A Viagem: A Origem do Mal

NONO INFERNO HOMOSSEXUAIS

"Não te deitarás com um homem

como se deita com uma mulher. Isso é abominável!"

Levítico 18:22

Quando os enjôos passaram entrei no nono inferno e ali os castigos voltaram a ser uniformes e desta vez simples de se explicar.

Vi fogo cair do céu escuro da caverna e queimar todos os que ali estavam, quando as chamas apagavam vinha outra rajada de fogo e os queimavam novamente.

Os gritos de pavor eram os mais fortes que escutei em todos os infernos anteriores. Ser queimado é um castigo e tanto.

— Quem são estes?

— Homossexuais.

— Porque um castigo tão cruel a eles?

— O cara lá de cima opera com justiça.

— O que tem justiça haver com isso?

— Você conhece a história bíblica de Sodoma e Gomorra?

— Sim, foi onde Deus mandou dois anjos para salvar a vida de Ló primo de Abraão.

— O que mais lembra desta história?

— Quando os anjos apareceram na cidade, os homens de lá tentaram estuprá-los, como punição Deus mandou fogo do céu e queimou todos os moradores da cidade exceto Ló e sua família.

— Depois deste acontecimento a punição para estes mudou. Antes os punia de forma diferente mas já que Ele decidiu punir com fogo pensei que as coisas podiam mudar por aqui também.

— Onde esta a justiça nisso?

— Como Ele puniu com fogo, eu também posso. Isso é justiça respondeu Satanás com mais um sorriso sarcástico.

— Como os punia antes?

— Com brinquedos que entravam pelos orifícios e saiam pela boca ou vice-versa.

Caminhando por entre os corpos em chamas escutei uma voz tremula, vinha de um homem com aparentemente cinqüenta anos.

— Eu o amava, dizia o homem quase sem forças.

Pedi a Lúcifer proteção momentânea para conversar com ele. Protegidos ergui o rosto do homem e o ajudei a se por em pé. Ele era loiro com olhos azuis e pele branca como a neve.

— Eu o amava – repetia o homem.

— Quem você amava?

— August, eu amava August.

— Qual o seu nome?

— Claus, me chamo Claus.

— De onde você veio Claus?

— Eu fui um soldado de alta patente do regime nazista. Um coronel condecorado por bravura.

— Me conte sua história com August.

— August era mais jovem e conseqüentemente tinha uma patente menor que a minha. O vi pela primeira vez em Dortmund. Fui designado a escolher soldados desta cidade que iriam servir a meu comando na França.

Cabisbaixo e pensativo se perdeu por alguns segundos em suas memórias.

— August era um dos soldados a serem escolhidos, foi amor a primeira vista. Quando meus olhos fitaram aqueles olhos verdes como uma esmeralda, tive que me segurar na postura para que ninguém percebesse.

— Então o senhor escolheu este jovem soldado não por seus dotes militares, perguntei como que alfinetando.

Sorridente o coronel respondeu.

— Verdade, este deve ter sido o único soldado que entrou para meu batalhão sem ter muita experiência em combates ou dotes militares como você disse.

— Você nunca tinha feito isso? Escolher um soldado para sanar suas necessidades sexuais?

— Nada disso, eu não sou assim, eu não escolhi August para sanar minhas necessidades sexuais, eu me apaixonei por ele. Foi amor a primeira vista e para minha sorte ele também se apaixonou por mim.

— E então o que aconteceu?

— Passamos vários meses juntos, foram os meses mais belos de minha vida. Não tínhamos como passear ou ir ao cinema, tínhamos pouco tempo para fica juntos, mas cada segundo junto a ele me valia uma vida inteira.

— E como veio parar aqui?

— A Alemanha estava em guerra, fui designado para proteger as praias da Normandia no Dia D. Como você já sabe os EUA invadiram a Europa por estas praias. Eu estava lá e acabei falecendo com um tiro no peito, a bala acertou meu coração e a ultima coisa que lembro em vida é de pensar no rosto de meu querido August enquanto caia morto no chão.

— Venha, chega deste papo sentimental, precisamos ir adiante disse Satanás interrompendo a conversa.

Se afastando de Claus Satanás retirou o campo protetor de sob nós.

— O que esta fazendo? Logo ira chover fogo e nós estando sem proteção iremos queimar.

— Este fogo só queima homossexuais. Você é homossexual?

— Não!

— Então não tenha medo pequeno viajante.

Labaredas desceram e os gritos foram ficando para trás a medida que nos afastávamos do nono inferno.

,"65P��F�x