Play.
Sinceramente, todas as vezes em que estive no Blue Spot não lembro ter visto o cara do caixa emitir uma única palavra. Estou tentando lembrar um só "alô", "oi" que seja, ou mesmo um grunhido amistoso. Mas o único som que eu, alguma vez, ouvi dele foi por sua causa, Zayn. Valeu!
Zayn! É isso mesmo. Ontem alguém o empurrou no corredor. Alguém empurrou Zayn para cima de mim. Mas quem foi?
Aquele dia, como de costume, uma campainha tocou, em cima da porta, quando entrei. Tcha-ting!, fez a registradora.
Escolhi um doce na prateleira sobre o balcão, mas não posso contar para vocês qual foi, porque não me lembro.
Segurei Zayn para impedi-lo de cair. Perguntei se estava bem, ele simplesmente me ignorou, pegou a mochila do chão e saiu apressado pelo corredor.
Será que fiz alguma coisa que o irritou?, perguntei a mim mesma. Não consegui pensar em nada.
Se eu quisesse, poderia contar para vocês o nome da pessoa que entrou enquanto eu procurava dinheiro na mochila.
Lembro bem quem foi, mas não passa de um entre os vários babacas que conheci na vida. Não sei, talvez eu devesse expor todos.
Mas no que diz respeito da sua história, Zayn, o ato dele - o ato horrível e nojento dele - foi apenas um efeito colateral do seu.
Além do mais, ele tem uma fita inteira só para ele. Minhas sobrancelhas se contraem. O que teria ocorrido naquela loja por causa da lista do Zayn?
Não, eu não quero saber. E não quero ver o Zayn.
Não amanhã. Nem depois de amanhã.Não quero ver Zayn nem Austin. Nem o idiota do Calum Jumento. Quem mais está envolvido nisso?
Ele abriu aporta do Blue Spot com força. "Qual é que é, Wally?", falou com toda aquela arrogância, que soava tão natural saindo da sua boca.
Deu para perceber que não era a primeira vez que ele falava daquele jeito, agindo como se o cara do caixa estivesse abaixo dele.
"Mila, oi", ele disse, "Não tinha visto você."
Eu o cumprimentei com um sorrisinho, achei meu dinheiro e coloquei na mão enrugada do Wally. Até onde percebi, ele não deu a mínima ao cara que havia entrado.
Nem um olhar, um tremor no rosto ou um sorriso - como costumava me cumprimentar.
Sigo e dobro a esquina, me afastando das ruas residenciais, a caminho do Blue Spot.
É incrível como uma cidade pode mudar tanto na virada de uma esquina. As casas atrás de mim não eram grandes nem extravagantes.
Bem classe média. Mas elas ficam de costas para esta parte da cidade, que há anos vem lentamente caindo aos pedaços.
"Ei, Wally, você sabia?"
A respiração dele estava bem atrás do meu ombro, e ele olhava para o cara do caixa. Minha mochila estava apoiada sobre o balcão quando a fechei com o zíper.
O olhar do caixa se dirigiu para um pouco além da beirada do balcão, perto da minha cintura, e eu sabia o que viria em seguida.
Uma mão em concha deu uma palmada na minha bunda. E, então, ele disse: "A melhor bunda do primeiro ano, cara! Bem aqui na sua loja!"
Não são poucos os caras que eu consigo imaginar fazendo uma coisa dessas. O sarcasmo. A arrogância.
Machucou? Não. Mas não importa, certo? Porque a questão é: Será que ele tinha o direito de fazer aquilo? Espero que a resposta seja óbvia.
Joguei a mão dele longe, aplicando uma rápida bofetada, um golpe que toda garota tem de dominar. E foi nesse momento que o caixa do balcão saiu de seu posto.
Foi quando ele emitiu um som. Sua boca permaneceu fechada e aquilo não passou de um rápido estalo com a língua, mas aquele barulhinho me pegou de surpresa. Por dentro, eu sabia que Wally fervia de raiva.
E lá estava. O letreiro neon do Blue Spot Liquor.
Nesta quadra, apenas duas lojas permanecem abertas: o Blue Spot Liquor e a Restless Video, do outro lado da rua. O Blue Spot parece tão encardido quanto da última vez que passei por ele.
Até os anúncios de cigarro e bebida alcoólica parecem os mesmos. O papel de parede na janela da frente também.
Um sininho de latão badala quando eu abro a porta. A mesma campainha que Camila escutava toda vez que entrava.
- Posso ajudar?
Sem olhar, já sei que não é o mesmo cara do caixa. Mas por que estou decepcionado? Eu não vim ver o cara do caixa. Ele pergunta novamente, um pouco mais alto.
- Posso ajudar?
Não consigo olhar para o balcão da frente. Ainda não. Não quero imaginá-la parada ali. No fundo da loja, atrás de uma geladeira de portas transparentes, estão as bebidas. Mesmo não estando com sede, vou até lá. Abro uma das portas e pego um refrigerante sabor laranja, a primeira garrafa plástica que vejo.
Ando até a frente da loja e pego minha carteira. Uma prateleira de metal, carregada de doces e balas, fica pendurada sobre o balcão da frente.
São esses os doces de que Camz gostava. Meu olho esquerdo começa a tremer involuntariamente.
- E só isso? - ele pergunta.
Coloco o refrigerante em cima do balcão e abaixo a cabeça, esfregando o olho. A dor começa em algum ponto acima dele, mas penetra no fundo. Atrás da minha sobrancelha. Uma pontada que nunca senti antes.
- Tem mais atrás de você - diz o atendente. Ele deve estar pensando que estou escolhendo algum doce.
Pego um chocolate com recheio de amendoim na prateleira o coloco ao lado do refrigerante. Ponho alguns dólares no balcão e empurro para ele. Tcha-tching!
Ele empurra de volta duas moedas, e noto um crachá de plástico fixado na caixa registradora.
- Ele ainda trabalha aqui? - pergunto.
- O Wally? - O atendente solta o ar pelo nariz. - Durante o dia.
Quando saio, o sino de latão badala.
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suicide girl ; camila&lauren (revisão)
FanfictionLauren encontra uma caixa de fita cassetes em frente a sua casa endereçada para ela. Nas fitas são gravações de Camila Cabello. Uma garota que cometeu suicídio à algumas semanas atrás.