38. mom

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♡ Olá amores, tudo bem? Amanhã é o Enem né? Boa sorte para todos os que vão fazer, não esqueçam de levar documento com foto, caneta preta transparente, e arrasem! Boa leitura. Postei mais cedo hoje! ♡ 


  Na volta, o sinal vermelho estava piscando, mas atravesso correndo pela faixa de pedestre mesmo assim. O estacionamento estava menos cheio do que antes. Mas não vejo o carro da minha mãe. A algumas lojas de distancia da Rosie's, paro de correr. Me apoio numa vitrine de um pet shop, tentando recuperar ofôlego. Inclino o corpo para a frente, com as mãos nos joelhos, esperando que tudo desacelere antes que ela chegue. Impossível. 

  Embora minhas pernas tenham parado de correr, minha mente continua agitada. Deixo o corpo escorregar para baixo, contra o vidro frio, dobrando lentamente as pernas, fazendo força pra conter as lágrimas. Mas o tempo está se esgotando, logo minha mãe estará aqui. Respirando fundo, me levanto e vou até o Rosie's, abro aporta. O ar quentinho lá de dentro é uma mistura de hambúrguer e açúcar queimando. Três das cincos mesas encostada na parede estavam ocupadas. Em uma delas um casal bebe milk-shake, comendo pipoca do Crestmont. Nas outras duas, há alunos estudando, livros cobrem o tampo das mesas, deixando espaço apenas para bebidas e duas cestinhas de batatas fritas. 

  Felizmente, a mesa distante, ao fundo, está ocupada. Não vou precisa decidir se devo sentar lá ou não. Em uma das maquinas de fliperama, tem um aviso colado com fita adesiva e rabiscado a mão: 

 ―QUEBRADA. 

  Um aluno do último ano, que acho que conheço, está de pé, diante da outra maquina mandando ver. Conforme Camila sugeriu, me sento no balcão vazio. Atrás do balcão, um homem branco arruma os talheres, separando-os em duas bacias de plástico. Ele acena pra mim.

 - Quando quiser é só pedir.

   Puxo um cardápio enfiado entre dois porta-guardanapos prateados. A frente do cardápio conta uma longa historia sobre o Rosie's, com foto preto e branco mostrando a lanchonete nas últimas quatro décadas. Abro o cardápio, e nada nele me parece interessante. Não por enquanto. 

   Quinze minutos. Foi o tempo que a Camila falou pra esperar. Quinze minutos e só então devo fazer o pedido. Havia algo errado quando minha mãe ligou. Havia algo de errado comigo, eu sei que ela sentiu isso em minha voz. Mas será que ela escutaria as fitas no caminho pra descobrir porquê? Que grande idiota eu sou. Devia ter dito que eu iria pegá-las. Como não fiz isso, agora tenho que espera pra ficar sabendo. 

   O garoto que comia pipoca pede a chave do banheiro. O homem atrás do balcão aponta para a parede. Há duas chaves penduradas em argolas de latão. Uma delas tem um cachorro azul de plástico preso no chaveiro. A outra, um elefante cor-de-rosa. Ele agarra o cachorro azul e atravessa o corredor. Depois de guardar as bacias de plástico embaixo do balcão, o homem desatarraxa a tampa de saleiros sem prestar atenção em mim. E isso é ótimo.

  – Você já fez o pedido?

   Giro para o lado. Minha mãe senta no banco próximo ao meu e pega um cardápio. Ao lado dela, em cima do balcão, está à caixa de sapato da Camila.

 – Você vai ficar? – pergunto. Se ela ficar podemos conversar. Eu não ligo. Seria legal liberar um pouco meus sentimentos. Descansar.  

  Ela olha dentro dos meus olhos e sorrir. Ai coloca uma mão em cima da barriga e se esforça para transformar um sorriso numa cara feia.

 – Acho que não é boa idéia.

 – Você não está gorda, mãe. - ela empurra a caixa de fitas para mim.– Onde está seu amigo? Você não está fazendo trabalho da escola com alguém?

    Certo. O trabalho da escola.

 – É que ele teve de ir ao banheiro. - ela olha sobre meu ombro, apenas por um instante. E pode ser que eu esteja errado, mas acho que estava conferindo se as duas chaves estavam penduradas na parede. Graças a Deus não estavam.

 – Você trouxe dinheiro suficiente?– minha mãe quer saber.

 – Pra quê?

 – Pra comer alguma coisa.- ela coloca o cardápio de volta no lugar, bate com a unha no cardápio. – Os de chocolate maltados são divinos.

 – Você já comeu aqui? - fico um pouco surpresa. Nunca vi adultos no Rosie's antes. Minha mãe ri. Coloca uma mão sobre minha cabeça e com o polegar alisa as rugas na minha testa.

 – Não fique tão espantada, Lauren. Este lugar existe há séculos. - ela tira uma nota de dez dólares e põe em cima da caixa de sapatos. – Peça o que você quiser, mas tome um milk-shake de chocolate maltado por mim.

  Quando ela se levanta, a porta do banheiro se abre com um ruído esganiçado. Viro a cabeça e vejo o cara pendurar devolta a chave do cachorro azul. Ele pede desculpas à namorada por demora tanto e beija sua testa antes de sentar.

 – Lauren? – minha mãe diz. Antes de me virar de volta para ela, fecho os olhos apenas por um instante e respiro.

 – Sim? - ela força um sorriso.

– Não fique muito tempo fora de casa.

   É um sorriso magoado. Restam quatro fitas. Sete histórias. Cadê o meu nome? Olho dentro dos olhos dela.

 – Talvez demore um pouco. - olho para baixo. Para o cardápio. – É um trabalho da escola.

   Ela não diz nada, mas, no canto do olho, posso vê-la parada ali. Ela levanta uma mão. Fecho os olhos e sinto seus dedos tocarem o topo da minha cabeça, e depois escorregarem até a minha nuca.

 – Cuidado.

   Faço um movimento positivo com a cabeça. E ela vai embora. Tiro a tampa da caixa de sapatos e desenrolo o plástico bolha. As fitas não foram tocadas.

suicide girl ; camila&lauren (revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora