Capítulo 33

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Fazia três noites que eu não dormia, me forçava a comer apenas para manter minhas forças e poder cuidar de Luckmann. A bala estava alojada perto do coração e devido a grande quantidade de sangue perdida, a cirurgia não poderia ser realizada ainda. Gabriel era o único que tinha o sangue compatível e estava se preparando.
— Ele vai ficar bem, né?
— Se Deus quiser. — Gabriel respondeu antes de entrar no laboratório, onde seu sangue seria coletado.
A esposa de Luckmann chegou minutos depois, nos abraçamos e choramos silenciosamente, éramos as únicas que demonstravam vulnerabilidade. Fernando e Gabriel não demonstravam nada, havia uma expressão de seriedade predominando o rosto deles, mas eu os conhecia, estavam apenas tentando mascarar tudo e aparentemente, estavam conseguindo. Me aproximei de Fernando que estava em pé perto da janela, com um olhar vazio que chegava a dar medo, assim que sentiu minha aproximação, se afastou bruscamente e eu o olhei sem entender.
— Aconteceu algo? — toquei seu ombro e ele desviou rapidamente.
— Não basta você ser a culpada de tudo? Estavam atrás de você, não dele. — afirmou rudemente, me fazendo dar um passo para trás, sem reação. — É melhor você ir embora, não é mais bem vinda.
— Mas ele é meu pai! — retruquei.
— Você o odiava a pouco tempo, não finja se importar.
Fabiana, esposa de Luckmann fez sinal para que eu me retirasse, sussurrou que era o melhor naquele momento, mas não era justo. Era eu quem vinha cuidando dele e agora, simplesmente, estava sendo expulsa como se fosse uma qualquer. Eu tinha certeza que Gabriel não concordaria com isso, assim que eu ia me retirar, Gabriel apareceu, aparentava estar meio fraco, estava sentado em uma cadeira de rodas conduzida por uma enfermeira que afirmou que ele precisava repousar. Achei melhor ir embora, pelo menos por enquanto. Liguei para Eduardo, que logo apareceu e me abraçou forte.
— Me conta o que houve. — Eduardo pediu, enquanto acariciava meu rosto.
— Como sabe que aconteceu algo? — indaguei confusa, já que apenas pedi que ele viesse me buscar.
— Além da sua cara não negar, faz três dias que eu luto para você sair daqui e do nada, você me liga querendo ir embora? Não faz sentido nenhum. — disse me abraçando de lado e me conduzindo ao estacionamento.
— O Fernando...— sussurrei e as lágrimas vieram à tona, nunca poderia esperar isso dele.
— O que houve com ele? — franziu a testa.
— Me expulsou daqui, disse que eu sou a culpada por tudo. — desabafei e o abracei de imediato.
— Ele fez o que? Eu vou quebrar a cara dele! — disse com fúria, me soltando e voltando ao hospital, o segurei o mais forte que pude e ele me olhou.
— Não, Edu, não faz isso, deixa ele lá, amanhã eu dou um jeito de vir. — afirmei e ele ficou parado me olhando por alguns segundos. — Vem Edu, não vale a pena. — o puxei de volta e fomos em direção ao carro.
Passei o dia ignorando meu celular, as chamadas pareciam não ter fim, nem colocar no silencioso estava funcionando, então o desliguei e deixei de lado. Eduardo tirou uma folga da empresa para passar o dia comigo, estávamos deitados na cama dele enquanto ele me fazia cafuné e eu permanecia agarrada nele, sentia que havia perdido tudo, exceto ele. Eduardo não era só o amor da minha vida, era também o meu parceiro de todas as horas e isso só me fazia amá-lo ainda mais.
— Está melhor? — Eduardo indagou e depositou um beijo na minha testa.
— Só de estar com você, eu fico bem mas saber que Luckmann está mal por minha causa, me sinto destruída. — confessei e abaixei a cabeça, apoiando-a em seu peitoral.
— Meu amor, eu não acredito que você está realmente levando em conta o que o Fernando disse, ele está mal e descontou em você, o que é babaquice, mas não quer dizer que é realmente culpa sua, você não tem culpa desse cara escroto não parar de te perseguir, ele tem problemas mentais e da mesma forma que foi com Luckmann, poderia ter sido comigo ou você acha que alguém que te ama simplesmente ficaria observando esses dois canalhas te fazerem mal?
— Tá vendo, é exatamente disso que eu estou falando, todo mundo que eu amo corre perigo estando perto de mim.
— Marina, você sabe que não foi isso que eu quis dizer.
— Mas é o que está realmente acontecendo.
— Não é, a polícia vai pegar esses dois e aí, nem você e nem ninguém correrá riscos, entendeu? Agora fica tranquila, seu pai vai ficar bem. — afirmou me apertando em seus braços.
O restante do dia, só me condenei em pensamento. Eu sabia que a culpa era minha. Fernando tinha razão, mas eu não iria me afastar de Luckmann por conta disso, eu o amava e sentia a necessidade de estar por perto. O único momento que consegui realmente me distrair foi quando passei um tempo com Geovane, era incrível ter um ser tão pequeno em mãos, não que ele não tivesse crescido, mas ainda era um bebê e bem gordinho, daqueles que dá vontade de morder o tempo inteiro. Notei que Eduardo nos observava enquanto conversava com Diana. Assim que Geovane dormiu em meus braços, fiz sinal para que Eduardo avisasse Diana, mas ele fez o contrário, se aproximou de mim e me beijou.
— Te ver tendo tanto amor com uma criança só aumenta a minha vontade de ter o nosso bebê. — disse sorrindo e eu o olhei espantada.
— Amor, não estou preparada. — afirmei assustada e ele riu.
— Minha mãe disse que ninguém nunca está, até ter um. — deu de ombros e aí foi a minha vez de rir.
— Mais pra frente, teremos o nosso. — o beijei e fui de encontro a Diana, que pegou o pequeno dos meus braços.
Érick resolveu que naquela noite, todos jantaríamos no apartamento dele, pois ele estava feliz que havia aprendido a cozinhar e tinha uma pessoa para nos apresentar. Estava na cara que se tratava de uma nova namorada, o brilho nos olhos dele não negava. Demorei um pouco para decidir se ia ou não, pois não estava me sentindo confortável, mas se já era difícil dizer não para um Milano, quem dirá para dois.
— Voltamos cedo, combinado? — Eduardo sussurrou no meu ouvido e eu assenti com a cabeça.

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