From the road to the house a lot can happen

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  (Beatriz)

      Lentamente ela se vira para mim. Estamos uma encarando a outra, mas não falamos ou nos movemos. Travo meus dentes e deixo o ar sair por meus lábios entreabertos.

    Seus olhos azuis estão caídos, sua boca branca e seus braços machucados. 

 Engulo a seco e a vejo caminhar até a janela do carro. Eu a acompanho com os olhos. Ela bate no vidro e acena como se pedisse para eu sair, mas nada digo. Apenas tiro o cinto de meu corpo, abro a porta e saio do carro. 

   Uma única e simples gota cai sobre nós, eu não tiro meus olhos dela nem por um segundo.

-Você está viva. -ela trava o maxilar.

-Achou mesmo que eu não escaparia daquela floresta? Eu demorei, mas eu consegui me livrar daquele maldito lugar. -ela cerra os cílios e cospe suas agressivas palavras em cima de mim.

-Demorou? 

-Um ano. -abro a boca, indignada. Não é possível! Depois que nós saímos de lá, ela ainda demorou mais um ano presa na droga da floresta. Eu sinto tanta pena dela.

-Eu sinto muito. -abaixo a cabeça, mas levanto no mesmo segundo.

-Não, você não sente. -ela se afasta um pouco de mim, mede-me dos pés a cabeça. Pergunto-me se foi um ideia boa sair do carro. 

  Mais um pingo cai sobre minha cabeça...não me importo.

-Ele está vivo. -ela vira de costas para mim e olha para o horizonte. A estrada sinistra está cada vez mais quieta. 

-Como sabe? -sinto um aperto.

-Eu ainda o sinto. -ela diz e volta se virar para mim.

-Não é possível. -comento.

-Oh...é muito possível. Eu posso o sentir a cada segundo viva. -seus lábios se curvam para um malicioso sorriso. 

-Eu aposto que sim. -passo a língua em meus dentes. Ela ergue a sobrancelha e empina a sua cabeça. 

-A dor que eu sinto, não se compara ao ódio que que eu sinto por você. Cada traço seu, cada palavra dita, seu cheiro enjoativo...-ela cospe no chão. Ergo a sobrancelha, surpresa, mas não abalada. 

-O que você está fazendo nessa estrada? É tarde. -ignoro seu comentário. 

-Eu sinto vontade de apertar o seu pescoço, até o seu ar ser insuficiente. -a loira gesticula.

-Eu não deveria ter parado. -viro-me pronta para entrar no carro outra vez, mas sou completamente interrompida. 

      Suas mãos grandes e magras, agarram meu braço puxando-me para trás com tal brutalidade. Eu caio no chão sem nenhuma dificuldade.

     Assusto-me com a sua força surreal. Eu tento me levantar, ela me impede. Eu percebo então que seu vestido branco está ensaguentado e que seus olhos estão meio amarelados. Ela está claramente doente. 

   Ela bota o pé por cima de mim e o força sem piedade nenhuma, na região da minha barriga. O meu ar fica pouco. Eu empurro o seu pé para trás e tento me levantar, ela é mais rápida. Ela sobe em cima de mim e me dá o primeiro soco no rosto, mas isso me deixa irada. Travo os dentes e devolvo o soco, ela cai para trás. Eu a empurro contra o meu carro e bato as suas costas na porta de metal. 

  A chuva agora está mais forte do que antes. A água forte cai por sua cabeça e o sangue vem junto. Acordo para a realidade e então dou um passo para trás. Ela fecha a cara e diminui o seu olhar furioso para mim.

The Killer/ EM CORREÇÃO/Onde histórias criam vida. Descubra agora