Capítulo 13: A assembleia

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Leitura em gotas:

O efraimita: a tribo perdida de Israel


Capítulo 13º

A assembleia

Às 8:50 horas, a praça do palácio real estava lotada. Junto aos pilares encontravam-se os anciãos, Michael e mais 10 guardas reais, dentre os quais, José, o pai de Michael.

Quando o ancião Saul pegou o cone que servia de amplificador de voz, o burburinho cessou. Fez-se um grande silêncio.

_ Cidadãos de Samaria – gritou ele a plenos pulmões – hoje nos encontramos diante de um dilema que exige a nossa manifestação. Ontem, recebemos uma proposta para nossa rendição aos assírios. Michael, o arqueiro, vai dar os pormenores a vocês. Depois, nós iremos à votação entre permanecer intramuros ou nos entregarmos ao cativeiro assírio. Trata-se de uma decisão que todos nós devemos tomar. Que ela seja tomada com discernimento!

_ Samaritanos – bradou Michael com o cone sobre sua boca – como o ancião Saul nos disse, estamos diante de um dilema. Os assírios propõe a nós rendição total para sermos levados cativos para as terras assírias. Ficariam na cidade apenas os que não puderem se mover, acompanhados de cinco mulheres.

_ Como saberemos que não seremos trucidados ou esfolados pelos assírios depois de abrirmos os portões?

_ Isso nós não podemos saber, porque os assírios não nos deram nenhuma garantia disso. Temos quatro fatos a ponderar: o primeiro é que há cerca de 31 anos atrás, os assírios invadiram o Reino do Norte e levaram cativos cerca de 22.000 efraimitas que habitavam em outras cidades. O segundo fato a ponderar é que o exército assírio é a maior máquina de guerra do mundo e que eles costumam empalar e esfolar seus inimigos. O terceiro fato é, justamente, que os assírios não nos deram garantia de vida em caso de rendição. O quarto fato é que Javé livrou Samaria de um cerco dos amoritas anteriormente.

_ Quanto tempo nós poderemos resistir aos assírios? Perguntou uma voz no meio da multidão.

_ Cerca de um a um ano e meio dependendo da nossa produção e consumo. Respondeu Michael sucintamente.

_ E se nós recusarmos a rendição, seremos tratados sem clemência numa segunda rendição?

_ Os assírios não nos ameaçaram com retaliação – respondeu Michael - eles simplesmente disseram que morreríamos de fome caso não nos rendêssemos.

_ Qual é a posição dos anciãos? Perguntou um homem grande na multidão.

_ A posição deles é neutra; os anciãos irão acatar o resultado da assembleia.

_ Nós não podemos atacar os assírios de surpresa?

_ É uma possibilidade que será discutida entre os comandantes militares e o concílio de anciãos. Mas, essa não é uma opção neste momento. Respondeu Michael, que não quis dar mais detalhes sobre a resignação dos seus comandantes à situação do cerco.

_ No caso da nossa decisão ficar dividida, os que votarem pela rendição poderão entregar-se aos assírios?

_ Não, disse peremptoriamente Michael, todos deverão acatar o que for decidido pela maioria.

_ O que nos dizem os nossos sacerdotes de Javé sobre isso?

_ Assim como nós abandonamos Javé – respondeu Marducai – podemos esperar que Ele também nos tenha abandonado. Aqueles que cultuam a Javé em Samaria são uma minoria e os sacerdotes não receberam nenhuma mensagem de Javé. Já se foram os tempos de Elias e Eliseu.

Houve cerca de dois minutos de silêncio e Michael tomou a palavra: _ Alguém tem mais algum comentário ou pergunta a fazer? O silêncio respondeu enfaticamente. _ Pois bem, vamos à votação. Aqueles que votam pela nossa rendição aos assírios, levantem uma de suas mãos e as mantenham levantadas enquanto será feita a contagem.

_ 2.108 votos. Gritou um dos guardas reais, a quem foi atribuída a tarefa de contagem.

_ Agora, os que votam pela rejeição da rendição, levantem uma de suas mãos. Gritou Michael usando o cone.

_ 3.610 votos. Gritou o guarda da contagem.

_ Então – concluiu Michael - por maioria de votos está referendada pelo concílio de anciãos a decisão da assembleia de rejeitar a nossa rendição aos assírios.

Um grande burburinho formou-se, mas nenhuma comemoração aconteceu.

Michael cumprimentou aos anciãos e agradeceu-lhes pela confiança depositada e estes parabenizaram-no pela forma neutra com que presidiu a assembleia.

Esperou um pouco a multidão se desfazer e foi a sua casa para pegar seu arco e sua aljava. Chegou até a muralha cerca de 30 minutos depois e reuniu-se com os comandantes.

_ Michael - disse o comandante Daniel, nós queremos que você comunique aos assírios a decisão, mas o faça sem arrogância, se possível, até com humildade.

Os portões foram abertos e Michael desceu o monte empunhando a bandeira branca e com uma espada na cintura. No meio da descida, encontrou-se com o mesmo oficial com quem falara antes, mas, desta vez, ele não desapeou do cavalo.

_ Os efraimitas decidiram em assembleia que não irão se render.

_ Na verdade, eu não esperava outra coisa. Disse o oficial assírio, manobrando as rédeas para virar o cavalo 180º e fazendo, enquanto isso, uma mesura a Michael.

Michael voltou à muralha e encontrou-se com seu amigo, Simeon. _ Não sabia que você também era um bom orador!

_ Na verdade, em tempo de necessidade, até gafanhoto temos de capturar. Disse Michael com tom jovial.

_ Qual é a sua avaliação? Perguntou Simeon.

_ Eu acho que, no momento, foi a melhor decisão. Ainda é muito cedo para nos rendermos. Muita coisa pode acontecer no período de um ano.

_ Michael, você se esqueceu? Hoje é sábado. Vá para casa.

_ É mesmo! Nem percebi. Até amanhã Simeon.

_ Até amanhã, Michael.

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O efraimita: a tribo perdida de IsraelOnde histórias criam vida. Descubra agora