A impressão é de que estamos percorrendo a mesma rua, várias vezes, desde que saímos do Rosie's. Como se Brad estivesse querendo fazer hora.
– Você estava na festa? – pergunto. Brad olha pela janela e muda de pista.
– Não. Lauren, eu preciso saber se você vai ficar bem.
É impossível responder. Porque eu não a empurrei para longe. Não fiz aumentar sua dor, nem fiz nada para magoá-la. Em vez disso, eu a deixei sozinha naquele quarto. A única pessoa que poderia ter sido capaz de se comunicar com ela e salvá-la de si mesma. Para tirá-la do rumo que ela estava tomando, fosse qual fosse. Eu fiz o que ela pediu e fui embora. Quando deveria ter ficado.
– Ninguém me culpa – sussurro. Preciso ouvir isso em voz alta. Preciso ouvir as palavras ecoando no ar, não apenas dentro da cabeça. – Ninguém me culpa.
– Ninguém – confirma Brad, ainda com os olhos na pista.
– E você? – pergunto. Nós nos aproximamos de um cruzamento e desaceleramos. Por um instante com o canto do olho, ele me espia. Ai volta a fixar o olhar em frente.
– Não, eu não culpo você.
– Mas por que você? Por que ela deu para você o outro jogo de fitas?
– Vou levar você até a asa de festa. Vou te contar lá.
– Você não pode me contar agora? - ele dá um sorriso apagado.
– Estou tentando manter a gente na pista.
Play.
Logo depois que Lauren foi embora, o casal do sofá entrou no quarto. Na verdade, seria mais preciso dizer que eles tropeçaram dentro do quarto. Lembram-se deles? Eu achei que ela estava se fingindo de bêbada, esbarrando em mim para que nós levantássemos e fossemos embora. Infelizmente, não era teatro. Ela estava chumbada.
Eu passei por eles no corredor. Dinah estava com um dos braços caído sobre os ombros de Austin. Com o outro, ela tateava a parede, tentando manter o equilíbrio. E claro que não os vi entrar, pra dizer a verdade.
Eu continuava no chão, com as costas apoiadas do outro lado da cama, e estava escuro.
Quando sai do quarto, me senti tão frustrada. Tão confusa. Encostei no piano da sala de estar, quase como se precisasse dele para segurar em pé. O que eu deveria fazer? Ficar? Ir embora? Mas aonde eu iria?
Seu coleguinha do sofá evitou que ela batesse com tudo no criado-mudo. E quando ela rolou para fora da cama duas vezes ele a ergueu de volta. Um cara tão legal que riu o mínimo possível. Achei que ele a colocaria debaixo das cobertas e fecharia a porta atrás de si, ao sair. E esse seria o momento perfeito para eu escapar. Final da historia.
Camila não foi o meu primeiro beijo. E sim o primeiro que importou; o primeiro beijo em alguém que me importava. E, depois de conversar com ela durante tanto tempo, aquela noite, presumi que era apenas o começo. Algo estava acontecendo entre nós. Algo forte. Eu sentia isso.
Mas esse não é o final da historia. Porque não daria uma fita muito interessante, daria? E, a esta altura, tenho certeza que vocês já sabiam que não era o fim.
Mesmo sem decidir para onde ir. Sai da festa.
Em vez de ir embora, ele começou a beijá-la. Sei que alguns de vocês facilmente teriam ficado para aproveitar uma oportunidade voyeurística tão incrível. Um contato imediato de grau sexual. Mesmo que não vissem a cena, poderiam, pelo menos, escutar. Duas coisas, porém, me mantiveram ali embaixo, no chão. Apertando a testa contra os joelhos, percebi o quanto eu tinha bebido naquela noite.
E, como já não conseguia me equilibrartão bem, atravessar o quarto correndo parecia um pouco perigoso. Essa, portanto, é a primeira desculpa. A desculpa número dois é que as coisas pareciam estar chegando ao final ali emcima. Não apenas ela estava bêbada e atrapalhada, como parecia estar completamente inerte. Até onde eu podia ver, não aconteceu nada além de alguns beijos. Beijos que, alias, não pareciam ser recíprocos. Mais uma vez, o cara foi tão legal que não se aproveitou da situação. Ele estava a fim. Tentou, durante um tempão, extrair alguma reação dela.
― Você ainda está acordada? Quer que eu te leve ao banheiro? Você vai vomitar?
A garota não esta totalmente inconsciente. Ela gemia e resmungava um pouco. Até que ele – finalmente – se tocou de que ela não estava num estado de espírito romântico e provavelmente não estaria por algum tempo. Ai, ele a colocou debaixo das cobertas e disse que viria dar uma olhada dela dali a pouco. Depois, foi embora.
Vocês devem estar se perguntando: quem são essas pessoas? Camila, você esqueceu de contar o nome delas. Eu não esqueci. Se há uma coisa que ainda tenho é memória. O que é péssimo. Se eu esquecesse as coisas de vez em quando, todos nos estaríamos um pouco mais felizes.
A neblina estava pesada quando sai da festa. Enquanto eu atravessa o bairro a pé, começou a garoar. Ai, veio a chuva. Mas quando comecei a caminhar, era apenas uma nevoa densa, deixando tudo meio nebuloso.
Não, nesta fita aqui, vocês vão ter de esperar para escutar um nome. Se estiverem prestando bem atenção, já dei a vocês essa resposta há muito tempo. Antes de eu dizer o nome dele em voz alta, esse cara precisa fritar um pouco para lembrar de tudo o que aconteceu naquele quarto. E ele lembra. Eu sei que sim. Eu adoraria ver seu rosto agora. Seus olhos fechados, bem apertados. Os maxilares cerrados. As mãos arrancando os cabelos. E é para ele que eu digo: Negue tudo! Vá em frente, negue que eu estava naquele quarto. Negue que eu sei o que você fez. Ou melhor: não o que você fez, mas o que deixou de fazer. Aquilo que você deixou acontecer.
Procure argumentos para que sua segunda aparição não seja nesta fita. Deveria ser numa fita posterior. Tem de ser numa fita posterior. Ah, é mesmo? E você gostaria que fosse assim? Uma fita posterior melhoraria as coisas? Não a porte nisso.
Meu Deus. O que mais poderia ter dado errado naquela noite?
Eu sei que ela não era sua namorada, que você mal conversava com ela e, inclusive, mal a conhecia, mas será essa sua melhor desculpa para o que aconteceu a seguir? Ou será sua única desculpa? De uma maneira ou de outra, não há desculpa. Eu me levantei, me equilibrando com uma das mãos apoiadana cama. Seus tênis – a sombra dos seus tênis – permaneciam visíveis na luz entrava por baixo da porta. Porque, quando você saiu daquele quarto, assumiu um posto de sentinela ali fora. Eu tirei a mão da cama e comecei a andar na direção daquele fiapo de luz, sem saber ao certo o que ia lhe dizer quando abrisse a porta. Mas, no meio do caminho, mais um par de tênis surgiu e eu parei.
Quando fui embora da festa, sai andando sem rumo. Varias quadras, sem querer ir para casa. Sem querer voltar.
― Não. Deixa ela descansar.
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suicide girl ; camila&lauren (revisão)
FanfictionLauren encontra uma caixa de fita cassetes em frente a sua casa endereçada para ela. Nas fitas são gravações de Camila Cabello. Uma garota que cometeu suicídio à algumas semanas atrás.