Capítulo 7

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Bernardo Campos

Terminei outra planilha e mandei para impressão. Organizei minha mesa novamente e pedi que um dos engenheiros fizesse minha parte na obra durante aquele dia.

Saí com a caminhonete da empresa e fui até uma loja de construção mais próxima para comprar os materiais elétricos. Fui atendido por uma moça simpática e pedi para que ela me ajudasse com os equipamentos. A mesma disse que alguns estavam em falta, mas que chegariam até o dia seguinte.

— Faz assim: deixa no sistema o pedido e vocês fazem a entrega para mim, pode ser? — perguntei, me debruçando sob o balcão.

— Tudo bem, acho que é melhor ainda.

Primeiro decidi que fiação e condutores seriam prioridade para a ocasião. Depois resolveria questões de lampadas, tomadas e interruptores. Fiz o pedido das caixas de luz para cada andar e mais alguns itens.

Já tinha se passado uma semana desde o churrasco e desde então eu resolvi dar uma sumida de tudo. Eu não funcionava sem pensar, então me afastei do que me lembrava ela, inclusive da loira.

Olívia havia mandado mensagem falando sobre o casal ternurinha e acabei nem dando importância; minha mente fazia um emaranhado de pensamentos malucos, que nem eu estava dando conta.

Era uma merda como depois de um ano, Karina ainda mexia com o meu psicológico. Parecia uma maldição; uma bruxa que me encantou por tanto, sem nem ao menos deixar o feitiço reverso.

"— Podemos conversar, Bê?

— O que quer, Karina? — desde nosso último dia juntos antes do casamento, não nos falamos.

— Só conversar — ela ficou de frente para mim. — Eu não sei nem como começar, mas quero me desculpar por tudo. Por ter feito o que eu fiz, por ter sei lá, sumido sem explicações... Eu não estava pronta.

— Era só me dizer isso, Karina. Não precisava ter feito aquele papelão, ter gastado tanto para deixar tudo para trás e fugir com um cara que você conheceu no dia anterior.

— Eu sei, Bê — ela suspirou. — Sei a merda que fiz, sei de tudo. Me desculpa. Agi por impulso, não era madura o suficiente, mas ainda assim, por esse motivo, encontrei o amor da minha vida.

Foi como um soco no estômago.

— Eu espero que possamos ser amigos, ou pelo menos fingir que tudo está bem. Sei que foi difícil, pode ter certeza que não foi fácil para mim também, mas enfim...

— É, Karina... Isso são águas passadas, já foi e o melhor a ser feito é apenas ignorar. Você está com outra pessoa e eu estou bem do jeito que estou.

— Falando nisso e esse seu lance com minha irmã? — sua pergunta não foi nada natural, ela encrespou os lábios.

— Ah, nós somos só amigos...

— Se tornaram amigos tem quanto tempo? Desde o casamento? Antes?

— Não sei, na verdade, mas estamos nos dando bem e... Bom, ela é uma pessoa bacana.

— Bernardo, você sabe quem Olívia é. Eu nunca te escondi nada dela, tome cuidado, pois ela não é flor que se cheire.

— E por qual motivo você está me falando isso? — estreitei os olhos, buscando realmente entender.

— Por que eu sei que ela está tramando algo e pode ser possivelmente contra você.

Eu quis rir. Eu quis rir muito, mas ainda assim, me segurei o máximo para não entregar os pontos para minha ex-noiva.

— Olívia jamais faria mal a alguém de graça, Karina — defendi a mais nova. — Ela é apenas uma amiga. Por que? Está com ciúme dela?

— Eu com ciúme dela?

— De mim então?

— Desde quando você ficou tão presunçoso, Bernardo? — ela irritou-se, batendo os pés no chão. Mas não negou, nem assumiu. — Você nunca fora assim.

— Experiência aumentou, Karina. Antes era só você e agora não é mais — fui sincero, virando a carne na chapa. — Agora sou eu, livre, leve e solto.

— Virou esses homens lixos que não perdoam um rabo de saia, é isso? — ela cruzou os braços.

— Só uma coisa: você virou aquelas mulherzinhas lixo que corre atrás de grana?

— Claro que não — olhou-me nervosa, enquanto seu lábio inferior tremia.

— Então o que é, Karina? Está com ciúme? Se sim, basta dizer. Quase dois anos se passaram, mas pode ter sentimentos ainda dentro de você.

— Em você têm? — ela olhou-me anestesiada. Estava surpresa com tais palavras, e eu com sua reação.

— Não, Karina — larguei tudo que fazia apenas para olhar no fundo de seus olhos. — O sentimento se foi, quando você me deixou no altar daquela igreja e fugiu com outro cara."

Depois disso, deixei Karina sozinha e subi para o apartamento. A comemoração tinha acabado ali para mim e acho que todos os meus amigos entenderam.

Aline subiu com meu irmão quase 1h depois para deixar algumas coisas que sobraram do churrasco e desceu. Ramela por sua vez, me procurou pela casa e me encontrou largado na cadeira da sacada, fumando um cigarro.

"— Pensei que tinha parado — ele sentou-se na outra cadeira, olhando ao longe como eu.

— Eu fumo quando fico tenso — confessei, pegando mais um dos cigarros da carteira.

— Pelo visto a conversa te deixou bolado — ele tomou nota, sem nem ao menos conversar comigo. — O que ela queria?

— Pediu desculpas, jogou algumas coisas na cara, deu uma crise por causa de Olívia... É a cara de Karina, Rafa — ele prestava atenção em cada palavra minha. — Ela não faz as escolhas certas, ou faz a que julga ser certa e no fim, acaba sempre pedindo desculpa — bufei, tragando mais um pouco do meu cigarro. — O pior é que ela não se arrepende. Encontrou o amor da vida dela e joga isso na minha cara.

— Eu sinto muito, mano — deu tapinhas em meu ombro.

— Só sei que desisti dessa ideia de dar o troco — disse em seguida. — Percebi que não vale a pena, não quero ficar brigando por mulher, muito menos por uma que não gosta de mim.

— Você quem sabe — ele completou. — O melhor que você faz, é esquecer essa mulher, seguir sua vida, explorar novos horizontes e ser feliz.

— Me preocupo com Olívia — resmunguei, colocando o cigarro sob o cinzeiro da mesinha à minha frente.

— Por que?

Não sei, mas parece que ela sempre fica atrás da sombra da Karina, sendo que ela é completamente capaz de ser quem ela é. Tenho receio das consequências que ela terá que lidar sozinha pós casamento — esfreguei o rosto. — Isso tudo por causa de um macho escroto!

— A Oli é uma mulher completa e decidida — disse, ficando em pé. — Não acho que o objetivo dela seja destruir o tal "macho" mas sim colocar a irmã dela no lugar e não por causa do Rogério, hein?"

Depois de tudo isso, naquele mesmo dia, recebi uma mensagem de Olívia e acabei por não responder; acho que ela entendeu perfeitamente, dando-me o espaço que eu tanto queria. As duvidas ainda me rondavam, pois para mim, não havia necessidade fazer mais aquilo; na verdade eu queria distância de Karina.

Antes de fazer meu prato no restaurante, mandei uma mensagem para a parceira de crime.

"Precisamos conversar."

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