Dezenove

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BOM depois de séculos tenho nem cara pra aparecer aqui

O riso em sua voz... o riso e a zombaria só faziam aumentar minha vontade de desaparecer dali, de ficar invisível Continuei andando, ignorando as lágrimas que agora jorravam livremente pelo meu rosto e pescoço. Embora eu não conseguisse definir o que estava sentindo, eu sabia que era demais. Raiva demais, humilhação demais, vergonha demais, e, mesmo que eu teimasse em negar, alegria demais...

Demais para que eu pudesse suportar. Eu tinha começado a correr quando ela veio atrás de mim e segurou meu braço. E me girou. Quando dei por mim, ela estava me beijando. E dessa vez, longe de parar. Tentei empurrá-la ciente de que aquilo era um erro. Eu ainda chorava, mortificada; o orgulho e a sensatez, ambos violentados. Só que a raiva inibia a minha força e fazia com que o desejo ficasse ainda mais forte. Ela me beijava e ofegava na minha boca, na minha orelha, no meu cabelo. Ela me beijava e descia as mãos pelo meu corpo. Eu sugava a sua boca e o balão em meu estômago me elevava a um céu particular, onde tudo era belo e a vida parecia ter retrocedido dez anos. Então ela desceu mais a mão. Já estava dentro do meu casaco, da minha blusa, da minha outra blusa, da minha calça, da minha...

"Eu disse que quando te beijasse não ia conseguir parar." Foi aí que tremi, gemendo baixinho.

Ela entendeu o gemido como uma rendição. E entendeu certo.Lauren me ergueu do chão com a mesma facilidade com que minhas pernas se fecharam ao redor de sua cintura. Sustentou-me pelas coxas e me levou para debaixo da árvore. No instante seguinte, eu estava deitada de costas na toalha xadrez. Ela puxou a minha calça junto da minha calcinha e daí eu estava nua.

E, quando dei por mim, eu ja tinha tirado toda a roupa dela. Os feixes de sol atravessavam a árvore e queimavam a minha pele. Mas não era só o sol. Era o sol e o fogo do aquecedor. O fogo e a pele dela contra a minha. A pele e a boca explorando o meu corpo. Eu fechava e abria os olhos.

E ouvia nossa respiração e as folhas se agitando lá no alto, e as folhas mortas quebrando embaixo das minhas costas conforme ela se movia sobre mim. Havia o cheiro de mato, de areia. E o cheiro de suor. Ela se movia sobre mim e eu acompanhava o movimento. Ela arrastou minhas mãos para cima da minha cabeça. Apertou meus dedos com muita força para em seguida afrouxá-los... com a outra mão ela fazia movimentos rápidos e fortes Então ela chegou. A explosão aconteceu. E era muito, muito mais do que prazer. Aquilo era explosão de saudade. Era explosão de amor. Não uma única explosão de amor. Muitas explosões. Espaçadas por varias horas, horas inteiras, nem sei...

Quando vinham, me roubavam a noção do tempo, entre espasmos de delírio; eu poderia ser engolida pela areia ao redor e sequer perceber. No instante seguinte, eu chegava a odiá-la por ter me privado de tanta beleza durante dez anos. Eu não sentia fome, não sentia sede. Não conseguia erguer meu corpo da toalha, empurrar o corpo dela muito menos. Isto é um erro, eu lembrava a mim mesma nos breves instantes de lucidez. O que estou fazendo? Comprando uma passagem de volta ao inferno?, pensava, mas não era capaz de tomar uma atitude, de lutar pelo que achava certo. O que era certo, afinal? Ela morava em Londres. Eu, em Miami, talvez em outro lugar muito em breve. Se ela estava ali de passagem, eu também estava. Eu tinha sido moralmente traída pela segunda vez em dez anos e finalmente compreendia o significado do peso que sentia em meu peito. Chamava-se mágoa. Ela precisava saber que mágoas não se curam com beijos e carícias. Eu precisava dizer isso a ela. Mas ela me beijava e não me deixava falar... Ela me beijava e fazíamos amor outra vez. Depois da explosão, me envolvia em seus braços e encostava a pele na minha o máximo possível.

Ficávamos ali deitadas, como se fôssemos as duas únicas pessoas do planeta. Eu podia senti-la desde os meus seios nus até os dedinhos dos pés. Sentia seu coração acelerado junto ao meu já desacelerando... Ela espalhava beijos pelo meu rosto, sem pressa, o polegar afastando meus cabelos melados de suor, o peito se expandindo ao inspirar o meu cheiro. Às vezes, fazia isso e sussurrava

Azar o seu! CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora