DÉCIMO PRIMEIRO INFERNO SUICÍDIO

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"Judas atirou então as moedas de prata dentro do templo e, abandonando aquele lugar, foi e enforcou-se."

Mateus 27:5

Tristeza parecia ser a palavra que melhor descrevia este lugar. Não havia gritos de pavor, torturas nem demônios. Só haviam homens e mulheres caminhando de um lado para o outro angustiados, cheios de tristeza no coração.

Ali havia um morro altíssimo, muito escalavam este morro e se jogavam la de cima, quando recuperavam as forças repetiam a escalada e o pulo. Outros se escondiam atrás de pedras com veneno nas mãos, depois de tomarem o veneno seus corpos estremeciam como que alguém tendo uma convulsão, espumavam pela boca e ficavam com uma pele roxa. Depois que voltavam a si, caminhavam procurando um novo esconderijo e tomavam novamente o veneno.

Sons de tiros também eram comuns mas sem gritos de pavor ou socorro.

Distante vi um grupo grande de samurais, todos estavam vestindo roupas brancas como que roupas de cerimonial, se ajoelhavam e como que em uma coreografia enfiavam uma faca na barriga. Passando um tempo repetiam o ritual para todo o sempre.

— Bonito não é?

— Não diria bonito mas parece haver algo diferente com estes japoneses. Quem são?

— Estes são os ronins.

— Quem são os ronins?

— Foram samurais muito leais ao imperador que por honrarem um código de ética samurai decidiram tirar a própria vida em troca de uma morte honrosa.

— E existe honra na morte?

— Toda forma de morrer é uma forma de morrer por nada.

De longe vi um homem barbudo que ensinava a uma platéia entusiasmada. Ao se aproximar pude concluir que ali estava o grande filosofo Sócrates.

— O senhor me permite alguns minutos de sua atenção. Pedi educadamente no meio da multidão.

— Uns minutos é tudo que tenho antes de beber deste cálice da morte meu jovem, mas sim lhe concedo tal pedido.

— Um homem no futuro me disse que o senhor antes de beber o veneno instruiu seu servo a oferecer um sacrifício a Asclépio o deus da cura. Porque fez isso? Achou que seria curado do veneno?

— Não, não, não respondeu o velho barbudo. Quando tomei do cálice tinha absoluta certeza de minha morte. Até porque os que me perseguiam me deram a oportunidade de sair da Grécia ou morrer, se quisesse viver era só arrumar minha mala e partir.

— Então por que ofereceu o sacrifício ao deus da cura?

— Porque entendia que a morte era uma forma de cura, só com ela poderíamos enxergar a verdadeira vida.

— Toda forma de morrer é uma forma de morrer por nada?

— Vejo que você é um grande filosofo meu jovem.

— Não fui eu que disse isso, só estou repassando.

— Sim, hoje acredito que nada vale nossa vida. Daria tudo para ter alguns minutos a mais de vida, para sentir o ar fresco, para amar, ser amado, daria tudo que tenho por isso.

Erguendo o cálice de veneno brindou

— Ao viajante misterioso.

Tomou o veneno e teve as convulsões e espuma na boca como muitos outros.

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A Viagem: A Origem do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora