Capítulo 13

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Bernardo Campos

— Quer dormir lá em casa? — perguntei para Olívia.

Ela ainda estava bem estranha, porque havia ficado em silêncio durante toda a viagem e aquilo não era o típico daquela pequena tagarela que estava ao meu lado.

— Não.

— O que foi? Você está quieta demais — olhei-a curioso pelo canto de olho.

— Nada.

Percebi que o nível de combustível estava baixo e decidi parar no próximo posto de gasolina. Era melhor garantir, do que arriscar ficar sem combustível parado no meio da estrada.

Enquanto estava fora do carro observando o frentista encher o tanque, escrevi uma mensagem para o pessoal, dizendo que ia fazer um lanche com Olívia e que poderiam seguir viagem sem a gente.

— Vamos comer, estou faminto — falei assim que paguei e estacionei nas vagas da lanchonete um pouco a frente.

Desci do carro vestindo apenas uma bermuda. Busquei pela camisa no banco de trás e esperei Olívia para caminhar até dentro do restaurante na beira da estrada.

Fizemos um pedido de frango frito com polentas e queijo mais duas cocas. Ela não parecia muito afim de nada, já que pouco falava comigo e nem se quer olhava para mim.

— Olha, Oli, fui um pouco rude de ter te deixado sozinha, eu sei. Talvez até culpado por causa da sua noite frustrante — tentei não rir, observando sua careta. — É sério, me desculpe, eu não sabia que você ia ficar tão bolada.

— Relaxa — ficou em pé, estendendo-me a mão. — Vou para o carro. Pode me dar a chave?

— Não, você vai comer comigo — o garçom colocou toda a comida à nossa frente naquele mesmo momento. — Se há algo que te incomoda, pode dizer.

— Besteira minha — ela por fim respondeu. Sentou-se novamente e olhou toda a comida. — Só estou revoltada por tudo dar errado na minha vida. Nem ficar com um cara eu consigo!

— Relaxa, é questão de tempo — ela me olhou debochada. — O quê?

— O sol te fez muito mal, deve ter no mínimo queimado os seus neurônios. Considerando que nós mulheres temos uma certa quantidade a menos, todos funcionam enquanto em homens a maioria são deficientes... — ponderou, colocando batatas na boca.

Sem entender, dei apenas de ombros deixando aquela maluca falando suas loucuras sozinha. Percebi que ainda assim estava um pouco inquieta, mas resolvi não invadir seu espaço.

Terminamos de comer em silêncio. Voltamos para o carro e depois de abastecer, pegamos a estrada de volta. O grande problema foi o trânsito que encaramos no final da serra. Ficávamos parados 5 minutos e andávamos 50 metros.

— Oli? — chamei, ouvindo um resmungo. — Vai querer fazer o que amanhã?

— O que? — perguntou olhando para mim sem entender, depois riu entendendo do que falávamos. — Bom, eu vou dar umas alteradas na lista de músicas e bolar alguma coisa com a Valentina. Ela vai adorar a minha proposta para o casamento, ainda mais se disser que é surpresa.

— Acha que ela não vai abrir o jogo? — estreitei os olhos.

— Ela não vai — voltou os olhos para a janela. — Vai ser lindo Valentina dançando ballet e fazendo estrelinhas no meio da igreja Santo Antônio.

— É isso que quer?

— Sim. Karina odeia ballet e não queria minha irmã fazendo — explicou, passando os dedos pelas pernas.

Assim que conseguimos sair do trânsito, deixei Olívia em casa e fui direto para meu apartamento. Estava sozinho naquele fim de domingo, então tomei um banho e me joguei na cama para acordar disposto na segunda-feira.

💋

O dia foi cheio, tão cheio que não consegui me abster dos afazeres por um minuto se quer, muito menos para um almoço descente.

Saí da construtora quase 19h e aproveitei para passar na casa da minha namorada. Quando Karina abriu a porta, ela gritou Olívia, abandonando a porta.

Minha namorada me recebeu com um beijo na bochecha e pediu que eu entrasse. Disse que Lourdes estava preparando o jantar com Mário e não hesitei em ajudar.

Acabei por picar tomates e coentro para um vinagrete, enquanto Olívia picava em silêncio algumas azeitonas.

Valentina desceu correndo as escadas, gritando algo que tinha visto na TV. Me deu um beijo e começou a dançar ballet em meio a cozinha. Karina desceu acompanhada de Rogério e apenas se despediram, dizendo à mãe que iriam à um restaurante. Sinceramente, negar um frango de forno da Dona Lourdes era loucura.

— Querida, você está tão silenciosa, o que há? — perguntou Lourdes à Olívia, que sorriu fraco.

— Nada, mãe. Estou com dor de cabeça — largou tudo o que fazia. — Vou tomar um banho e já desço, pode ser?

A mãe concordou e ela sumiu por alguns minutos. Valentina insistiu para que eu conhecesse seu quarto e me surpreendi quando não vi tudo cor de rosa, mas sim pôsteres da Liga da Justiça e até mesmo Harry Potter.

Ela mostrou sua coleção de DVDs que tinha ganhado de todos os filmes do menino bruxo, orgulhosa e sonhadora dizendo que um dia iria a Hogwarts. Eu também sonhava com isso.

Quando Lourdes me chamou, Valentina desceu as escadas correndo e eu decidi por bem passar no quarto de Olívia. Ela estava sentada na cama com o celular na mão e os cabelos molhados do banho. Fechei a porta atrás de mim, sabendo que ela estava ciente da minha presença, mas mesmo assim, não queria conversar comigo.

— O que está acontecendo, Olívia? — fui direto ao ponto.

— Eu já disse que nada — reforçou sem tirar os olhos da tela do celular.

— Só para lembrar, não podemos ficar nesse clima, Oli — eu tentei, mas ela revirou os olhos.

Concordou, puxando minha mão para irmos ao andar debaixo. Durante todo o jantar ela parecia um pouco mais comunicativa, o que me deixou mais despreocupado. O que eu menos precisava no momento era magoar Olívia por alguma coisa que eu pudesse ter feito.

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