Capítulo 18

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Miguel

Há dias, meus pensamentos se resumem a uma única palavra: Traição. Pensando bem, não são só os meus pensamentos, mas também a minha vida. Eu cresci em um ambiente traiçoeiro. Meu pai sempre traiu a minha mãe e nem fez questão de esconder, pelo contrário, por diversas vezes jogou isso na cara dela, eu até tentava entender mas era só um garoto que não sabia nada da vida, mas de uma coisa eu sabia, aquilo não era normal. Aos poucos, não sei como, eles conseguiram se entender, ou melhor, hoje, disfarçam melhor mas isso não quer dizer que meu pai não se encontre com outras mulheres. Diferentemente da maioria dos garotos, eu sempre quis ser diferente do meu pai, nunca o enxerguei como um herói e sim, como um homem que se aproveitou da minha mãe e como na época, prezavam pelo casamento, ele teve que permanecer com ela. Maurício, meu irmão, não presenciou tudo como eu, ele nasceu na "parte boa", a parte que meus pais resolviam seus problemas sozinhos e não na frente dos filhos, eu até acho melhor assim, Maurício tem tudo para ser diferente do meu pai, como eu um dia quis ser mas não consegui. Eu me tornei um traidor. Traí a garota que eu achava que eu amava, traí o meu melhor amigo e depois de conseguir arrancar a namorada dele, traí ela também. Eu não a culpo por ter se envolvido com o Gabriel, eu bem que mereci mas confesso que a decepção é enorme. Desde que a vi, senti algo diferente, ela parecia ser aquela luz no fim do túnel, sempre demonstrou ser uma pessoa equilibrada por mais que os problemas sempre estejam em alta, passou por tanta coisa e descobri tudo, tudo mesmo, sobre a vida dela, admirei-a por isso e por muito mais, pela força que ela aparentava ter, não achei que ela fosse cometer algo assim, não que ela não possa errar mas ela sempre passou uma impressão de que era fiel demais. Eu me enganei ou talvez, eu tenha corrompido-a.

— No que está pensando? — Fernanda indagou e se sentou ao meu lado, eu não queria a companhia dela, não mais. Observei-a por completo, ela havia mudado completamente, não dava nem para comparar com a Fernanda que havia chegado aqui há alguns anos. — O que foi? Tem algo de errado comigo? — questionou, erguendo uma sobrancelha e pegando o celular, usando o visor como espelho.

— Me desculpa? — pedi e Fernanda arregalou os olhos mas logo se recuperou, erguendo uma sobrancelha como se questionasse o porquê do meu pedido. — Você não é mais a mesma Fernanda e tenho a minha parcela de culpa por você ser o que é agora, eu traí a sua confiança, não deveria ter mentido quando você estava com o Eduardo, se eu não tivesse feito o que eu fiz, talvez nós dois fôssemos pessoas melhores agora. — afirmei e ela riu.

— O que houve com você, hein? Por que está falando tantas besteiras? Estamos ótimos, amadurecemos. — disse e piscou.

— Se isso é amadurecer, eu preferiria ficar imaturo eternamente. — declarei e ela fechou a cara.

— Não está em um bom dia, não é? Pra estar falando tanta merda. — debochou enquanto revirava os olhos.

— Talvez seja você que não aguente ouvir a verdade, com licença. — pedi e me retirei. A minha parte eu fiz, agora se ela quer continuar regredindo não é minha culpa. Não mais.

Meu celular vibrou, o visor anunciava uma ligação do meu pai.

— Fala aí, tô saindo da faculdade agora. — avisei de imediato, já que ele só me liga quando precisa de mim ao seu dispor.

— Meu assistente faltou hoje, preciso que leve alguns documentos até a sede. — afirmou e logo, desligou.

Meu pai sempre foi assim: rude e direto. Às vezes, agradeço por isso, não aguentaria mais hipocrisia da parte dele.

Passei rapidamente na empresa, peguei os documentos e fui direto para a sede. Fui à procura do Sr. André, sua secretária avisou que ele não estava mas que eu poderia falar com o filho dele, ou seja, teria que falar com o Eduardo. Bati na porta com certeza timidez, eu não tinha nem coragem de olhá-lo nos olhos.

A Escolha Certa 2Onde histórias criam vida. Descubra agora