Desastre Natural Ambulante

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- Ei menininha – chamo assim que ela atende o telefone no segundo toque.

- Oi tigrão – sua voz soa serena do outro lado da linha – está tudo bem?

- Uhum... tudo normal

Alguns segundos em silêncio.

- Estou com saudades... – comento simplesmente.

- Também sinto sua falta – ela suspira com a boca próxima do aparelho.

- Está ocupada hoje?

- Tenho que terminar um projeto de cem páginas.

- Caramba! – arregalo os olhos - Eu já teria me matado.

- É, eu sei. Mas amanhã tenho um tempinho livre.

- Amanhã tenho uma reunião importante e mais uns ajustes em alguns trabalhos.

Comprimo os lábios bagunçando levemente alguns fios do meu cabelo enquanto ouvia sua respiração de completo desapontamento.

- A gente podia passar um tempinho juntos no domingo.

- Você não precisa acordar cedo?

- Nem que seja só um tempinho...

Era do que vivíamos no último mês, um mísero "tempinho" juntos.

- Tudo bem, eu ligo pra você menininha.

- Tigrão?

- Oi – respondo com um meio sorriso que ela não poderia ver.

- Eu te amo.

- Idem...

- Yoongiii... – chama meu nome arrastado como um protesto e me arranca uma risada.

- Eu também te amo Julia.

- Boa noite – responde baixinho, mas dava pra sentir o sorriso em sua voz antes de desligar.

Respiro fundo guardando o celular no bolso da calça e pegando a carteira no porta luvas do carro. Aquela ligação era a dose de coragem que eu precisava. Assim que saio do veículo aciono o alarme enquanto olho pra fachada do restaurante que parecia remotamente movimentado. Deve ser porque nem 10% da população de Seul têm dinheiro pra pagar uma refeição ali. Aliso minha camisa social numa tentativa falha de desamassá-la e sem muita escolha adentro o local.

- O senhor Lee está me esperando – falo sem muita paciência com o recepcionista idiota.

Apesar de me dirigir um olhar azedo ele não precisava perguntar o meu nome, em silêncio e completamente contra a vontade, ele me leva até a uma mesa reservada. A iluminação ali era um pouco mais escassa e amarelada, umas plantas maiores adornavam os cantos deixando tudo mais restrito e pessoal. É, ele não queria mesmo ser visto com o Min marginal. Ao me olhar chegando perto faz um gesto rápido pra que o recepcionista se retire e me aponta a cadeira a sua frente.

- Tomei a liberdade de já pedir o jantar – o pai da Julia anuncia frio.

- Eu não vou ficar para o jantar. Só quero saber o que o senhor precisa falar comigo.

- Facilita então – entorta levemente os lábios antes de deslizar um envelope fechado sobre a mesa – Creio que você já sabe o estrago que fizeram levando a público nosso acordo – dei de ombros como resposta, esperando que continuasse – Esperei pacientemente que os boatos se dissipassem e que vocês dois desistissem dessa ideia idiota de "relacionamento de verdade". Tenho avisado a Julia todos os dias que não gosto nada dessa historia, mas já que estou sendo ignorado resolvi te fazer uma outra proposta.

UnKiss Me (BTS Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora