Um dia de paz é pedir muito ?

72 9 15
                                    

É dia 31 de Dezembro, e na terra do sol nascente significa que estamos bem no começo de uma série de tradições à serem seguidas à risca ou trará mal agouro no ano que está entrando e como uma a pessoa supersticiosa que sou, obviamente vou seguir t...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

É dia 31 de Dezembro, e na terra do sol nascente significa que estamos bem no começo de uma série de tradições à serem seguidas à risca ou trará mal agouro no ano que está entrando e como uma a pessoa supersticiosa que sou, obviamente vou seguir tudo certinho, vai que dá certo. Começamos tudo com uma visitação no templo que está cheio de gente, compramos uns amuletos muito fofinhos, e fomos pra casa dos pais dele.
No caminho, uma garota nem particularmente bonita nem feia, mas muito muito magra, de cabelos finos e orelha de abano, gritou alto demais até Náááôôkiii, e veio correndo com suas perninhas pequenas e finas na nossa direção, passou por mim como se eu fosse um jarro de decoração, e foi falar com ele.
Na verdade ela parou na frente dele e ficou fazendo umas expressões engraçadas, como se estivesse beijando o vento, eu sei lá, ele fechou a cara como se tivesse vendo um côcô de cachorro na sola do sapato, eu juro que tentei segurar, mas não aguentei, e comecei a rir que não parava mais, ele me abraçou subitamente pela cintura o que fez minha risada parar instantaneamente, e falou ríspidamente em japonês com a garota que ainda não tinha dito absolutamente nada. Que saiu chorando e correndo fazendo um escândalo. Cá entre nós, que ela deveria ser contratada pra fazer novela mexicana, porque foi um escândalo e tanto...
O resto do dia ele ficou emburrado, e extremamente protetor, aonde eu ia ele estava lá me esperando, de mal humor e frio comigo e com todo mundo, mas grudado, tenho total certeza tem a ver com a garota, mas toda vez que eu tentei perguntar, ele ficava ainda mais emburrado.
Após o jantar, eu perguntei à senhora Irie sobre a tal garota, e ela também fechou a cara, pegou uma caixa de biscoitos com cobertura de chocolate no armário da cozinha e me chamou para dar uma volta no Jardim, fazendo um suspense terrível.
Saimos pelos fundos da casa, onde havia um pomar lindo de cerejeiras já estávamos relativamente distante, quando, vi uns bancos numa clareira, onde nos sentamos, depois de mais alguns minutos de silêncio ela abriu a pegou um biscoito, e me passou a caixa e começo:
-O nome dela é Kotôkô Aihara, ela morou conosco um tempo, antes do Naoki ir fazer o ensino médio no Brasil. A Kotoko teve uma história muito triste e longa...
-Continue, por favor senhora.
-A mãe dela morreu muito jovem, o pai dela a criou sozinho, com muito custo juntou dinheiro para comprar uma casa, que desabou assim que se mudaram. Sorte que nenhum dos dois estavam em casa na hora do desabamento, mas eles perderam absolutamente tudo. Ao que parece, um mal caráter vendeu uma casa condenada. O caso todo foi parar na televisão, e meu marido, se compadeceu da história triste e ofereceu nossa casa, para eles morarem, emprego para o pai dela, e tudo mais, eles não precisariam se preocupar com nada.
-Quanta generosidade, no Brasil isso jamais funcionaria, existe uma desconfiança mútua, a qualquer tipo de ajuda...
-Deveríamos ter tido, não quanto ao senhor Aihara, ele é um homem honesto, trabalhador, e gentil. Mas ele não passava muito tempo com a filha, ele não a conhecia o suficiente para saber que ela tinha problemas.
-Que tipo de problemas?
-Mentais eu suponho, o que sei de certeza, é que o Naoki a ajudou uma vez no Colégio, com umas meninas malvadas que estavam tirando sarro das orelhas da Kotoko, e daí por diante ela ficou obcecada por ele. A princípio era bonito a paixão que ela tinha pelo nosso Naoki, mas como ele apenas a desprezava, ela começou a ficar assustadora. E passou à persegui-lo a todos os lugares, roubar-lhe coisas, cortou o cabelo de uma jovem que conversou com ele, entre outras coisas assustadoras, tentamos alertar o senhor Aihara, que a filha estava se comportando inadequadamente, até mesmo para uma menina apaixonada, mas ele não via da mesma maneira, ficou muito magoado com nossa observação, e partiu. Na mesma semana a kotoko colocou fogo na dupla de dança do Colégio do Naoki, quando eles ganharam uma competição de escolas, a pobre garota ficou careca e teve queimaduras bem feias na cabeça que deixaram cicatrizes. Ela foi internada em um hospital psiquiátrico e mandei o Naoki para o Brasil, lá o pai dele o protegeria, e ficariam todos à salvo. Hanna, eu não sei como, nem quando a Kotoko saiu do hospital, mas tenha muito cuidado. Não fique sozinha em locais públicos. Não sabemos o quão louca ela está agora.
-Deveríamos partir depois do ano novo ?
-Talvez devessem sim, até onde sabemos, a Kotoko pode ser muito perigosa. Mas tenho certeza que o nosso Naoki cuida bem de você. Não mude seus planos por causa dela, mas não fique sozinha em lugar nenhum, sobretudo lugares públicos.
Nesse ponto da conversa chega ele correndo com o rosto suado o cabelo pregado na testa, com o rosto desesperado, quando nos viu juntas aparentemente bem, e comendo biscoitos, tentou disfarçar a real preocupação, colocando a culpa no frio intenso aqui fora, voltamos para a casa em silêncio, e ficamos lá até as 8 horas da noite, quando pegamos um taxi para o hotel. Não falamos nenhuma palavra até eu fechar a porta do quarto. Quando me virei ele correu na minha direção, se ajoelhou nos meus pés, aos prantos me pedindo desculpas desesperadamente por ter me trazido ao Japão, se eu não estava com medo da orelhuda, agora eu estava realmente apavorada.

Não É Um RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora