Capítulo 29

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Marina
O local estava mais para um formigueiro de tão lotado que se encontrava. Reconheci algumas pessoas, que apenas cumprimentei de longe. O show ainda não havia começado, mas isso não impediu que alguns já começassem a beber e curtir sua sofrência. Eu só queria sair daquela multidão, foi então que agradeci a Deus quando Henrique me segurou pelo pulso, me guiando até o camarote, onde havia pouquíssimas pessoas. Dava para ver o palco perfeitamente, holofotes focavam uma dupla sertaneja desconhecida que fazia a abertura. Meu sangue fervia, sentia o nervosismo me dominar dos pés à cabeça. Estava segurando vela para Henrique, Laura, Fernando e Júlia, até que o Gabriel chegou e eu grudei nele, não queria continuar segurando vela para eles, não que eles fossem o tipo de casal chato que deixa os amigos de lado, mas eu estava ficando mal com ambos discutindo. Henrique discutia com Laura por conta da bebida, já que ela ainda amamentava. Já, Fernando e Júlia discutiam porque ela já havia tomado todas e ficava acenando para os caras que estavam na pista, confesso que era engraçado mas logicamente, Fernando não achava o mesmo. Era bom ter o Gabriel ali, mas ainda era estranho saber que ele era meu irmão. Sangue do meu sangue. Eu não estava reclamando, pelo contrário, estava amando tê-lo por perto. Nem todo mundo tem a sorte de ter um irmão melhor amigo. Não que Murilo não fosse, mas é tão diferente... Primeiro eu fui amiga, depois irmã do Gabriel, já com Murilo, sempre fui irmã e com o tempo nos tornamos amigos, ou seja, não compartilhava tudo com ele como compartilho com Gabriel.
— Obrigada por estar aqui. — agradeci e o apertei em meus braços.
— Só vim por você mesmo, não curto muito esses caras. — deu de ombros e eu sorri.
— Edu também não curtia...— contei e lembranças vieram à tona.
— Por que vocês não se resolvem de uma vez? Basta uma conversa, parem com esse orgulho idiota. — aconselhou-me e eu sorri fraco.
— Não tivemos oportunidade. — fiz bico.
— Agora é uma oportunidade. — disse sorrindo.
Não entendi o que ele havia dito, mas quando fui questionar dei de cara com o Eduardo adentrando o camarote com Murilo e Gabriela. Eduardo cumprimentava a todos, mas parecia estar procurando alguém. Quando nossos olhos se encontraram, meu coração foi a mil e eu senti que era eu quem ele estava procurando. Sorri e ele se aproximou rapidamente mas sem jeito, naquele momento, era como se fosse só nós dois. Uma magia única nos unia. Uma magia chamada amor.
— Oi. — falei enquanto o abraçava e sentia seu perfume, que por sinal, era a minha perdição.
— E aí, marrenta. — disse sorrindo e ofegando no meu pescoço, fazendo com que todo meu corpo reconhecesse seu toque e automaticamente, arrepiasse. Senti suas mãos deslizarem nas minhas costas, fazendo carinho e que saudade de sentir aquele toque.
— Já desestressou? — brinquei e me afastei um pouco para olhá-lo.
— Eu não sou o estressado aqui, garanto. — piscou e logo depois, olhou para o Gabriel. — Foi mal, não sabia que estava acompanhada. — sorriu sem graça e se afastou bruscamente.
— E não estou. — afirmei estranhando sua reação.
Não obtive sua resposta, Eduardo apenas se afastou e ao chegar perto de Gabriela, a mesma já passou uma dose para ele, provavelmente de whisky. Revirei meus olhos e os direcionei para o palco novamente. A abertura parecia não ter fim. Decidi ir ao banheiro mas no corredor, senti alguém esbarrar em mim.
— Podia pelo menos pedir desculpas. — reclamei, enquanto ajeitava a minha roupa.
— Eu estou decepcionado. — reconheci aquela voz de imediato em meu ouvido. Eduardo.
— Por que? — indaguei sem entender e ele me puxou para os fundos do local, onde pudéssemos conversar sem ter que gritar.
— O meu sentimento não mudou em momento algum, sempre foi você na minha vida, mesmo com tantos erros e tropeços, eu sempre voltei em sua direção mas você nunca esteve à minha espera, primeiro o Miguel e agora, o Gabriel. Só me responde uma coisa, chegou a ser amor comigo? — indagou com angústia mas naquele momento, só consegui sentir raiva.
— Como você tem coragem de me fazer uma pergunta dessas, Eduardo? Eu não só te amei como eu te amo, talvez até mais do que antes. Ok que eu tentei seguir com o Miguel mas não deu certo, porém, eu nunca ficaria com o Gabriel, nem se eu quisesse. — tentei explicar.
— Então, você quer? — ergueu a sobrancelha.
— Eu desisto de você. — afirmei com raiva.
— Não vai ser a primeira vez. — retrucou.
— Me esquece. — pedi e sai dali, mas logo senti sua mão em meu pulso. — Me larga agora. — exigi mas ele permaneceu segurando.
Enquanto eu tentava voltar para o camarote e ignorar o Eduardo, os caras da pista que foram paquerados por Júlia vieram me cercar.
— Com licença. — pedi.
— Cadê a sua amiga? — um deles perguntou.
— Ela é comprometida. — afirmei com nojo do bafo de pinga.
— E você, está sozinha? — indagou e eu virei a cara, com raiva.
— Não está vendo que ela está acompanhada? — Eduardo indagou visivelmente irritado.
— Não. — outro deles respondeu com deboche.
— Eu mostro então. — Eduardo afirmou, indo em direção aos quatro caras. Apertei seu braço fortemente e balancei a cabeça negativamente, mas já era tarde, Eduardo já havia dado um soco em cada um dos caras e havia recebido dois socos de volta. Respirei fundo e entrei no meio. Os quatro se afastaram por minha causa e eu arrastei Eduardo até o camarote.
— Qual é o seu problema? — indaguei irritada, tocando seu rosto, me certificando que estava tudo bem.
— Qual é o problema deles, né, eu só te defendi. — deu de ombros.
— Mas não era necessário agir dessa forma. — afirmei estressada. Não por ele ter me defendido, mas por conta da sua bochecha esquerda que estava num tom de vermelho vivo.
— Ah, claro, quem deveria te defender é o Gabriel. — debochou.
— Vai pro inferno! — afirmei irritada e o deixei, adentrando o camarote logo depois. Fiquei sozinha em um canto que dava pra ver o palco perfeitamente. Naquele momento, o camarote já havia mais pessoas, mas ainda não se comparava com a pista que estava lotada. Vi o cara que cantava a minha vida adentrar o palco e senti meu sangue pulsar, gritei igual uma louca. Essa noite ainda tinha muito o que rolar. Logo após algumas palavras, Jorge começou com uma música antiga mas que remexeu com todo o meu ser, inclusive com o ser da criatura que veio para o meu lado e me abraçou por trás com força.
— Se eu pedir, cê volta pro meu coração? Pelo amor de Deus, não me diga não...— Eduardo cantou no meu ouvido e minha única reação foi derramar uma lágrima.— Vem que tá na hora, tá aberta a porta pra você entrar...— continuou e eu me virei, ficando frente à frente com aquele ser dos olhos mais incríveis do mundo. Do meu mundo.
— O que aconteceu com aquela história de que eu estou com o Gabriel? — indaguei segundos depois e Eduardo sorriu constrangido.
— Não tenho culpa de ser o último a saber que ganhei dois cunhados, como se já não bastasse um. — ironizou e nós rimos, nos abraçamos logo em seguida.
Jorge começou a cantar uma música de um cantor que estava se destacando nos últimos tempos e que havia feito uma participação na música. Era incrível como cada palavra cantada mexia comigo e com o Eduardo.
"E vai chegando perto de mim e quando faltar um centímetro, fecha os olhos e deixa rolar, deixa, deixa o beijo durar..."
— Vamos deixar rolar? — Eduardo indagou no meu ouvido. Apenas me virei pra ele e o encarei.
— Eu te amo. — afirmei e ele sorriu.
— Eu também te amo. — sussurrou no meu ouvido.
Nossos lábios se uniram e nossos corações se reconectaram naquele momento. A música de fundo agora era "Mil Anos". Estava sendo mais perfeito do que eu poderia imaginar. Quando o destino quer, ele realmente nos surpreende e da melhor forma.
— VOLTARAM? — Laura gritou. — ELES VOLTARAM, MEU CASAL VOLTOU! — gritou novamente enquanto ria.
Logo, todos estavam ao nosso redor, nos abraçando e nos desejando felicidade, olhei pro Eduardo e ele estava tão confuso quanto eu.
— Em que momento comunicamos vocês que voltamos? — ergui uma sobrancelha e eles se entreolharam, sem acreditar.
— E esse beijo foi o que? — Murilo indagou confuso.
— Um beijo? — sugeri óbvia.
— O que você acha disso, Edu? — Gabriela indagou o encarando.
— Acho que depois de tanto tempo vivendo em conflito, devemos ir com calma, nunca precisamos de rótulos e dessa vez, não será diferente. — respondeu com seriedade mas logo me olhou e piscou.
Nunca precisamos de rótulos, mas eu sabia que o Eduardo já tinha algo em mente, ele gostava de surpreender e isso era só um dos detalhes que fazia ele ser o homem da minha vida.

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