Caminho sem volta

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Seguimos num silêncio constrangedor por 40 minutos, que mais pareciam 4 meses, silêncio esse que só foi interrompido quando chegamos.
Ele saiu na frente, eu saí logo em seguida.
A casa era enorme e intimidadora, representa bastante os donos por sinal. Os pais dos dois não estavam em casa e não tinha qualquer previsão de quando/se iriam aparecer em algum momento, então estaríamos basicamente à sós, nos 3 e um punhado de empregados que se espreitava atrás do mobiliário como se fossem almas penadas, era tudo um tanto frio e impessoal.
O jantar foi de longe a cena mais deprimente da noite, nós 3 sentados em total silêncio encarando os pratos até alguém na cozinha deixar cair algo metálico no chão e fazer aquele som característico que nos fez acordar do transe e se levantar da mesa.
Já passa de 1 hora da manhã e nenhum sinal do Naoki, nenhum carro na estrada, nenhuma ligação. Heitor já ligou umas 28 vezes para o motorista, mas ele não atende, as dez horas da noite parou de chamar, provavelmente descarregou. Já tentamos o celular do Juliano, mas nada também, mas esse ainda chama. Por volta das 3 horas da manhã, a Alice apagou desajeitadamente no sofá da sala, e estamos andando em círculos na sacada do terceiro piso, com celular, e computadores ligados esperando qualquer sinal de vida,ou Deus me livre, notícia de morte.
Quando eu comecei a cogitar ligar para os necrotérios e hospitais, um a carro aparece na estrada cantando pneu como se estivesse em velozes e furiosos.
Quando Can, Giselle, Clari sairam do carro não consegui esconder minha decepção. O Heitor tinha falado algo à respeito, mas eu tinha esquecido completamente.

-Desculpa, eu mandei uma mensagem pra elas virem.

-Ta bem, é só que... eu queria... eu pensei...

-Hanna eu sei, só pensei que você se sentiria mais confortável se elas estivessem aqui também...

-Dividimos o mesmo quarto no Colégio, não temos problemas pra dormir só.

-Desculpa.

-Para de pedir desculpa!

-Ta, desc...

-Nem pense nisso!

-Senti sua falta, Hanna. Vou pegar uma água na geladeira, quer alguma coisa?

-Que?!

-Água, sabe aquele fluido que todo mundo precisa beber pra não morrer seco.

-A outra coisa.

-Senti sua falta, senti mesmo, até ter você me ameaçando me jogar janela a fora é melhor do que não te ver de jeito nenhum.

-Arrependimentos ?

-Me tornei colecionador de arrependimentos.

-Bom saber, trás água pra mim também, ou algo mais forte.

-Whisky ou café ?

-Café, não é de bom tom fazer festa com alguém desaparecido.

-Faz sentido.
Quando ele termina de falar os computadores e o celular dele tocam ao mesmo tempo.

Querida noiva de mentirinha
Sinto dizer, mas não poderei me juntar à você hoje, coisas catastróficas aconteceram aqui e no Japão, longa história. Eu sei que você está segura agora, mas eu tenho mesmo que ir pra casa, tentei te ligar umas mil vezes, mas o celular nem chama e eu demorei um pouco pra chegar numa zona de wi-fi pra te mandar esse email, falo com você assim que eu chegar em Tóquio.
Não se esqueça de mim.
Seu, Naoki Irie♡

Heitor
Minha família está com problemas, cuide da Hanna, não sei quando volto ou se vou voltar, não a irrite, não deixe ela sozinha em nenhum lugar, não deixe que ela corra risco com a Kotoko, o mais importante, não deixe ela me seguir até aqui.
Estou contando com você.
JULIANO IRIE.

-Hanna ainda quer aquele café ?

-Como assim ele está indo pro Japão agora? A casa foi invadida, quebrada, incendiada eu quase fui assacinada e ele vai pra Tóquio? Quero sim, duplo, forte, puro e sem açúcar.

-Ele deve ter seus motivos.

-A nossa casa foi atacada com uma louca incontrolável! O que pode ser pior que isso yakusa ?! Al-qaeda?! E mesmo assim, o que ele poderia fazer lá sozinho? Exército de um homem só é poético e tudo, mas na real é suicídio.

-Continuo, ele deve ter seus motivos, ficar mensurando não vai ajudar em nada... tem certeza do café? Você ta muito agitada, talvez você devesse...

-Se você falar que devo me acalmar eu juro que cumpro a promessa e te jogo daqui! Mas em parte você tem até razão...

-Tenho ?!

-Se depois de tudo que aconteceu ele não se deu ao luxo nem de passar aqui pessoalmente pra dizer que ia pro Japão, seja lá o que tenha acontecido lá deve ter sido exponencialmente pior...

-Exato.

-Tenho que ir pra lá também.

-Não, de jeito nenhum!

-Não acha que devo? Mas você concordou, Heitor!

-Pensa, ele não te chamou! Estou certo que, se fosse o caso ele te levaria, to errado?

-Não, mas...

-Quando ele foi convocado à passar o fim de ano em casa, você teve que segui-lo ou ele te chamou ?

-Ele meio que me convocou também...

-Você vai considerar o que eu disse e ficar dentro dos limites desta casa?

-Nem ferrando.

-Não vou deixar você ir embora atrás de alguém que não te convidou, de todo jeito.

-Vai me prender num potinho?

-Para de fazer pirraça, ele não te quer lá! Lá você vai atrapalhar e dar trabalho!

-Mas e se ele estiver precisando de mim ?

-Filha, tem uma maluca no teu encalço, você precisa de proteção e vigilância o tempo todo, ele nitidamente não tem tempo pra isso! Fica aqui que eu tenho tempo e disposição pra isso. Quero você aqui, dá pra só ficar onde está ?!

-Tanto faz.

-Vem, vamos entrar, ta ficando frio, tuas amigas à essa hora ou dormiram ou estão quebrando a casa.

-Não quero entrar agora, ou elas estão bêbadas e dando a mínima, ou estão dormindo e babando uma em cima da outra...

-Sei, como você mais cedo...

-De qualquer forma eu não estou em clima pra festa do pijama...

-O dia está quase amanhecendo e você não comeu nada até agora, quer comer alguma coisa?

-Eu estou bem.

-Os empregados estão todos dormindo, mas ainda podemos assaltar a geladeira, acho que ainda tem torta de maçã, sorvete de creme...

-Ta bem, você venceu.

-Já trago, fica ai e tenta não pensar besteira.


Não É Um RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora