XI Missie

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-Agora está bom?

Se Tâmara estivesse por perto, teria gritado que não. A princesa da terra não suportava ver os cidadãos de Érestha vestindo roupas normais para o aniversário da futura rainha e comemoração de um novo ano. A verdade era que Missie também não. Era o único dia no ano em que todos deveriam sentir-se da realeza, arrumar os cabelos, fazer as unhas, comprar roupas novas ou vestir as mais elegantes... Um cropped, um cardigã e uma saia justa que Bia mal conseguia ajustar nas pernas não eram roupas para tamanha ocasião. Além de tudo, o cardigã estava do avesso, mas Missie não queria falar nada. Se ela dissesse isso tudo para Bia, acabaria com um tapa no rosto, então apenas deu de ombros. Não poderia negar, porém, que Bia estava muito bonita, e que a roupa a favorecia muito bem.

-Claro, Bia, está ótimo.

-Você disse isso revirando os olhos. Então tem alguma coisa de errado!

Missie ajeitou-se na borda da fonte preguiçosa dos jardins de Elói e bufou. O chão de pedra pintado de vermelho como lava e com desenhos de cubos de gelo flutuando sempre a fazia sorrir. Bia já havia demorado meia hora para decidir como queria que a maldita presilha se encaixasse em seus cabelos. Ela nunca se preocupava com esse tipo de coisa, mas Missie suspeitava que isso tinha alguma coisa a ver com Fellows. Ela não aguentaria mais nem cinco minutos da voz de Bia reclamando e ainda faltavam três horas para o início da cerimônea. Ela estava aguardando que Elói aparecesse para conversar. Bia havia cumprido com a promessa. Conversado com seu príncipe e somente com ele. Agora bastava saber o que ele tinha a dizer. Tamires estava ocupada de mais se arrumando para ter esse encontro, então Missie o faria por ela. Era sempre divertido conversar com Elói. O príncipe nunca estava de mau humor e sempre fazia as melhores piadas espontâneas.

-Ei! –As duas levantaram o olhar para a entrada do jardim. Dave Fellows adentrou o local com um semblante levemente preocupado. –Alguma de vocês viu as botas de coruja de Thaila?

Missie e Bia começaram a rir ao mesmo tempo. Ele não entendeu de primeira, achou que estavam rindo da pergunta e começou a se defender. Mas a realidade é que o nó de sua gravata estava muito mal feito e parecia que ele não penteava os cabelos ha semanas.

-Você tem sorte de não ter cruzado com Tâmara ou ela teria te jogado da varanda -Missie ainda ria.

-Eu não sei dar nó em gravatas –ele desfez o que havia tentado, frustrado. –Já desisti de tentar.

-Você é inútil, Dave Fellows –Bia tomou a gravata da mão dele e ajudou-o a fazer o nó perfeito. Ela provavelmente fazia muito isso para Elói. Tentou dar explicações passo a passo, mas Dave apenas franziu as sobrancelhas.

-Eu nunca vou me lembrar disso.

-Poderia ao menos lembrar-se de arrumar os cabelos –Missie sugeriu, encarando-o.

-O que tem eles? -Dave passou a mão pelos cabelos pretos e deu de ombros.

-Parece que você simplesmente acordou e veio pra cá –Bia começou a mexer na cabeça dele, ajeitando as mechas de uma maneira mais aceitável. –Precisa cortar isso com urgência.

-Eu gosto do meu cabelo assim –ele deu um passo para trás e bagunçou tudo o que Bia havia conseguido arrumar.

-É só um conselho –ela falou num tom irônico e olhou para Missie, que concordou.

-E por que eu seguiria um conselho seu? –O tom de voz dele não era cruel, mas Bia pareceu verdadeiramente ofendida. Geralmente ela gritaria alguma ofença, reviraria os olhos e daria as costas, mas, ali, ela pareceu encolher-se em seu cardigã cor de creme e deu um passo tímido para trás, encarando o chão por alguns instantes. Não falou nada por longos segundos. Missie até ficou preocupada. Fora o mais perto de lágrimas públicas que ela jamais vira Bia chegar. Mas ela logo arrumou a postura e deu um grande passo a frente, pronta para atacar Dave, quando ele continuou a falar. –Você não segue os meus. Já lhe disse que fica bem de vestido.

Érestha -Castelo de Pedra [LIVRO 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora