Prometa para mim

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"Você sabe que nos pertencemos
um ao outro.
Não dá
pra simplesmente fugir disso".

***

Já é quase Natal e nada parece ter mudado, desde que eu joguei o computador do Heitor pela janela ele perdeu a coragem de me olhar nos olhos.

Embora houvesse um burburinho na escola toda, mas toda mesmo, que eu estava namorando com o Juliano, éramos só amigos que se ajudam nas disciplinas mesmo.

E embora eu tivesse dá brechas milhões de vezes pra ele repetir tudo o que me falou quando achou que eu estava "fora de área de cobertura", ou explicar a tulipa que abandonou nos meus pés, mas ele não o fez. Talvez isso signifique que ele se arrependeu do que disse, talvez signifique que ele não serve, mas servir pra que?

Estamos no fim de novembro, e está ficando cada vez mais frio, embora a maioria massacrante dos alunos iria passar as festividades em casa, ou com a família na Europa, as janelas dos quartos do dormitório começaram à ser decoradas com luzes e neve de espuma acrílica conforme a personalidade dos ocupantes, menos a minha e do Heitor.  Provavelmente ele iria pra casa passar o natal com Alice e os pais.

Quando terminei as provas finais, pedi uma autorização pra sair da instituição, só por força do hábito, já que as provas finais já acabaram e eu oficialmente tenho autonomia de sair quando desse vontade.

Meus pais estavam na Europa há três anos, a empresa cresceu, e se alastrou  e com isso veio muito mais trabalho. Esse ano só me ligaram no meu aniversário, e já é quase natal não deram nenhum sinal de vida. Provavelmente passarei aqui mesmo, não que me importe com isso.

Parei na frente da primeira loja de departamento que eu achei, gastei uma pequena fortuna em artigos natalinos  que pudessem ser todos colocados na janela. Estava determinada em fazer a melhor decoração de todos os dormitórios.

Quando eu cheguei no quarto, tinha duas malas prateadas próximo a porta. Graças ao bom Deus! Ele vai embora.

Passei cola na minha estrela toda com pincel e mergulhei ela em purpurina dourada, esperei secar e pendurei no meio da parte mais alta da janela, e no parapeito colei a neve falsa e preguei  uma meia natalina com pompoms o meu nome escrito com cola relevo dourada combinado. Quando terminei tudo ficou parecendo o covil do papai noel, mas tudo bem. Peguei meu celular e uns livros pra trocar na biblioteca por outros pra passar o tempo.

Quando eu voltei, eu parei no gramado em frente ao prédio-dormitório pra ver como ficou de fora. Com certeza a minha janela se destacou pela quantidade de quinquilharias. Escolhi tudo vermelho e dourado pra diferenciar do verde-vermelho padrão, mas tinha uma coisa lá que eu não tinha colocado. Tinha uma estrela à mais, uma estrela com purpurina prateada, e descentralizada. Heitor! Quer saber, dane-se, faça o que quiser.

Subi marchando as escadas ensaiando mentalmente uma série de chingamentos pra despejar encima dele, ou do primeiro que aparecer na frente.

Quando cheguei as malas não estavam lá, a cama não tinha mais lençóis ou travesseiros. Ele ja tinha ido.

Sobre a minha mesa tinha um embrulho cinza com um laço prateado e um post-it verde limão pregado.

"As damas sabem contra o que ficar prevenidas, porque leem novelas que lhes falam desses truques; eu, porém, nunca tive ocasião de ler dessa maneira, e a senhora não me ajudou."
F

eliz Natal tenente.
-Heitor.

Depois de ler o post-it eu desisti completamente de abrir. Primeiro pela referência à Tess D'Urbervilles, e segundo porque era do Heitor.

Véspera de Natal

No fim das contas o pai do Juliano precisou ir pro Japão e não poderia ir, por que tinha algo interditado, e acabou que passamos o dia juntos. De dia no quarto dele comendo milhares de biscoitos importados e chá de canela, e a ceia de natal no meu. No caso, umas pizzas frias da dominos, e 3 garrafas de vinho mequetrefe direto no gargalo e uma garrafa de vodca russa que ele trouxe. Por volta das 3 da manhã depois de muita pizza e álcool e conversas e risadas descontroladas de bêbado, ele apagou em cima da cama desfeita do Heitor. Tenho certeza que amanhã ele vai torcer o nariz pra o colchão cru embaixo dele, mas tudo bem.

Procurei um cobertor extra no meu armário, achei um edredom vermelho com renda preta, meio sexy demais, mas o resto eu mandei pra lavanderia... espera ai, eu só tenho um cobertor ? Aaaah não, de novo não.

Não É Um RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora