Capítulo 28

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Marina

Poderia existir um botão de stop para que em determinado momento, pudéssemos ficar ali, sem ter que fazer nada, apenas curtindo o momento sem estresse nenhum, recuperando a paz interior para que finalmente, pudéssemos voltar para a realidade e fazer o que está predestinado, seria bom demais mas convenhamos que a realidade nunca colabora. E é por esse motivo que ainda me obrigo a levantar todos os dias. Mas naquele momento, abrir os olhos e encarar aquelas duas criaturas adoráveis que me lançavam olhares curiosos e ansiosos era demais para mim.  Eu não sabia como reagir. Não mais.
— O que estão fazendo aqui? — indaguei sem humor nenhum, enquanto me sentava na cama.
— Qualquer um estaria feliz de ganhar dois irmãos, principalmente, dois irmãos lindos assim. — Gabriel disse com arrogância, provavelmente decepcionado com a minha reação.
Apenas o encarei e balancei a cabeça negativamente.
— Vocês já sabiam, não é mesmo? — indaguei e eles se entreolharam. — Se vocês também mentirem para mim, vão perder a amiga que tinham e a irmã que acabaram de ganhar. — ameacei.
— Sim, já sabíamos. — Fernando disse e Gabriel fechou a cara.
— Foi por isso que você havia se afastado de mim? — indaguei para Gabriel, lembrando de quando quase pirei sentindo sua falta.
— Não exatamente. — Gabriel respondeu constrangido.
— Seria tão ruim ser meu irmão? Demorou muito para você voltar a falar comigo e ainda quer que eu aceite com rapidez? Só você pode ficar confuso, Gabriel? — indaguei com mágoa na voz, me levantei e fiquei parada na frente dele, ansiando por uma resposta decente.
— É claro que você pode ficar confusa, eu só achei que dessa parte você iria gostar, entende? — indagou, segurando meus ombros firmemente.
— E por que não foi assim com você? Por que você se afastou? — indaguei sentindo meu rosto queimar e as lágrimas deslizarem com facilidade.
— Porque eu estava gostando de você! — exclamou com brutalidade e se afastou. — Droga! Você foi a única garota que me olhou como se eu realmente fosse alguém bom, a única que sempre esteve do meu lado, que nunca me julgou e sempre fez questão de mim, era quase impossível eu não gostar de você de outra forma, passei dias criando coragem para te contar mesmo sabendo que eu levaria um não por você ser loucamente apaixonada pelo Eduardo, um não por isso era aceitável mas um não por você ser minha irmã já era demais, o pior é saber que meu pai sabia que eu estava interessado em você e só me contou que somos irmãos quando eu já estava envolvido demais, você tem noção de como eu fiquei? A bagunça na minha mente e o nojo por sentir algo assim pela minha própria irmã? Eu precisava me afastar, você me entende? Eu precisava de algum modo, ressuscitar o amigo que eu era e demorou, mas eu consegui, estou aqui como um irmão, na tua cola sempre e torcendo pelo teu bem, sem nenhuma outra intenção, como no início de tudo e não só eu, mas o Fernando também. — disse com arrependimento na voz e minha única reação foi abraçá-lo.
Eu não sabia de nada disso, nunca havia imaginado algo assim e me senti culpada por não ter percebido. Às vezes, estamos tão focados em nossos problemas que esquecemos que as pessoas que estão ao nosso redor também têm problemas e também precisam de compreensão. Elas deixam de lado seus problemas para nos ajudarem e o mínimo que podemos fazer é valorizar o quão maravilhosas elas são e também ajudá-las. Uma mão leva a outra, não é o que dizem?
— Você é incrível e pode ter certeza, que não sou a única a saber disso. — afirmei enquanto o apertava em meus braços.
Fiz sinal para que Fernando se aproximasse e demos um abraço triplo, fui praticamente esmagada no meio de dois gigantes mas foi um dos melhores abraços que eu já havia recebido. A ligação que tínhamos não era comum, só podia ser de irmandade.
Passei a manhã toda descobrindo como era bom ter mais de um irmão. Eu estava sendo mimada em dobro, me sentia tão importante mas toda vez que os meninos falavam do "nosso pai", eu me sentia muito desconfortável.
— Desculpa mas ele continua sendo pai só de vocês, eu não o considero assim e provavelmente não irei considerar. — falei de supetão e ambos me olharam surpresos.
— Ele admira muito você. — Gabriel disse.
— O problema é dele, deveria valorizar mais você já que fez questão de estar com vocês desde o nascimento e não, uma completa estranha. — afirmei com um misto de raiva e mágoa. Gabriel e Fernando novamente se entreolharam por alguns segundos.
— Então...— Fernando disse logo depois com um brilho diferente no olhar.
— Pode dizer o que quer. — afirmei rindo, mas já suspeitando do que seria.
— Eu não sei como dizer. — contou, segurando o queixo e fazendo careta.
— Ele quer ajuda para pedir a Júlia em namoro. — Gabriel disse com rapidez enquanto revirava os olhos.
— Gabriel! — Fernando o repreendeu, dando um soco em seu braço.
— Viado. — Gabriel sussurrou enquanto passava sua mão suavemente pelo local atingido. Vê-los brigando me fez rir, já conseguia me sentir em família.
— Relaxa, eu já suspeitava. — pisquei e Fernando sorriu meio desconcertado.
Planejamos tudo o que faríamos, o "sim" já tínhamos em mente que sairia mas Fernando queria algo especial, o que me inspirou, me dava orgulho saber que ele tinha um lado tão romântico, lado esse que aparentemente, Gabriel não tinha.
— E você. — cutuquei Gabriel. — Quando vai atrás de uma namorada? — indaguei curiosa e fui retribuída com um olhar de reprovação.
— Você me decepciona. — Gabriel balançou a cabeça negativamente. — Onde já se viu fazer uma pergunta dessa para um cara solteiro? — indagou inconformado.
— Nunca vai assumir um compromisso? É isso? — revirei meus olhos.
— Olha, eu não estou solteiro, eu sou solteiro. — ergueu uma sobrancelha e deu um sorriso torto como aqueles caras que não prestam mas que ainda sim, toda mulher acaba se derretendo.
— Meu Deus, Gabriel! Até quando? — ergui uma sobrancelha e lancei o olhar mais sério que eu conseguia.
— Minha melhor versão é a versão solteiro, acredite. — afirmou e quando fui contestar, ele fez que não com o dedo. — Não se discute com o mestre. — disse com sarcasmo e eu não consegui segurar a risada. Tinha em mente que quando Gabriel se apaixonasse, seria mais meloso que eu e Fernando juntos.
— E o Eduardo? — Fernando indagou e ao ouvir aquele nome, automaticamente, o procurei pelo local mas para minha infelicidade, ele não estava ali. Apenas dei de ombros e Fernando me encarou, Gabriel fez o mesmo logo em seguida.

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