visto que o administrador era pessoa de difícil trato e porque a sua família dependia daquela provisão.

Todos foram em direção às videiras para cortar os cachos de uvas maduros, deixando os que ainda estavam verdes.

As três garotas do grupo foram juntas e se comunicavam com falas rápidas entrecortadas de risinhos.

Enquanto cortava os ramos, Michael dirigiu-se ao seu colega: _ Josué, você conhece aquela garota com túnica colorida?

_ Conheço-a apenas de vista. Ela não faz parte do meu grupo.

Depois de feita a colheita, metade dos cachos de uva seriam destinados à fabricação de vinho. As uvas foram tiradas dos cachos e colocadas num reservatório de pedra retangular onde as uvas seriam amassadas com os pés. Antes disso, todos lavaram os seus pés demoradamente. Para os adolescentes, isso era uma festa! Pisavam nas uvas dançando e cantando. Michael aproximou-se da bela estranha e perguntou o nome dela, ao que ela lhe respondeu com um sorriso: _ Penina.

Toda a uva havia sido transformada em suco que escorreu para a parte mais baixa do reservatório. Dois dentre o grupo tiravam o suco da parte baixa do reservatório e colocavam-no em sacos de couro de bode. O suco de uva fermentava no saco de couro novo e expandia, daí porque a necessidade de que os odres fossem novos.

Um quarto dos cachos de uva foram embalados para serem transportados até a feira, que ficava intramuros da Cidade, onde seriam vendidos. O transporte precisava ser feito o quanto antes por meio de um carro de boi, para que a uva não murchasse.

Por fim, o quarto de uvas restante foi colocado no sol sob um grande tapete de couro, onde ficaria durante quatro dias secando.

Pouco antes do pôr do sol, o administrador da vinha veio para despedir os trabalhadores, dizendo que eles deveriam voltar dali a quatro dias para serem remunerados.

_ Penina, posso acompanhá-la até a cidade? Perguntou Michael com visível interesse.

_ Sim, pode sim, respondeu a menina.

_ De que família você é? Perguntou Michael.

_ Sou filha de Josué, o ferreiro, e procedo da tribo de Efraim.

_ Minha família também é efraimita e sou filho de José da guarda real.

_ Te agradeço por tomar as minha dores hoje.

_ Não foi nada!

Algum tempo em silêncio e Michael adianta-se à frente de Penina, segura-a levemente nos braços aproximando vagarosamente o seu rosto enquanto ela, fechando os olhos, também o faz, até que os lábios deles encontram-se num demorado beijo.

Michael deixa Penina na porta de sua casa e concordam ambos que não é o momento para apresentá-lo à família. Despedem-se com um beijo rápido, mas terno e apaixonado.  

O efraimita: a tribo perdida de IsraelOnde histórias criam vida. Descubra agora