Capítulo 2

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Olívia de Castro

Eu não aguentava mais colocar tantos vestidos em um único dia. Eu não queria nem fazer parte daquele casamento, mas mamãe insistia para que eu estivesse bem vestida, para não envergonhar minha irmã e nem fazer feito para a parte rica da família.

Karina estava mais chata do que ela já era naturalmente, sendo que faltava ainda cerca de três meses para "O GRANDE DIA", como ela sempre se referia ao fatídico dia em que iria se casar. E mesmo com a rotina lotada, eu era obrigada — por mamãe — a arrumar espaço para os caprichos dela.

Eu estava terminando a faculdade de Biologia, enquanto trabalhava arduamente em uma academia de dança dando aulas de Zumba. Tentava economizar uma graninha para comprar meu tão sonhado "cantinho", embora meus pais não se importarem de ter uma garota de vinte e cinco anos dentro de casa, sendo sustentada por eles. Na verdade, eu me sentia muito bem amada, obrigada.

Minha irmã menor, tinha apenas cinco anos de idade e já era um capetinha em forma de gente. Valentina e eu, eramos muito parecidas, diferenciando apenas cor dos cabelos escuros (na qual ela puxou do meu pai). A pequena no entanto, se dava muito bem com Karina e vez ou outra se irritava comigo.

Antes mesmo que ela nascesse, eu estava terminando minha faculdade de educação física e nesse meio tempo, fiz inúmeras amizades, principalmente com a turma de direito.

Foi onde conheci Rogério.

Ahhhh, sim, o futuro marido de Karina.

MARIDO.

Assim que começamos a nos falar, nos dávamos bem e logo viramos muito amigos, daqueles que ajuda um ao outro sem sombra de dúvidas.

Íamos em festas da universidade juntos, participavamos de palestras, entre outros encontros. Até que na última festa que frequentamos juntos, eu estava incrivelmente bêbada.

Dormimos juntos.

Foi a noite mais louca de toda minha vida. Pior foi quando acordei no apartamento dele — que eu já conhecia —, e fui recebida com um banquete de café da manhã.

Enfim, foi uma confusão sem tamanho esse nosso envolvimento, mas acabamos lidando bem no dia seguinte. Fomos juntos para a aula e depois fomos embora separados. Ele estava ajeitando os últimos detalhes da formatura e eu fazendo as ultimas atividades complementares.

Sua formatura chegou rápido. Foi numa quinta feira, 19 de dezembro de 2013. Minha irmã insistiu para ir, mesmo sendo véspera de seu casamento com Bernardo.

Só para constar, fiquei de fora de tudo. Os dois conversavam animados e eu com a maior cara de bunda tomando uma taça de champanhe com gosto de vinagre. Por fim, ele nos ofereceu carona e descobriram tantas coisas em comum, que eu fiquei um tanto enciumada.

O GRANDE DIA havia chego e acordamos cedo e fomos direto para o salão. O dia ia ser longo, apesar de tudo. Me organizei, fiz toda a minha rotina e acompanhei Karina. Ela falava animada sobre Rogério, dizendo sobre todas as coisas que havia gostado nele, que o pai dele era ministro de alguma coisa do estado de São Paulo e ele queria entrar no mesmo ramo, e varias outras coisas.

Bernardo ligou no meio da tarde e a conversa foi tensa pelo que percebi, mas sempre acabava com o famoso "eu te amo".

Terminei tudo antes dela e fui para casa me vestir e pegar uma carona talvez com Rogério. Mandei mensagens, mas ele não respondia de forma alguma. Desisti por fim, pedindo um táxi e indo eu mesma para a Catedral Santo Antônio.

Cheguei junto com Bernardo, que aprecia nervoso e sorridente. Cumprimentou vários convidados, assim como eu fazia. Havia muita gente conhecida, mas eu estava sem paciência. Decidi por fim entrar na igreja e guardar meu lugar.

19h e minha irmã ainda não havia aparecido. Bernardo estava nervoso e irredutível. Pior, foi quando ele constatou que ela realmente não iria aparecer. Saiu da igreja sem nos dizer uma palavra sequer e por isso eu senti que deveria de alguma forma... ajudar. Corri atrás dele e antes mesmo que abrisse a porta do carro, eu o parei.

— Bernardo, olha...

— Não precisa ter pena, Olívia. E se for para jogar na cara, acho que o destino já está se encarregando perfeitamente disso.

— Ela me mandou uma mensagem — anunciei apontando o celular e estalando os dedos nervosa.— Ela fugiu. Ela fugiu com Rogério, um affair meu.

— Quê?

— Eu posso explicar com mais calma depois e...

— Nem precisa, Olívia — ele estava tenso, parecia querer chorar a qualquer momento. — Está feito e é isso. Não quero explicações, porque não haverá volta.

E não houve.

Ela nem se quer tentou voltar. Para ela Rogério agora era o certo e nada mudaria isso.

Só que ela não sabia que eu gostava dele, ou ela sabia e ignorou. Minha vontade era de nunca mais olhar na cara dela, mas eu relevei, afinal brigar por causa de macho era fim de carreira. Dei a volta por cima e... Estou solteira até hoje.

Tempos depois, ele veio com a desculpa de que eu era nova demais, que não daríamos certo pois éramos opostos para ficarmos juntos, que nossos interesses pareciam distintos e que ele encontrou tudo que queria em Karina, na minha irmã.

"Karina e Rogério convidam Olívia de Castro — amada irmã e amiga —, para seu elance matrimonial, que realizar-se a no dia 20 de dezembro de 2015 às 19h, na Catedral Santo Antônio, Tatuapé - SP".

Abri e fechei mais uma vez aquele maldito convite champanhe com fitas douradas: era a cara dela aquilo: tudo simples demais, planejado demais, resumindo: uma festa de engomadinhos.

Guardei mais uma vez o convite e por fim, fechei meu caderno da aula de Genética I. Saí da sala quando percebi que só tinha eu e mais alguns alunos andando para a saída. Assim que localizei meu carro, joguei minhas coisas no banco do passageiro e dei a partida. Quando cheguei à avenida principal, ouvi um estouro e então o carro ficou estranho. A partir daí me dei conta de que o pneu havia estourado e eu estava lascada.

Liguei o pisca do meu Ford Fiesta vermelhinho e parei em um dos acostamentos, procurando pelo triângulo dentro do porta-malas. Coloquei a uma certa distância do carro e minha única opção era ligar para o seguro. Talvez eu devesse entrar dentro do carro e me trancar, o perigo nas rodovias é muito sério, para uma mulher sozinha então, triplicava.

A aula de troca de pneu, eu faltei. Faltei feio, e estava lascada.

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Como Cancelar um Casamento [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora