continuação...Eu, a semivirgem, tendo um caso perigoso no trabalho?Era quase uma piada! Uma piada que me botou no olho da rua.
"Eu vou morrer!" Eu parecia uma maritaca repetindo a mesma frase. "Eu vou morrer!"
"Não vai, não" disse uma voz perto do meu ouvido. Uma voz rouca e firme, apesar dos tiros lá no alto. De onde vinha essa voz? De quem era essa voz? Uma bela voz por sinal "Vai ficar tudo bem, pode confiar."
E puxa vida, eu ainda tinha tanta coisa para experimentar antes de juntar as canelas! Eu tinha 25 anos e um coração cheio de amor para dar! Um coração que, tudo bem, de vez em quando sangrava suas feridas abertas. Um coração que, naquele momento especificamente, batia frenético junto ao asfalto; uma bola gosmenta entre dois pulmões chacoalhando com a falta de ar. Mas ainda era um coração, minha Nossa Senhora!
Abigail tivera sua chance. É claro que sim! Ela se casou! Teve uma enteada até. Uma enteada que me concedeu o desprazer de vê-la pelada da cintura até os joelhos. "Da cintura até os joelhos!" pensei em voz alta. E doeu pra caramba! Eu não era virgem, mas também não tinha muita experiência.
Houve um estilhaçar de vidro. No lugar do para-brisa restava agora um buraco retangular, os pequenos cacos ainda rolavam na minha direção. "Ai, meu Deus! Eles chegaram até aqui!" gritei desesperada, para mim e para a Voz. Senti um gosto de sal e concluí que eram as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e inundando a minha boca. "Estamos ferrados! Baleadas!" Ainda tive tempo de ver os vidros laterais se despedaçarem no ar antes de fechar meus olhos e apertá-los com força. Só os abri novamente no instante em que senti um braço firme em volta da minha cintura. Eu estava sendo arrastada para debaixo da Kombi, um corpo quente colando-se ao meu, puxando-me para o espaço apertado.
"Já entendi." Meus olhos embaciados de choro faziam das imagens figuras confusas.
"Chegou a minha hora! Mas não quero sofrer! De jeito nenhum! Por favor, Deus, tenha pena de mim... " Se não havia escapatória, que eu morresse logo, então. Por isso comecei a me debater, pernas e braços, na intenção de fugir para o campo minado e acabar logo com aquela merda toda. Enquanto isso, duas mãos me seguravam, me impediam.
"Para de bobagem, vai ficar tudo bem, eu estou aqui." Então tive certeza de que tudo ficaria bem,afinal. O choque fez arder meu crânio, latejou. A vertigem piorou e agora só havia um borrão escuro. Eu tinha sido atingida na cabeça. Estava morrendo.
Que criatura viva neste mundo nunca se perguntou o que acontece com o corpo e a mente à beira da morte? Alguns dizem que, segundos antes da falência total dos órgãos, imagens da vida começam a se suceder diante dos olhos, como um filme em ritmo acelerado, e que a mente viaja entre os planos, perdendo a noção da realidade. Outros acreditam que parentes falecidos vêm ao encontro do corpo moribundo a fim de puxar o espírito para fora da carne, quando a doença é tão profunda que amortece os sentidos. Outros, ainda, dizem que a morte nada mais é que o desprendimento definitivo do cordão de prata, a energia que liga o espírito ao corpo material, e quem desconecta esse cordão são os Amparadores Espirituais, os espíritos evoluídos que vêm nos ajudar a concluir a passagem. Ali, no asfalto, eu admito que estava perdendo um pouco a noção da realidade.
Ouvia vozes. Uma voz, na verdade. Então pensei que só podia ser o Amparador Espiritual. Ele tinha vindo me buscar e me aninhava em seu peito. Tudo ficaria bem. Eu podia sentir a onda de ternura me inundando por onde a gente se tocava, como se ele me conhecesse, como se tivesse se preparado só para estar ali comigo. Mas a dor era tão forte para segundos tão lentos... Talvez se eu mudasse de posição...
Minhas mãos se agarraram ao que parecia a blusa do Amparador que na verdade era uma amparadora e eu tomei um impulso, erguendo a cabeça na esperança de aliviar a dor.
"Pelo amor de Deus, camila, abaixe essa cabeça!" Era A Amparadora, sim. Porque sabia meu nome. A Amparadora sabia meu nome e eu estava perto do fim.
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Azar o seu! Camren
FanfictionCamila está parada num engarrafamento, pensando em sua vida azarada. Sem emprego, atolada em dívidas, ela não imagina que está prestes a viver a grande coincidência da sua vida. A motorista do carro ao lado está buzinando, tentando se comunicar com...