Dezessete

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Lá longe, a paisagem se abria em ondas infindáveis de montanhas. Ondas e mais ondas de tamanhos desiguais. Ondas verdes, ondas marrons. Dava para ver o horizonte, o mar de morros encontrando o céu azul infinito. À nossa volta, as árvores espaçavam-se mais. A maior parte da vegetação se estendia rasteira, brilhante à luz do sol do meio-dia, até ficar mais rala e se misturar à areia branca, onde o verde desaparecia por completo, transformando- se numa duna.

" Um deserto no meio da mata Bem-vinda ao que um dia foi o fundo do mar." ela explicou. É o que dizem. O trabalho ininterrupto da natureza. Milhões e milhões de anos.

"Lindo " murmurei em voz baixa, mas certa de que ela seria capaz de ouvir.

O silêncio fazia doer os ouvidos. Mesmo com as árvores farfalhando ao vento frio. Mesmo com o canto dos pássaros. Havia grilos também? Mesmo com um sopro mais forte do vento produzindo redemoinhos na areia em torno dos meus calcanhares. Sons que eram uma parte inseparável da paisagem, pensei. Um sistema autossustentável que fazia eu me sentir uma intrusa. Fiquei ali, incapaz de absorver tanta beleza, incapaz de me mover, mesmo quando ele se afastou e começou a preparar o piquenique com jeito de quem dispensava qualquer ajuda.

De dentro do Land Rover empoeirado, foi tirando a parafernália até então irrevelada para mim. A imensa toalha xadrez, ela abriu na grama, à sombra de uma árvore retorcida e troncuda. Acendeu num pequeno aquecedor a gás, jogou três cobertores ao lado de uma cesta de palha, que abasteceu com as nossas compras. Por fim, deixou o violão ao alcance e fez um sinalzinho para que eu me aproximasse. Eu me aproximei. O que mais poderia fazer? As pequenas chamas tremulavam com estalos. Senti o calor se expandindo. Então arregacei as mangas até os cotovelos, tirei os tênis e me sentei na toalha, de frente para ela. Abracei os joelhos e esperei.

"Longe demais." Ela me puxou pela cintura, arrastando-me pela toalha. Flexionou as pernas e me prendeu no meio delas. Ficamos ali sentados como aqueles casais na grama do campus da universidade, os mesmos que costumavam me irritar com tanta paixão e paparicos jogados na minha cara.

"Quer que eu enrole a erva ou prefere enrolar sozinha?" Fez-se silêncio por cinco segundos. Então ela soltou uma gargalhada estrondosa. "É brincadeira, camilaa!" Sacudiu-me pelos joelhos.

"boba insensível..." murmurei, gelada.

"Você tinha que ver a sua cara."

"É sério" reclamei. "Por que você gosta tanto de me provocar?"

"Sabe que eu não sei." Ficou me cutucando." O que você acha? Sou muito irritante?"

"E ainda tem a cara de pau de perguntar. Você chega a ser mais irritante que a Lauren... Ah, esquece."

"Mas agora fiquei curiosa. O que você faria se eu..." Apertou os dedos junto aos lábios, insinuando uma tragada profunda. "...puxasse um baseado, aqui, agora?"

"Eu também puxaria um." Mais gargalhadas. Dessa vez, com a cabeça para trás.

"Qual é a graça?" perguntei.

"Que mentirosa!" Ela ainda ria. "Você é puritana, essa é que é a verdade. Parece até uma velha amiga minha."

"Está me chamando de careta, é isso? Pois fique sabendo que não me importo de ser careta. Mas, se eu estivesse a fim de fumar um baseado aqui, agora, eu fumaria sem problema algum."

"Mentirosa!" repetiu, me sacudindo pelos joelhos outra vez. "Você não tem vergonha, não?"

"É só que..." Dei de ombros. "Nunca estive realmente a fim. Só isso."

"Você é incrível, Camila."

"Obrigada." falei meio sem jeito,ela tinha esse dom de me deixar sem jeito"Sabe, essa minha amiga dizia a mesma coisa, que era careta e não se importava. Até que vocês formariam uma bela dupla."

Azar o seu! CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora