Não naquela época, pelo menos, quando eu tinha algum respeito pelas minhas partes baixas e não saía caçando margaridas em cemitérios por aí. Minha nossa! E se o "bom pra você" da ariana me assombrasse pelo resto da vida, como um castigo por meu impulso vergonhoso e nojento? Bem, era melhor não reclamar. Eu merecia castigos pioresLevantei a cabeça. Abrindo os olhos, A Kombi finalmente saiu da avenida e começou seguir tranquilamente.
"Uau!" Ela quebrou o silêncio. "Isso foi intenso." E caiu na gargalhada. Horrorizada, olhei para seu rosto todo sujo. A água da chuva escorria pelos cabelos escuros e pingava em seus ombros conforme ela gargalhava e sua cabeça sacudia. Quando dei por mim, eu já estava tagarelando em tom de acusação. De novo.
" Como você pode rir de uma desgraça dessas?" perguntei, notando de repente que ela tinha o sorriso igual o da lolo os dentinhos de castor. Lembrava os dentinhos da lolo. "A gente quase morreu." Gritei nervosa e ela continuava rindo oque me deu mais raiva.
"Foi uma experiência legal" disse ela. " E "quase" não é morrer. Que adrenalina louca! Saltar de bungee jump, pilotar helicóptero, tocar violão em pubs lotados... é fichinha perto daquilo lá." Ela falou tão calma e com um sorrisinho no rosto que me deu mais raiva dela ainda
"Por que você não se inscreve no treinamento do FBI, se você acha assim tão divertido?" Destilei minha amargura. "Pilotar helicóptero você já sabe. É um bom começo, um tiroteio não é uma experiência legal. Não para mim."
Não era como tocar violão em pubs lotados. Tudo bem, Eu não sabia como era tocar violão em pubs lotados. Eu costumava tocar teclado. E as apresentações da Moscas da Sopa em festivais de bairro não eram lá um grande sucesso. Só iam a família e alguns amigos, que basicamente se debruçavam no palco baixo, filmavam rolos de VHS, aplaudiam orgulhosos, depois voltavam para suas mesas e comiam batatas fritas frias. Éramos cinco. Além de mim e lauren (a estrela da banda), normani na "batera", ally no baixo elétrico e Dinah cantando (porque e a unica coisa que ela sabe fazer bem e cantar) Dinah formou-se na faculdade de Medicina de Miami. Normani se formou em advogacia em NY por dois anos antes de se aventurar pela política. Ally mudou-se para Washington D.C e se formou em arquitetura, onde se casou com o troy. E Lauren foi para Londres e nunca mais falou comigo (O quê? Eu já disse isso? Jura? Mil vezes? Para você ver como não dá para esquecer!)
"Embora uma de nós... " recomeçou a Sra. Desperdício me fazendo despertar dos devaneios, a boca com pouco batom (linda boca, a propósito) falando em tom de deboche "...não ache a menor graça na adrenalina e continue insistindo nessa cara de bronca."
" De onde eu venho, cara de bronca significa emburrada." Disse e ela revidou os olhos dando risada
" Pois foi isso mesmo que eu quis dizer. Bronca, bronquinha" emburrada, ofendida fechei a cara com determinação e virei o rosto para o outro lado. Eu podia sentir a tensão que fazia doer os músculos do meu rosto. Não importava. Eu ia ficar calada, simples assim. A Sra. Desperdício se cansaria em algum momento e me deixaria em paz.
" Ah, qual é, Bronquinha?" Ela me sacudiu, com a mão no meu joelho. A surpresa do toque arrepiou-me os pelos da nuca. "Estamos molhadas e imundas. Mas estamos vivas! É o que interessa. O que passou, passou." Ela ficou me olhando esperando uma resposta apenas continuei em silêncio, continuei olhando a paisagem através do vidro.
Tudo bem. Eu tinha de admitir que ela podia ter razão. E me chamar de Bronquinha não era nada legal. Mas era verdade. Estávamos vivas depois do sufoco. Um milagre, sem dúvida, e eu estava feliz por isso. Por que, então, eu não conseguia gargalhar, extravasar como ela? Por que não achava graça da adrenalina fervilhando em minhas veias, uma emoção que eu não estava acostumada a sentir? Talvez tivesse a ver com a longa espera pela tão sonhada maturidade da vida adulta, a suposta solução de todos os meus problemas. Um engano, claro, que só agora, tecnicamente adulta, eu conseguia perceber.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Azar o seu! Camren
FanfictionCamila está parada num engarrafamento, pensando em sua vida azarada. Sem emprego, atolada em dívidas, ela não imagina que está prestes a viver a grande coincidência da sua vida. A motorista do carro ao lado está buzinando, tentando se comunicar com...