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bem amores? a musica que a lauren canta é do khalid - saved. é isso bjoo





Precisei me apoiar na vassoura para não cair e sei que minha cara não estava nada boa pelo modo como ela ergueu as sobrancelhas (uma delas com Band-Aid colado) e disse:

"Você está atrasada. E parece mais Bronquinha do que nunca." Então abriu o sorriso e tudo que fiz foi fechar a cara um pouco mais. Só que, claro, ela não fazia a menor ideia de que havia um balão gelado na minha barriga a crescendo numa velocidade exponencial.

Mesmo que aparentasse o contrário para quem visse de fora, eu sabia perfeitamente que essa coisa que eu sentia dentro de mim, essa coisa que ardia e se irradiava para todas as células do meu corpo, essa coisa tinha nome Era alegria, combinada com generosas doses de desejo.

"O que você está fazendo aqui?" destilei minha voz mais ácida, pendurando a vassoura no porta-vassouras. Livrei-me rapidamente do avental do uniforme, na remota esperança de que ela ainda não tivesse notado o azul ridículo. O avental era o item mais feio da loja. Só perdia para a minha cara mal-humorada.

Eu me sentia alegre e a alegria mascarava o cansaço, apesar de eu ainda estar arfando devido ao susto. Mas o hábito falava mais alto e me impedia de botar a alegria para fora. Era como uma concha dura sob a qual parecia confortável eu me esconder.

"Ah, não, De novo, não. Já ouvi essa antes." Ela se aproximou sem nenhum constrangimento, como se fosse de casa. "Como assim, o que estou fazendo aqui, Camila? A gente combinou, não lembra? Com que força você bateu a cabeça na Kombi?"

O que era uma coisa muito desconcertante pelo modo como sua estatura alta vinha preenchendo os espaços da floricultura. Largou as duas sacolas em cima do balcão e jogou na lixeira o que tinha restado da margarida, desviando-se para não bater a cabeça na prateleira das camélias brancas. Então me olhou por alguns instantes, os olhos tranquilos, enquanto eu me perguntava se a luz em cima de mim era forte o bastante para evidenciar minha pele arroxeada e com olheiras imensas. Eu não devia ter poupado o restinho do corretivo da bisnaga... Burra, burra!

"Já ouvi essa antes" revidei.

"Não acredito que voltamos à estaca zero depois de tanto progresso..." ela bufou, passando a mão pelo cabelo desalinhado. Um gesto tão natural e, ao mesmo tempo, tão sexy, que só pude me sentir uma idiota olhando para ela, minha concha dura estremecendo grotescamente.

Na verdade, a concha estava prestes a rachar. E isso não seria nada bom. Ela perceberia a mudança em meu comportamento e se gabaria de ser responsável por ela.

"Pensei que as rugas da sua testa tivessem sumido de vez" continuou. " Mas não. Olhe aí."

"Pensou errado." Virei um pouco o rosto, tirando a testa do foco de luz. "E não voltamos à estaca zero."

"Não?" Ela sorriu abertamente e a concha se rachou mais um pouco, droga Camila.

"Nem fomos pra primeira estaca ainda." Deu a volta no balcão, parando bem perto de mim.

"Hum, tentador..." E deve ter rachado mais uns dez centímetros da minha concha quando mandou mais essa: "Isso só aumenta minha vontade de subir lá na sua casa e ajeitar o programinha light que providenciei para nós duas."

"Programinha light? Que merda você tem na cabeça" Eu ri nervosamente.

"Não sei quanto a você, mas eu não consegui dormir direito. Ainda tô cansada pra caramba." Para quem ostentava uma tranquilidade budista durante o tiroteio... Para quem afirmava ter vivido a melhor adrenalina de todos os tempos... Para quem comparava a experiência a tocar violão em pubs lotados... Bem, não importava. Seu olhar debochado, cansada ou não, era ardente feito o diabo. "Tive uma noite agitada, sabe? Pesadelos com tiros, sangue... Embora ninguém tenha ficado ferido. Você viu o noticiário? " ela explicou

Azar o seu! CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora