A cada 2 minutos eu limpava as gotas de suor que teimavam em escorrer entre os fios de cabelo da minha testa. Eu olhava pra um ponto fixo enquanto me mantinha imóvel e perdido nas palavras que aquele cara estava dizendo.
- Já que vocês se comprometeram com a felicidade um do outro, o desejo estará criando novas e profundas raízes...
Meu estômago continuava revirando e o gosto amargo que subia pela minha garganta denunciava que eu estava prestes a vomitar de novo a qualquer momento. Aquele cara não ia parar de falar nunca?
- Muitas pessoas passam pela vida e não encontram seu grande amor. Aqui perante a mim, no entanto, tenho a plena certeza de estar dando a benção a duas pessoas que foram feitas uma para a outra...
Plena certeza? Sério?
- Hoje é um dia agraciado e cheio de bênçãos...
Enfio dois dedos na gola da minha camisa social e tento afrouxar aquela gravata que estava me sufocando. Faço uma careta sem graça e impaciente. Não poderia existir outra forma de tortura pior do que aquela. Engomado, de pé a mais ou menos meia hora, com uns 300 par de olhos concentrados nas minhas costas. A corda estava formando um laço no meu pescoço a cada palavra dita, até que...
- Tigrão? Responde... é a sua vez – a garota me encarava com olhos cheios de expectativa, se balançando nos pés sem parar.
- Minha vez? – franzo o cenho e engulo em seco.
- Sua vez – ergue as sobrancelhas, fazendo um gesto com a cabeça e indicando o cara a minha frente.
Então ele repete a pergunta:
- Você aceita Julia como sua legítima esposa?
Puta que pariu! Era a hora.
- Ééé... – começo, tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa que pudesse me tirar dessa. Mas era tarde demais – Tá legal... beleza... sim... aceito.
Falo sem jeito, balançando a cabeça positivamente e a pendendo pro lado logo em seguida. Passo a mão pela minha testa molhada, sem me importar se ia bagunçar o cabelo ou não. Ao meu lado Julia dava leves pulinhos discretos e balançava o buque entre as mãos. Agora parecia eufórica.
- Eu vos declaro Marido e Mulher.
Mal terminou a frase e eu sinto bracinhos jogados sobre meu ombro e o choque de seus lábios quentes contra os meus gelados. O impacto me pega de surpresa e me faz inclinar pra trás, fugindo não tão discretamente assim daquele contato. Não foi nada mais que um selinho demorado, mas ainda assim era muito pra mim.
Rapidamente Julia entrelaça o braço no meu e juntos desfilamos entre as fileiras de convidados, enquanto ela acenava para todo mundo.
Eu não tinha ideia de quem era metade daquelas pessoas, na verdade não tinha nenhum interesse em saber também. O único pensamento ecoando na minha mente confusa era: como é que eu vim parar aqui?
(...)
Agora eu estava largado na minha cadeira da mesa principal. Gravata desfeita, botões da camisa social branca abertos até o peito, mangas dobradas até os cotovelos. Eu tinha certeza que estava mais pálido do que eu já era, o que significa que eu estava praticamente invisível. O vomito ainda insistindo em coçar minha garganta vez ou outra enquanto eu olhava pra porta do salão involuntariamente. É óbvio que eles não iriam dar as caras. Meus pais não se importavam nem em prestigiar os amigos de longa data só pra não ter que olhar na cara do filho. Como se eu já não soubesse de toda a desaprovação da parte de ambos. Estico minhas pernas por baixo da mesa e coloco as mãos nos bolsos da calça preta de linho, eu não fazia questão nem de sorrir pra quem se aproximava e insistia em parabenizar o noivo. Meu único gesto era balançar a cabeça enquanto pensava "ta, ta... agora, tchau".
VOCÊ ESTÁ LENDO
UnKiss Me (BTS Suga)
Fanfiction[Concluída ✓] Min Yoongi estava perdido antes mesmo de ter que aceitar aquela condição imposta em um momento de desespero. A única coisa que poderia fazer era dizer "sim" ao acordo de casamento e pagar sua dívida calado. O peso de suas escolhas trou...