DÉCIMO INFERNO VÍCIOS

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"Ora, as obras da carne são manifestas (...)

bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas"

Gálatas 5:19,21

No décimo inferno não havia mais fogo. O castigo aqui parecia ser diferente para cada um. A grande maioria pareciam estar drogados, como que viajando em alucinógenos.

— Que lugar é este?

— Este é o décimo inferno o inferno dos viciados.

— Como se dá o sofrimento aqui?

— Cada um sofre com a própria droga que o consumiu.

— Cada um fica utilizando a droga que lhe dava prazer em vida? Isso não parece tortura pelo menos não para algumas pessoas que conheço.

— Não é bem assim, venha e veja.

De longe vi uma mulher sentada em uma cadeira e um demônio movendo as mãos ao seu redor. Com um olhar mais curioso vi que o demônios estava controlando centenas de seringas, quando ele fechava suas mãos as agulhas perfuravam todo o corpo da mulher inclusive os olhos e injetavam a droga que lhe causou a morte. Depois de alguns segundos as agulhas saíram de seu corpo e ela entrou em overdose, seu corpo ficou tremulo e agitado, uma espuma branca saiu de sua boca, seus olhos e ouvidos sangravam.

Depois que o efeito da overdose passava todo o processo era reiniciado.

— Heroína, caso esteja em dúvida da droga que a matou e que agora esta sendo aplicada nela. Disse Lúcifer com as sombracelhas levantadas.

Continuei caminhando um pouco calado, as torturas deste inferno muito me enojavam. De longe vi um homem amarrado em uma cadeira com a boca aberta.

A seu lado um demônio que bombeava um líquido diretamente em seu estomago, sua barriga inchava até o ponto de explodir, o líquido saia junto com as tripas e aparelhos digestivos.

Depois da explosão o demônio parava de bombear, catava seus órgãos pelo chão e costurava a barriga do homem. Feito isso o processo tinha seu reinicio.

Antes de reiniciar pedi educadamente ao demônio que o atormentava para me dar uns minutos para falar com ele. Inicialmente o demônio voou em mim tentando me fazer mal, mas foi logo impedido pelo príncipe da trevas que estava a meu lado.

Já sem o tubo na garganta com os olhos cheios de lagrimas o homem olhou com um olhar perdido sem entender o que estava acontecendo.

— O que esta acontecendo?

— Eu pedi para que ele não te torture por um tempo pois quero conversar com você.

— Você tem este poder? Por favor peça para que ele não me torture nunca mais, já sofri de mais.

— infelizmente não tenho este poder.

Cabisbaixo e triste com a notícia decidiu falar um pouco de si.

— Eu comecei meu vicio tomando uma cervejinha com os amigos, bebo dês dos 19 anos. Sempre bebi minha cerveja. Quando me tornei adulto veio as responsabilidades, cuidar de filhos, cuidar de esposa, das contas etc. Um dia cheguei a conclusão de que não tinha como cuidar de tudo isso e alimentar meu vicio, como tive que decidi opinei pelo vicio. Comecei a beber dia após dia, perdi meu emprego, meus filhos e esposa passaram fome em casa enquanto eu estava gastando o que sobrou do meu fundo de garantia nos botecos. Quando o dinheiro acabou, vendi minha própria casa e fui morar na rua gastando o dinheiro da venda. Minha esposa com três filhos para criar, um marido alcoólatra, sem emprego, não agüentou, subiu no alto de uma ponte e de la se atirou. Meus filhos foram adotados por parentes próximos, meu pai ficou com dois e uma tia criou o outro.

— Como você veio parar aqui? Como foi seu fim?

— Eu tinha um certo dinheiro no banco com a venda da casa, bebi dia e noite até meus rins não agüentarem mais. Meus pés incharam mas não quis ir a um hospital, sabia que lá o médico iria me proibir de beber. Foi então que em uma noite de sábado bebi minha ultima dose de cachaça, vomitei no chão escuro de um beco onde dormia, cai sobre meu vomito e morri. Quando acordei estava aqui com um tubo na garganta vendo um demônio explodir minha barriga com álcool só por diversão.

— Você tem o que sempre quis. Disse Satanás erguendo os ombros. Esta com a barriga cheia de cachaça. Eu realizo o sonho das pessoas e ainda sou tido como vilão. Completou Satanás ainda com os ombros erguidos dando um sinal com a cabeça para que o outro demônio voltasse a torturá-lo.

Caminhando fiquei a pensar se o que me enojava mais era a tortura ou a história do torturado. Sem resposta deixei aquele lugar sem vontade de retornar.


A Viagem: A Origem do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora